Economia

Petrobras não precisa vender ativos para equacionar finanças, diz Gabrielli

Gabrielli também criticou as mudanças que estão sendo feitas no marco regulatório do pré-sal, como por exemplo o fim da obrigatoriedade de uma participação mínima de 30% da Petrobras, que já foi aprovada pela Senado e agora está sendo analisada pela Câmara

Agência Estado
postado em 16/06/2016 16:41

O ex-presidente da Petrobras Sergio Gabrielli afirmou nesta quinta-feira (16/6) que a companhia não precisa vender ativos para equacionar sua situação financeira. Durante evento promovido pela Fundação Perseu Abramo - braço acadêmico do PT -, ele reconheceu que a dívida da companhia é grande, mas argumentou que ela pode conseguir financiamentos e assim não precisar desinvestir.

"A estratégia de curto prazo do atual conselho de administração é vender ativos e resolver o problema financeiro. Nos próximos quatro anos a Petrobras tem de pagar um volume relativamente alto de dívida, o que pode ameaçar o financiamento de investimentos, mas é possível uma solução sem necessidade de um comprometimento estrutural a longo prazo", afirmou. Segundo ele, o pagamento das dívidas em 2016 e 2017 já está solucionado, mas ainda é preciso equacionar a situação de 2018 e 2019. "Isso significa que a empresa tem dois anos para viabilizar um mecanismo financeiro, o que é perfeitamente possível", argumentou.



Gabrielli também criticou as mudanças que estão sendo feitas no marco regulatório do pré-sal, como por exemplo o fim da obrigatoriedade de uma participação mínima de 30% da Petrobras, que já foi aprovada pela Senado e agora está sendo analisada pela Câmara. Segundo ele, isso vai afetar ainda a exigência de conteúdo local e pode levar o Brasil a sofrer a chamada "doença holandesa", que consiste em depender quase exclusivamente da exploração de recursos naturais, em detrimento do desenvolvimento de outros setores industriais.

Para o ex-presidente da estatal, o fato de a Petrobras ser a operadora única do pré-sal dava condições de a empresa ditar o ritmo de viabilização da produção e mesmo das escolhas tecnológicas a serem usadas na exploração. "Nós montamos uma política industrial, setorial, de captura de renda, para viabilizar a transferência da riqueza para o povo. E não foi fácil, teve oposição inclusive dentro do governo, tanto que levou dois anos em disputa interna", comentou ele sobre o marco regulatório.

O petista reconheceu que as mudanças na questão do marco do pré-sal começaram em 2015, ainda na gestão Dilma Rousseff. "O que o Michel Temer quer fazer é, infelizmente, um aprofundamento das mudanças que nós começamos em 2015, contra a minha vontade", apontou. Segundo ele, essa continuação do processo de redução do tamanho da Petrobras é muito negativa para o setor e para o País

Gabrielli defendeu que o pré-sal é altamente viável e rentável. Segundo ele, atualmente o custo médio de produção nessa camada está em cerca de US$ 23 o barril, quando o petróleo WTI é sendo negociado atualmente a quase US$ 50 o barril. "A Petrobras tem uma vantagem extraordinária se mantiver a visão de uma empresa integrada de energia, mas se vender ativos e segmentar a produção, vai enfraquecer o sistema", alegou.

Lava-Jato

Gabrielli fez críticas à Operação Lava-Jato, da Polícia Federal, que revelou uma série de irregularidades envolvendo a Petrobras e grandes empreiteiras do País. Segundo ele, a operação destruiu o setor de engenharia pesada no Brasil e tirou quase 2% do PIB em 2015. "Essas empreiteiras agora não conseguem mais competir no cenário internacional e aqui dentro estão com a capacidade operacional completamente estrangulada, independentemente se foram corruptas ou não. Foram mais de 150 mil empregos perdidos. Só a Odebrecht demitiu 50 mil pessoas", afirmou.

O ex-dirigente da Petrobras também contemporizou os volumes de recursos desviados da companhia, inclusive durante sua gestão. "Aparece na imprensa que a pessoa desviou R$ 100 milhões ao longo de dez anos, mas para quem trabalhou com um volume de recursos de R$ 400 bilhões, R$ 500 bilhões, isso é só 0,01% dos contratos. A corrupção tem de ser fiscalizada, reprimida, punida, mas é um pouco inerente ao tamanho da indústria de petróleo."

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