Agência Estado
postado em 21/07/2016 18:54
As preocupações com o cenário doméstico fizeram o dólar subir frente ao real nesta quinta-feira (21/7) contrariando a baixa observada ante divisas de mercados emergentes e ligadas a commodities. De acordo com profissionais de câmbio, o turbulento noticiário corporativo, diante de desdobramentos da crise na Odebrecht, e o mal-estar despertado pelo reajuste salarial de mais de 40% do judiciário elevaram a percepção de risco sobre o Brasil, resultando também em elevação nas taxas dos contratos de proteção contra o risco nacional (CDS, na sigla em inglês). Em um dia de modesto volume de negócios, o movimento interno foi amparado também na acentuada queda nos preços de petróleo e na frustração com medidas adicionais de estímulo no Japão e na zona do euro.
No balcão, o dólar à vista fechou aos R$ 3,2851, em alta de 1,16%, mais próximo da máxima de R$ 3,2877 (%2b1,24%) que da mínima de R$ 3,2435 (-0,12%), registrada pela manhã. Conforme informações registradas na clearing da BM Bovespa, o volume total de negócios somou US$ 1,505 bilhão. Já no mercado futuro, o contrato de dólar para agosto encerrou aos R$ 3,2830 (%2b0,46%), com giro de US$ 12,227 bilhões.
De acordo com o economista da Guide Investimentos, Ignácio Crespo Rey, o reajuste de mais de 40% do judiciário, sancionado ontem pelo governo, e a falta de divulgação de medidas fiscais mais detalhadas pela equipe econômica prejudicaram a percepção de risco do Brasil, sustentando a alta do dólar ante o real ao longo da sessão. Já durante a tarde, o principal catalisador do movimento foi a notícia de que teriam crescido as chances de recuperação judicial da Odebrecht, por falta de acordo com os bancos para renegociar suas dívidas.
"Isso gerou um impulso pontual no dólar, mas, depois de bater a máxima, a alta perdeu fôlego com a negativa da empresa", afirmou o operador de uma corretora. A empreiteira disse que não trabalha com a hipótese de pedido de recuperação judicial e que mantém diálogo positivo com bancos.
A alta do dólar ante o real se amparou ainda na acentuada baixa do petróleo e na frustração com novas medidas de estímulo do Banco Central Europeu (BCE) e do Banco do Japão (BoJ). Apesar disso, o ambiente internacional ainda trabalha com elevado nível de liquidez e juros reais negativos nas principais economias desenvolvidas. Esse cenário pode favorecer a chegada de recursos para o Brasil numa teórica busca por rentabilidade, uma vez que a taxa básica de juros, a Selic, é uma das maiores do mundo. O mercado nacional de renda fixa, inclusive, descarta corte da taxa em agosto e diminuiu a aposta de afrouxamento em outubro, após o Comitê de Política Monetária (Copom) ter mantido a Selic 14,25% e o IPCA-15 ter registrado em julho alta maior que a esperada.
Um dos sinais do apetite estrangeiro por ativos nacionais foi a captação de US$ 1,5 bilhão em bônus com vencimento em 2047 pelo Tesouro, oferecendo aos investidores retorno de 5,875%, disseram fontes ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado.