Correndo contra o tempo para reverter a crise econômica, o vice-presidente, Michel Temer, já escolheu dois projetos prioritários para serem aprovados pelo Congresso, assim que assumir o Planalto: a flexibilização da meta de superavit primário, proposta pela equipe econômica de Dilma Rousseff; e a desvinculação de recursos da educação e saúde. Para a equipe de Temer, essas propostas reequilibrariam fiscalmente o país sem a necessidade de aumento de impostos.
A retomada do crescimento não viria apenas desses projetos. Em paralelo, o atual presidente da Fundação Ulysses Guimarães, Wellington Moreira Franco, tentará destravar as concessões e as parcerias público-privadas (PPPs) de rodovias, ferrovias, portos, aeroportos e setor de óleo e gás. A tarefa ficará a cargo do grupo especial de trabalho que será criado, vinculado diretamente à Presidência da República, e à qual estarão ligadas as agências reguladoras de cada setor. ;O financiamento do país virá das concessões e das exportações;, disse um interlocutor do PMDB.
Mas Temer dependerá da boa vontade do Congresso para aprovar as medidas de ajuste fiscal que considera prioritárias. Elas já foram expostas pelo vice-presidente ao provável ministro da Fazenda Henrique Meirelles, que poderá acrescentar outros pontos posteriormente. Mas será o futuro titular do Planejamento, senador Romero Jucá (PMDB-RR), o responsável pela negociação do pacote econômico do governo com o Congresso.
Líder dos governos Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma Rousseff, Jucá é visto como um político habilidoso, com boa interlocução no Congresso, sobretudo no Senado, e conhecimentos econômicos suficientes para fazer o diálogo com os parlamentares. Será auxiliado pelo secretário de Governo de Temer, o ex-deputado e ex-ministro Geddel Vieira Lima.
A tendência é de que, num primeiro momento, um eventual governo Temer consiga ter tranquilidade para negociar com o parlamento. O processo de impeachment foi aprovado com 367 votos favoráveis na Câmara, e a expectativa é de que também tenha maioria folgada no Senado.
Cálculos preliminares mostram que o peemedebista assumiria com a menor oposição parlamentar desde 1992, quando Itamar Franco substituiu Fernando Collor, também vítima de impeachment. O mineiro tinha 50 dos 513 deputados como opositores. Temer deverá ter como adversários um número pouco maior de 90, incluindo PT, PDT, PCdoB, PSol e Rede.
Convites
Para conseguir fazer a travessia, contudo, Temer tem sido cuidadoso na negociação com os partidos políticos, para não melindrar possíveis aliados. O peemedebista tem asseverado que qualquer convite para o primeiro escalão do governo será feito diretamente com os presidentes partidários e as lideranças das legendas tanto na Câmara quanto no Senado.
Temer já conversou com diversos partidos. No encontro que manteve com o DEM, ouviu do prefeito de Salvador, ACM Neto, e do presidente do partido, José Agripino Maia (RN), que os três pré-requisitos do partido para manter a interlocução são: a qualidade dos quadros; a coerência na postura do partido ao longo do tempo; e a importância das pastas a serem ofertadas. Seguindo esses critérios, o DEM estaria de olho na Educação, Saúde ou Transportes.
Pelo xadrez político, a Educação está vaga, já que o nome cogitado anteriormente para a pasta, o senador José Serra (PSDB-SP), tem expressado que gostaria de ser nomeado para o Ministério das Relações Exteriores, de olho na possibilidade de negociações comerciais internacionais, aproveitando o expertise obtida quando esteve à frente da Saúde, no governo FHC, e travou a batalha pela quebra das patentes dos medicamentos de combate à AIDS.
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