Economia

Desperdiçar capital humano custará mais quando economia voltar a crescer

Falta de profissionais qualificados, uma das piores mazelas do país, vai se agravar durante a recessão, quadro que faz muita gente desistir dos estudos

Rodolfo Costa , Antonio Temóteo
postado em 03/07/2016 07:51
Desemprego está em 11,2% da população ativa e caminha para 14%: cada ponto percentual a mais significa um milhão de pessoas sem trabalho
Para um país que se ressente da falta de mão de obra especializada, desperdiçar capital humano custará ainda mais quando a economia voltar a crescer. ;Esse é um dos piores males da recessão e do desemprego;, diz o economista Bruno Ottoni, especialista em mercado de trabalho do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV). Os desocupados deixam de acumular experiência profissional, ficam desatualizados e perdem produtividade. ;Em um mundo competitivo, isso significa dizer que ficaremos para trás mais uma vez;, acrescenta.

[SAIBAMAIS]Os efeitos negativos da crise econômica serão sentidos por anos, reconhece Ottoni. Na construção civil, por exemplo, que tem peso importante para a indústria e os investimentos, a reação será lenta e gradual. Há muita ociosidade, obras paradas e imóveis prontos encalhados. ;Não por acaso, os engenheiros encontram dificuldade para encontrar trabalho quando saem da universidade;, destaca. ;E vão continuar encontrando, pois estamos longe de uma recuperação consistente da atividade.;



O quadro está tão dramático, acrescenta o economista da FGV, que, além da dificuldade de conseguir uma vaga no mercado formal, os brasileiros que conseguem emprego estão ganhando menos. Pelas contas dele, o salário médio dos que têm sido contratados está, em média, 15% abaixo da remuneração de quem foi dispensado. O cálculo leva em conta os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho. ;A mudança desse cenário passa pela retomada do crescimento econômico. Mas as previsões apontam que esse processo será lento;, diz.

Ottoni estima que o desemprego, que está em 11,2% da população ativa, chegará a 12,5% em dezembro próximo e a 13% ao longo de 2017, previsão considerada otimista por muitos analistas, dado o estrago que se vê na economia. A perspectiva é de que a taxa ainda avance até os 14%, apesar de muitos analistas preverem um 2017 melhor, com crescimento econômico de até 2%. Cada ponto percentual a mais na taxa de desocupação significa pelo menos 1 milhão de novos desempregados. Um filme de terror que ainda assustará muita gente.

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