Rosana Hessel
postado em 22/04/2016 13:49
Foz do Iguaçu (PR) - Com a economia recuando 3,8%, em 2015, e devendo encolher 3,8% neste ano pelas estimativas mais otimistas como a do Fundo Monetário Internacional (FMI), o Brasil precisará recuperar a confiança e a competitividade para voltar a crescer. E, para isso, o governo precisará parar de usar o câmbio como ferramenta de política monetária. Essa é a avaliação do economista e consultor Paulo Rabello de Castro, que está cotado para assumir o Ministério da Fazenda de um eventual governo do vice-presidente Michel Temer. Castro criticou o uso do câmbio como instrumento para controlar a inflação. ;Valorizar o real é uma medida populista para dizer que chegamos lá, mas a única coisa que estamos consumindo é nosso futuro. A estabilidade cambial deve ser o novo parâmetro para a agenda do futuro do Brasil;, pontuou.
O consultor e coordenador do Movimento Brasil Competitivo defendeu a melhora da competitividade do país como forma de ampliar as exportações e fazer a economia voltar a crescer. ;A mudança, se for para valer, tem que ser uma mudança para um novo patamar de eficiência produtiva no Brasil;, completou Castro durante o 15o Fórum Empresarial do Grupo de Líderes Empresariais (Lide), em Foz do Iguaçu (PR), nesta sexta-feira (22/04).
Para o presidente da Lide Infraestrutura, Roberto Giannetti da Fonseca, é importante melhorar a eficiência da logística brasileira e destravar os projetos que não saíram do papel para atrair investimentos no setor para melhorar a competitividade. ;O preço FOB (Free on Board) da soja é igual em qualquer porto. Mas para chegar até lá, o exportador brasileiro tem um custo de US$ 150 por tonelada. Nos Estados Unidos, é US$ 50 e, na Argentina, US$ 80. É impossível que o país consiga ser competitivo sem melhorar a logística;, emendou.
Segundo Giannetti, outro motivo da falta de competitividade do país é o baixo grau de inserção, de apenas 21,5%. ;O Brasil é um país muito fechado enquanto China e Rússia possuem mais de 50%;, afirmou ele, citando dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) que indicam que se as barreiras tarifárias brasileiras fossem derrubadas, as exportações brasileiras cresceriam 20%. O economista da Lide defendeu a ampliação desse índice, calcado não apenas no câmbio mas em uma mudança na composição do Conselho Monetário Nacional (CMN), com a inclusão de integrantes de outros ministérios, como Mdic e o da Agricultura, para que o debate não seja apenas no controle da inflação, acrescentando a melhora da competitividade do país. ;Uma boa meta seria atingir 25% em 2020. Estaríamos satisfeitos. E, se atingirmos esse objetivo, a gente dobra a meta para 2025;, afirmou.
A baixa competitividade do país no mercado internacional foi destacado pelo presidente global da BRF, Pedro Faria, que destacou que os mercados desenvolvidos são muito exigentes e, portanto, é difícil ganhar espaço no cenário global. A empresa fatura mais de US$ 8 bilhões no mercado internacional e quer construir a maior marca de alimentos no mundo, a Sadia. Segundo Faria, na Tailândia, o custo da mão de obra é um terço do Brasil. ;Isso ajuda a compor os custos da nossa matriz. Nossa estratégia está calcada na globalização que passa a ter acesso aos mercados;, afirmou.
Saídas para a crise
Encontrar soluções para a crise financeira na qual o país está mergulhado é o desejo de mais de 300 empresários e autoridades reunidas em Foz do Iguaçu para o seminário ;Cenários e soluções para a crise econômica;, organizado pelo grupo Lide. O vice-presidente de marketing corporativo da Samsung, Mario Laffitte, lamentou ter que discutir pelo terceiro ano soluções para a crise novamente. ;Como brasileiro e representante de uma indústria global com uma ideia e perspectiva muito positiva. O setor produtivo quer produzir e os consumidores querem consumir. Precisamos virar a página para transformar o mercado mais interessante para todos;, afirmou.
No entender de Giannetti, da Lide, a saída para a crise passa pela ampliação das exportações e pela retomada de investimentos no país. ;Resgatar a confiança do consumidor é fundamental,. senão esse país não vai voltar a crescer;, adicionou. O economista alertou que o país está mergulhando em uma ;espiral recessiva;, com fatores que retroalimentam a crise, provocando uma queda livre na economia. ;Para tirar a economia dessa espiral, temos duas alternativas, uma delas é a exportação de produtos manufaturados, que geram maior renda agregada para a população. A outra são investimentos em atividades produtivas e em projetos de infraestrututura;, destacou. Ele elogiou o Plano Nacional de Exportação, lançado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), em junho de 2015, mas lamentou que, até agora, ;ele não foi totalmente implementado;.
A educação integral como forma de aperfeiçoar o aprendizado dos jovens brasileiros foi um dos temas abordados pelo diretor de articulação e inovação do Instituto Ayrton Senna, Mozart Neves Ramos, no sentido de buscar saída para a crise. O educador alertou que um em cada cinco jovens entre 15 e 17 anos está fora da escola. ;Isso significa que 1,7 milhão estão sem estudar e sem trabalhar, ou seja, em plena ociosidade;, destacou ele, lembrando que a perda para o país com o abandono escolar é de R$ 7,3 bilhões por ano. Além disso, ele alertou que é nessa faixa etária que tem a maior taxa de homicídio no país. ;O principal problema é que as escolas são do século XIX, com professores do século XX para um aluno do século XXI. E esse jovem quer uma educação de qualidade e não qualquer educação;, completou.
As reformas, como a trabalhista, além da melhora no ambiente de negociação entre a empresa privada e os trabalhadores, sem a interferência do Estado, foram defendidas pelo presidente da Riachuelo, Flávio Rocha. ;É preciso uma mudança nesse novo ciclo de transformação, liderado pelo empreendedor, com o fim da quebra de braço sobre o binômio democracia e livre mercado;, afirmou. Rocha citou a Argentina como exemplo do novo fiel da balança eleitoral, onde o atual presidente Mauricio Macri venceu com propostas mais liberais e de livre mercado, reduzindo o intervencionismo do Estado na economia. ;As ideias que dão certo estão órfãs politicamente;, disse ele, acrescentando que ;a época do empresário moita tem que se encerrar;.
A presidente da Microsoft Brasil, Paula Bellizia, ressaltou que a tecnologia pode ser uma grande e forte aliada ;para reduzir custos e elevar a produtividade das empresas brasileiras e, assim, conseguir superar os momentos de crise;. Para ela, educação é o maior caminho para superar a crise. ;A questão do futuro do Brasil começa na educação e, com ela, poderemos tirar o país da crise rapidamente;, afirmou. Paula destacou ainda que, no setor de tecnologia da informação, o desemprego passa longe como no outros segmentos da economia. ;Não há como sair dessa agenda para superar a crise sem melhorar a educação no país. Todo ano, existem 60 mil vagas que permanecem abertas no setor de tecnologia;, explicou. ;Não conheço um programador desempregado;, completou. A executiva acrescentou que é importante estimular o empreendedorismo no país, pois ;as pequenas e médias empresas são responsáveis por 52% do emprego e 27% pelo PIB nacional;. ;Nos últimos três meses visitei mais de 300 startups e estou contagiada pelo espírito empreendedor do país. Tenho visto empresas com ideias absolutamente inovadora que podem mudar o mundo;, avisou.
A repórter viajou a convite do Grupo de Líderes Empresarias (Lide)