Economia

Investidores fixam prazo para governo reverter rombo nas contas públicas

No máximo, acreditam em aprovação da PEC que limita gastos neste ano. Michel Temer terá que aumentar impostos

Rodolfo Costa , Antonio Temóteo
postado em 17/07/2016 08:00

A complacência do mercado financeiro e dos empresários com o presidente interino, Michel Temer, tem data marcada para acabar. Assim que o Senado Federal votar o impeachment definitivo de Dilma Rousseff, as cobranças vão se agigantar para que o governo tire do papel projetos vitais para a recuperação da economia. Muitos reconhecem que o discurso dos últimos dois meses deu ânimo novo. Mas, diante de um tombo de quase 10% do Produto Interno Bruto (PIB) desde o fim de 2014, não há mais tempo a perder. É preciso que propostas sejam enviadas e aprovadas pelo Congresso Nacional ainda no segundo semestre de 2016. O maior temor dos analistas é de que a equipe econômica não consiga sensibilizar deputados e senadores a tomarem medidas amargas, como limitar o aumento de gastos, reformar a Previdência Social e elevar impostos.

Os investidores não se contentarão com pouco, reconhece Marcos Lisboa, presidente da escola de negócios Insper e um dos economistas mais ouvidos pelo governo. Ele ressalta que o mais provável é que Temer consiga apoio para aprovar, até dezembro, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que limita o aumento das despesas à inflação do ano anterior. Mas será preciso ser mais ousado, como levar adiante o processo de mudanças na Previdência, inclusive com a desvinculação das aposentadorias do salário mínimo. Para ele, o Brasil já adiou demais esse debate. E o resultado pode ser medido pelo rombo assustador das contas públicas. Entre 2014 e 2018, o buraco, sem levar em consideração os gastos com juros da dívida pública, passará de R$ 500 bilhões. Trata-se de um quadro inaceitável, reconhece.

;As reformas necessárias são profundas e a solução não virá rapidamente. É preciso saber se enfrentaremos essas questões ou não. Fizemos as escolhas erradas nos anos de 1970. O resultado de não enfrentar os problemas fiscais daquela época implicou na recessão dos anos 1980;, diz. Agora, se o país insistir em seguir pelo caminho mais fácil, as consequências serão ainda mais dramáticas. ;A dívida pública, que caminha para 70% do PIB (Produto Interno Bruto), voltará a ficar insustentável e teremos inflação crônica;, alerta.

Eleições

Apesar da urgência que se colocou no caminho de Temer, não se acredita que o esforço para botar um freio na gastança federal vá muito além da PEC ; não neste ano. A perspectiva é de que temas mais polêmicos, como as reformas da Previdência e trabalhista só comecem a ser apreciadas pelo Congresso a partir de fevereiro de 2017, após a escolha da mesa diretora da Câmara e do Senado. Assim, o tempo político do peemedebista encurtou demais. Além da aprovação do impeachment, que concentra todas as energias do Palácio do Planalto, há o recesso branco de deputados e senadores, que sequer aprovaram o projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) do próximo ano. Depois do afastamento definitivo de Dilma, o radar do Congresso estará voltado para as eleições municipais de outubro.

Nesse quadro traçado pelos especialistas, deve ser adicionado o processo de cassação de Eduardo Cunha. Que ninguém espere dias tranquilos. À medida que o fim do mandato for se aproximando, a disposição do deputado em fazer delações e entregar os companheiros será maior. O governo, inclusive, já escalou uma tropa de choque para convencer o antigo aliado a se conter. Para isso, o Planalto também conta com o apoio do novo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que, ao mesmo tempo em que tentará baixar a temperatura entre os parlamentares, promete colocar temas econômicos do interesse do governo em votação para mostrar aos donos do dinheiro que a agenda do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, tem prioridade.

A matéria completa está disponível aqui, para assinantes. Para assinar, clique

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação