O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Centra (BC) sinalizou ontem, por meio da ata da última reunião do colegiado, que não há espaço a curto prazo para queda de juros, mesmo com o arrefecimento da inflação. A mensagem enviada ao mercado pela equipe de Alexandre Tombini, entretanto, não afetou as previsões dos dois principais candidatos a sucedê-lo em um eventual governo de Michel Temer.
Tanto o economista-chefe do Itaú Unibanco, Ilan Goldfajn, quanto Mário Mesquita, diretor do Banco Brasil Plural, projetam que o Copom reduzirá a taxa básica de juros (Selic) a partir de julho. Goldfajn e Mesquista são os preferidos de Henrique Meirelles ; escolhido por Temer, caso chegue ao Palácio do Panalto, para ocupar o Ministério da Fazenda ; para comandar a autoridade monetária. Os dois só discordam do tamanho do corte.
Enquanto o economista chefe do Itaú estimou que a Selic terminará o ano em 12,25%, o diretor do Brasil Plural avaliou que a taxa chegará a 12,5% em dezembro. Mesquita, que foi diretor do BC entre 2006 e 2010, foi convidado na última quarta-feira por Meirelles para ocupar a presidência da instituição. Entretanto, ele indicou a amigos que não deve aceitar o convite, o que fortaleceu a possibilidade de Goldfajn assumir o posto.
Em relatório, o economista do maior banco privado do país afirmou que, na visão do Copom, o balanço de riscos para a inflação continua incerto, já que a política fiscal é expansionista e a inflação permanece elevada. Apesar disso, Goldfajn ressaltou que, se a tendência de queda do custo de vida se confirmar e um ajuste fiscal for executado pela nova equipe econômica, há espaço para queda de juros no segundo semestre. ;A melhora esperada do balanço de riscos, se confirmada, deve trazer conforto ao Copom para iniciar um ciclo de cortes de juros no segundo semestre;, afirmou.
Goldfajn também revisou a projeção para o dólar no fim do ano, que passou de R$ 4 para R$ 3,75. Apesar disso, manteve a expectativa de que a inflação terminará 2016 em 6,9%, acima do teto da meta, de 6,5%. Ele justificou que pressões adicionais vindas de alimentação no domicílio e do setor de serviços não darão trégua à carestia.
Já Mesquita comentou que a ata do Copom passou a mensagem de que é improvável um corte da Selic no curto prazo. Para ele, o colegiado indicou que não vê nenhuma possibilidade de flexibilização, uma vez que a inflação em 12 meses permanece elevada e as expectativas estão longe da meta. Contudo, o diretor do Brasil Plural avaliou que, com novos membros, o colegiado deve reduzir a Selic. ;Esperamos que um novo conselho inicie o ciclo de afrouxamento, com uma corte de 0,25 ponto percentual em julho;, disse.
[SAIBAMAIS]Na avaliação da economista-chefe da Rosenberg Associados, Thaís Zara, o conteúdo da ata deve ser relativizado por dois aspectos. Primeiro, porque as chances de um novo governo são elevadas e, provavelmente, isso implicará novo comando do BC. ;Ainda que não de imediato, pois há as fricções naturais para a aprovação de nomeações, mas em um espaço de tempo relativamente curto, de, no máximo, mais uma ou duas reuniões do Copom;, disse.
Segundo ela, é de se esperar que, num primeiro momento, o novo presidente do BC mantenha as linhas gerais definidas pelo atual, mas a tendência é de que haverá mudança na condução da política fiscal, que passará a ser o foco. ;Se houver avanços no acerto das contas públicas, mesmo que o buraco seja enorme, se ao menos formos colocados na trilha correta, os mercados anteciparão juros menores no futuro, especialmente nos ramos mais longos da curva;, comentou. Para Thaís, o corte de juros começará na reunião de agosto e o ciclo de redução se estenderá até a taxa chegar a 11,25%.
A matéria completa está disponível , para assinantes. Para assinar, .