O dólar desabou à menor cotação em quase oito meses, em meio às expectativas de aprovação da abertura do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff na comissão especial da Câmara dos Deputados. Ontem, a moeda norte-americana recuou 2,83% e terminou o dia valendo R$ 3,495. A última vez em que a divisa fechou abaixo de R$ 3,50 foi em 21 de agosto do ano passado, quando bateu em R$ 3,396. Também foi a maior queda diária desde 24 de setembro de 2015.
Nem mesmo a intervenção tripla do Banco Central, que fez três leilões de swap reverso (operação equivalente à compra de dólares no mercado futuro), foi capaz de estancar a desvalorização da moeda dos Estados Unidos, que, em apenas duas sessões, acumulou um tombo de 5,39% diante do real. Em abril, o dólar já recuou 2,83%, e, no ano, a perda é de 11,5%.
Na Bolsa de Valores de São Paulo (BM), o efeito do cenário político se esvaiu ao longo do dia. O pregão abriu em alta, mas os ganhos foram desacelerando. No fim da tarde, o Ibovespa, que acompanha a variação das principais alções, rumou para o terreno negativo e fechou com queda de 0,25%, aos 50.165 pontos.
[SAIBAMAIS]Na avaliação do economista-chefe do Banco Safra, Carlos Kawall, o mercado consolidou a ideia de que a votação da comissão seria favorável ao impeachment. ;Teve um movimento lá fora, com o dólar mais fraco e nós pegamos carona. Só que, enquanto as outras moedas se apreciaram entre 0,60% e 0,70% frente à divisa, o real se valorizou quase 3% por conta do quadro político;, avaliou.
Para José Francisco Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, no cenário doméstico, melhorou a percepção de que o impeachment vai avançar. ;Mas o quadro externo ajudou a derrubar o dólar. Esta semana tem reunião do FMI (Fundo Monetário Nacional) e o viés é de que a política monetária não pode apertar lá fora. Possivelmente, a Christine Lagarde (diretora-gerente do FMI) vai falar de política fiscal, ou seja, é um ambiente de dólar fraco;, destacou.
O Banco Central bem que tentou conter a queda da divisa. O câmbio estendeu as perdas depois de um leilão de swap reverso acabar sem nenhum comprador para os contratos de outubro, e com apenas 7,7 mil contratos negociados para julho de um total de 20 mil ofertados. Um novo leilão, não programado, foi convocado, às 11h30, o que fez com que a moeda norte-americana reduzisse a queda, mas o BC só conseguiu colocar 5 mil dos 12,3 mil contratos oferecidos. Minutos antes do fechamento, finalmente a autoridade monetária emplacou todos os contratos, em uma terceira operação.
Conforme João Luiz Mascolo, sócio da SM Futures, o BC tem usado essa estratégia para segurar a cotação em momentos de forte queda. ;Só que o Banco Central faz a proposta, mas não aceita. O mercado testa, para ver até quanto ele aguenta;, destacou. Mascolo assinalou que, apesar da vitória na comissão, o impeachment ainda é incerto, por isso a volatilidade dos negócios. ;Até o governo esperava perder na comissão. A questão é como será no plenário da Câmara e no Senado. Não está claro se há votos suficientes para aprovar o afastamento de Dilma, por isso os investidores estão reticentes;, disse.
No entender de Álvaro Bandeira, economista-chefe do Homebroker Modalmais, a bolsa paulista caiu no vermelho no fim do pregão porque vinha de três dias seguidos de alta. ;Na sexta-feira, subiu 3,67%. Como ainda não tinha nada definido do impeachment até o horário do fechamento, os investidores se ressentiram um pouco. Muitos aproveitaram para alguma realização de lucro, já que vários papéis tiveram ganhos expressivos nos últimos dias;, analisou.
Segundo Bandeira, os mercados no exterior não tiveram nenhuma elevação mais forte. ;As bolsas da Europa ainda estão patinando. Para absorver o ingresso de investidores estrangeiros, a Bovespa precisa chegar a 51,3 mil pontos, ganhando mais consistência. Apesar do viés positivo, ainda vamos na toada de muita volatilidade;, avaliou.
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