Jornal Correio Braziliense

Economia

Contas do governo têm primeiro quadrimestre vermelho

De janeiro a abril, o resultado do governo central ficou deficitário em R$ 8,5 bilhões, o pior da série histórica iniciada em 1997. Superavit de abril foi considerado ponto fora da curva por analistas que esperam rombo ainda maior no ano


As contas do governo central, que reúne Tesouro Nacional, Banco Central e Previdência Social, fecharam o quadrimestre pela primeira vez no vermelho desde 1997, início da série histórica. O deficit foi de R$ 8,5 bilhões. Em abril, no entanto, houve superavit primário (economia para o pagamento dos juros da dívida pública) de R$ 9,7 bilhões, o valor mais baixo para o mês desde 2013.

Tradicionalmente, abril é um mês de aumento na arrecadação, mas não foi o que aconteceu em função da recessão econômica. A receita líquida do governo central encolheu 6,9%, em valores reais (descontada a inflação), na comparação com o mesmo intervalo de 2015, para R$ 103,6 bilhões.

De acordo com os dados divulgados ontem pelo Tesouro, nem mesmo o Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF), cujo prazo de entrega das declarações terminou no mês passado, ajudou a reverter a queda de receita. O recolhimento do IR cresceu apenas R$ 329 milhões em relação ao mesmo período de 2015, apesar de a correção da tabela ter ficado abaixo da inflação, obrigando mais contribuintes a prestar contas ao Fisco. A Contribuição sobre o Lucro Líquido (CSLL) foi uma das raras exceções com alta de arrecadação. Cresceu 15,7%, em termos reais, para R$ 7,8 bilhões no mês passado.

Enquanto isso, as despesas diminuíram em um ritmo menor, de 6,4% em abril, para R$ 93,9 bilhões, na comparação o mesmo período de 2015. Desde janeiro, o descompasso entre arrecadação e despesa foi maior. A receita no quadrimestre cresceu 4,1%, principalmente devido às receitas extraordinárias de R$ 11 bilhões com concessões. Já as despesas cresceram 2,2%, o que confirma a teoria dos analistas de que esse resultado positivo de abril é um ponto fora da curva.

;Não dá para comemorar porque todo mundo sabe agora o tamanho do rombo fiscal deste ano. Esse saldo positivo de abril não vai refrescar o deficit esperado para o ano, que será próximo ao da nova meta fiscal, de R$ 170,5 bilhões;, avisou o economista-chefe da Sul América Investimentos, Newton Rosa. Ele acaba de elevar a previsão do rombo fiscal do setor público de 2,2% para 2,7% do Produto Interno Bruto (PIB), alinhando a estimativa com o novo objetivo fiscal aprovado pelo Congresso Nacional na semana passada.

Na avaliação do professor de administração pública da Universidade de Brasília (UnB) José Matias-Pereira, o superavit fiscal de abril apenas mostra um cenário de economia que começa a travar. ;Esses comportamentos atípicos são comuns, mas não revelam que a economia está voltando a crescer. Ainda há muita instabilidade política e econômica e isso vai se repetir até o novo governo conseguir colocar a locomotiva de volta nos trilhos;, destacou.

O secretário do Tesouro, Otávio Ladeira, reconheceu que essa queda nas despesas de abril não deverá se repetir nos próximos meses, pois uma série de gastos foram postergados e devem impactar as contas a partir de maio, como é o caso de R$ 1,1 bilhão de dívidas de abril, do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), que foram pagos neste mês.

Além disso, despesas com subsídios, que pesaram R$ 11 bilhões nas contas de janeiro, devem aparecer nesse mesmo montante em julho, devido às mudanças no cronograma de pagamentos desde o início do ano. Somente em abril, as despesas obrigatórias com subsídios e subvenções econômicas diminuíram 38,6%, ou seja, R$ 8,6 bilhões graças a essas mudanças.

Outro desembolso que saiu do radar das contas da União foram os investimentos do Minha Casa Minha Vida (MCMV), que deixaram de custeados pelo Tesouro neste ano e passaram a ser financiados pelo Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Com isso, os gastos com esse programa despencaram 60,6% no quadrimestre, para R$ 2,2 bilhões.

Meta


A nova meta fiscal para este ano, que permite um rombo de até R$ 170,5 bilhões, segundo o secretário do Tesouro Nacional, permitirá ao governo evitar restos a pagar para 2017. Ladeira avisou que a União pretende pagar as despesas realizadas neste ano e que estão em atraso. ;Pela primeira vez, em alguns anos, vamos colocar as contas em dia, para não deixarmos a fatura e o valor devido para janeiro do ano seguinte;, afirmou. Ele destacou que, a partir de agora, o novo governo perseguirá o novo objetivo fiscal.

Rosa, Sul América Investimentos, demonstrou preocupação com a tendência de aumento das despesas em 2016 com a nova meta fiscal. Eles consideram que é importante que o governo aprove logo medidas para limitar o gasto público, e, assim, evitar aumento da trajetória da dívida pública, que deverá chegar perto de 82% do PIB no ano que vem. ;É importante que os subsídios diminuam, mas ninguém quer abrir mão das benesses para evitar aumentos de impostos. A despesa, neste ano e no próximo, deve ficar acima de 20% do PIB, enquanto as receitas patinarão em 16% a 17% do PIB;, destacou o economista.

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