Economia

Planos de saúde individuais e familiares sobem mais que a inflação

Reajuste vale a partir da data de aniversário do contrato. Clientes consideram abusivos e questionam qualidade dos serviços prestados. Operadoras alegam que percentual é insuficiente para equilibrar contas

Rodolfo Costa
postado em 04/06/2016 08:00

Eu já estava insatisfeito antes. Agora, com esse novo aumento, eu vou ficar ainda mais. Eu não me importaria em pagar o valor se o serviço Não fosse burocrático e incompleto%u201D, diz Vágner Jacinto Tavares, motorista

Os consumidores de planos de saúde individuais e familiares devem preparar o bolso. A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) autorizou ontem o reajuste de até 13,57% para esses tipos de convênios, que atendem cerca de 8,3 milhões de pessoas, o que representa, segundo a autarquia, 17% do total de beneficiários no país. A correção ; a maior concedida em toda a série histórica ; sobre as mensalidades será repassada pelas operadoras a partir da data de aniversário dos respectivos contratos, devendo ser igual ou inferior ao índice fixado.

Quem já está fazendo as contas e calculando o quanto pagará a mais pelo plano de saúde é a advogada Débora Raposo, 34 anos. A mensalidade atual, de R$ 774, poderá subir para até R$ 879 se a empresa gestora do convênio aplicar o reajuste cheio, de 13,57%. ;Se confirmado, pagaria mensalmente R$ 105 a mais do que o desembolso atual. É abusivo;, criticou. Para ela, é um valor alto por uma prestação limitada de serviços. ;No meu plano, há muita restrição de hospitais conveniados. Em casos emergenciais, por exemplo, só tem quatro em Brasília que podem me atender;, reclamou.

Diante do cenário de calamidade dos hospitais públicos, Débora não cogita o cancelamento do plano. Mas vai cortar despesas para manter o convênio. ;A saúde é prioridade. Infelizmente, eu e minha filha precisamos de um plano de saúde. Então, vou evitar ir a restaurantes e gastar menos com lazer. Como não são minhas prioridades, eu vou ter que tirar;, analisou ela, que protestou contra o reajuste. ;A impressão que tenho é que a ANS não tem beneficiado o consumidor, apenas as empresas, porque a gente sabe que a situação não está legal. Os hospitais estão lotados. Nós sabemos que depender do Sistema Único de Saúde (SUS) é complicado;, disse.

O motorista Vágner Jacinto Tavares, 44, considera o reajuste alto para um serviço que está aquém do oferecido. ;Eles nunca colocam a verdade no que vão disponibilizar. O atendimento não é completo e, com o preço que se pede, seria necessário uma prestação melhor;, justificou ele, que paga R$ 1,2 mil. ;Eu já estava insatisfeito antes. Agora, com esse novo aumento, eu vou ficar ainda mais. Eu não me importaria em pagar o valor se o serviço não fosse burocrático e incompleto.;

Aniversário
É importante que os consumidores fiquem atentos ao mês de aniversário da apólice. Como o reajuste foi autorizado ontem pela ANS ; e a correção autorizada no ano passado, de 13,55%, durou até abril ;, os contratos que fizeram aniversário findados em maio e junho pagarão a mensalidade reajustada e mais um valor retroativo, conforme prevê a Resolução Normativa n; 171/2008. No caso dos contratos vencidos em maio, o retroativo será cobrado durante os meses de julho e agosto. A cobrança retroativa não deve ser feita a contratos com aniversário entre julho e abril de 2017.

Já os acordos encerrados em junho, o retroativo incidirá apenas em julho. É o exemplo do contrato da servidora pública Suzana de Souza Jorge, 50, que faz aniversário este mês. Ela, que paga mensalidade de R$ 1,2 mil, passará a gastar R$ 1.362,84 pelo convênio a partir de agosto se o plano aplicar o teto máximo estabelecido pela ANS. Mas, em julho, ela pagará o preço reajustado da fatura, além do valor retroativo, de R$ 162,84, totalizando em R$ 1.525,68.

Para Suzana, o valor alto não condiz com os serviços prestados. ;Cada vez mais, meu plano cobre menos hospitais. Tenho que peregrinar, ir em vários lugares porque a cobertura não atende quase nada;, protestou. Apesar de pagar caro pelo convênio e não aprovar os serviços oferecidos, ela também não pretende abandonar o plano de saúde. ;A gente tem que pagar. Se não tiver plano de saúde, é morte na certa. E isso é uma vergonha, porque a gente paga tantos impostos para receber um atendimento precário e filas de esperas gigantes nos hospitais públicos;, criticou.

Inflação

O reajuste vai pressionar a inflação. Se o aumento for aplicado integralmente pelas operadoras, o custo médio com planos de saúde representará um acréscimo de 0,45 ponto percentual sobre o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ao fim de 2016, prevê o economista-sênior da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Fábio Bentes.

Isso significa que, se a inflação cravar em 7,06% ao fim deste ano, 0,45 ponto percentual será atribuído aos gastos com os convênios. O reajuste, na opinião de Bentes, dificulta o trabalho do Banco Central (BC) de cortar a taxa básica de juros (Selic) ainda no início do segundo semestre, como previa o mercado financeiro. ;É uma correção que realmente coloca mais lenha da fogueira na inflação e leva a autoridade monetária a ter menos incentivo para reduzir os juros;, avaliou.

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