Mesmo com as seguidas intervenções do Banco Central (BC) no mercado de câmbio, o dólar voltou a recuar ontem. A moeda norte-americana caiu 0,46% e terminou a sessão cotada a R$ 3,259 para a venda, mas chegou a atingir R$ 3,221 na mínima do dia, às 11h30. A autoridade monetária anunciou que, hoje, vai oferecer novamente US$ 500 milhões em contratos de swap cambial reverso ; operação equivalente à compra de dólares no mercado futuro.
A medida, porém, pode ser inócua para segurar as cotações. Na avaliação de analistas do mercado financeiro, tanto o cenário externo quanto o interno favorecem a queda da divisa, que pode recuar ainda mais frente ao real. Em relatório divulgado ontem, o Instituto Internacional de Finanças (IIF), formado pelos 500 maiores bancos do mundo, com sede em Washington, informou que espera um ingresso de US$ 221 bilhões nas economias latino-americanas neste ano, boa parte dos quais deve ter o Brasil como destino, estimulando a valorização do real.
O país atrai o investidor estrangeiro por oferecer juros extremamente elevados em comparação aos que prevalecem nas principais economias, onde as taxas chegam a ser negativas. Com a expectativa de recuperação da economia brasileira após a mudança de governo, uma parcela considerável desses recursos deve se dirigir para o mercado de ações, segundo analistas.
Ontem, a Bolsa de Valores de São Paulo (BM) teve a sétima alta diária consecutiva e fechou com ganho de 1,62%, alcançando 55.480 pontos, o maior nível desde 19 de maio do ano passado. A expectativa do mercado é que mais de R$ 200 bilhões desembarquem na bolsa neste ano, movimento que deve provocar também reflexo no câmbio.
No campo doméstico, a principal razão para o bom desempenho dos mercados, ontem, foi a eleição do deputado federal Rodrigo Maia (DEM-RJ) para a Presidência da Câmara dos Deputados. O entendimento é de que o parlamentar será um firme aliado do presidente interino, Michel Temer, para convencer o Congresso a aprovar as medidas de ajuste fiscal e as reformas necessárias para recuperar a economia.
Euforia
Os analistas avaliam que a votação mostrou o enfraquecimento dos aliados da presidente afastada, Dilma Rousseff, reforçando a expectativa de que ela tenha o mandato cassado pelo Senado. ;A percepção de risco na economia se reduziu bastante;, avaliou o analista técnico Raphael Figueredo, da Clear Corretora, para quem o dólar pode chegar a algo entre R$ 3 e R$ 3,10, apesar das intervenções do BC.
Operadores mais otimistas veem espaço para a moeda cair para R$ 2,70 ou R$ 2,80 com o impeachment definitivo de Dilma. William Castro Alves, sócio da Valor Gestora de Recursos, reconhece o momento favorável, mas faz ressalvas. ;Há uma euforia que me passa bastante receio. Os mercados já estão ;pagando para ver; muita coisa. O cenário tem tudo para ser confirmado, mas, em termos de economia real, ainda não há grandes alterações;, disse. Ele observou que o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), divulgado ontem, registrou queda de 0,51% em maio, acima das expectativas do mercado, de um recuo de 0,2%.
A matéria completa está disponível aqui, para assinantes. Para assinar, clique