Economia

Juros altos e muitas prestações comprometem orçamento do brasileiros

Estudo da Confederação Nacional do Comércio (CNC) apontou que, de junho de 2015 a junho de 2016, o valor médio das parcelas pagas ao varejo pelas famílias brasileiras subiu 12,3%, de R$ 45,24 para R$ 50,79 mensais

Vera Batista
postado em 14/08/2016 07:05

O consumidor brasileiro paga um preço alto pela crise, que impulsionou a alta dos juros, restringiu o acesso ao crédito e expandiu o desemprego no país. Estudo da Confederação Nacional do Comércio (CNC) apontou que, de junho de 2015 a junho de 2016, o valor médio das parcelas pagas ao varejo pelas famílias brasileiras subiu 12,3%, de R$ 45,24 para R$ 50,79 mensais. Montante considerado salgado para a maioria da população, tendo em vista que representa 5,7% do salário mínimo bruto atual, de R$ 880. Quando a comparação é feita com base em janeiro de 2014, período em que o valor médio das parcelas era de R$ 41,08, a alta chega a 22,9%. Por isso, todo cuidado é pouco ao analisar ofertas de produtos com prestações ;a perder de vista;, dizem analistas. Na maioria das vezes, o consumidor vai pagar um valor muito superior ao cobrado nas compras à vista.

O cidadão comum, embora nem sempre saiba fazer cálculos de juros compostos, percebe, na prática, que está cada vez mais difícil comprar a prazo ou conseguir financiamento em bancos e no comércio varejista, porque as prestações já não cabem no bolso. Para entender por que a situação piorou, é preciso, na análise de Fábio Bentes, economista da CNC, que o trabalhador observe vários fatores que se alimentam mutuamente. Principalmente os comportamentos do índice de desemprego e da taxa de juros para pessoa física.

No ano passado, lembrou Bentes, mais de 1,5 milhão de pessoas com carteira assinada foram demitidas. Em 2016, até junho, um número superior a 1,4 milhão de funcionários de empresas privadas perdeu a vaga. ;As empresas continuam dispensando. Sem emprego, as pessoas, com menos dinheiro, deixam de comprar ; tanto que o consumo das famílias já caiu 3,9% este ano ; porque têm mais dificuldade de honrar seus compromissos financeiros. Com isso, os bancos, temendo alta na inadimplência, passam a dar menos crédito, além de aumentar preventivamente os juros;, destacou.

Às vezes, os movimentos entre os setores da economia parecem contraditórios, mas não são. Bentes explicou que os juros médios cobrados ao consumidor estavam, há 12 meses, em 63,7% ao ano e saltaram para 71,6%, em junho último. Mas o período de pagamento, no entanto, foi dilatado. O que dá a impressão de um certo alívio. ;Não se engane. O prazo médio dos financiamentos, que estava em 50 meses, foi ampliado para 52 meses. Mas, mesmo esticando os vencimentos, os juros mostraram sua face mais perversa e fizeram com que o montante a ser retirado do orçamento para fazer frente às prestações ficasse mais alto;, destacou. A medida tomada pelos bancos é mesmo preventiva, explicou.

Em relação aos juros, as previsões são de queda no médio prazo, segundo o analista, porque os indicadores de confiança do setor produtivo começam a dar sinais de melhora e grande parte dos agentes do mercado financeiro têm esperanças de que a equipe do presidente interino, Michel Temer, levará a sério o ajuste fiscal. Mas tudo ainda é uma esperança que depende de fatores políticos. No Boletim Focus, relatório semanal do Banco Central com as apostas de economistas para os principais indicadores econômicos do país, a projeção da Selic para 2016 passou de 13,25% ao ano para 13,50%.

O que revela, no entender do economista, que está ainda presente o temor de que o custo de vida vai aumentar até a economia chegar ao fundo do poço, para, somente depois, iniciar a curva de alta, momento em que deverá ser possível enxergar a luz no fim do túnel. Ele lembra ainda que, no comunicado divulgado pelo Banco Central, após encontro do Comitê de Política Monetária (Copom), em julho, a autoridade monetária manteve a taxa básica de juros (Selic) inalterada em 14,25% ao ano, apesar da recessão.

Mudança de hábito


O consumidor, percebendo todas essas instabilidades, se esforça para mudar os hábitos. A publicitária Fernanda Horta, 35 anos, procura só fazer compras à vista. Na semana passada, ela estava pesquisando preços com a filha Júlia, 11, para um bom presente do Dia dos Pais. ;Tivemos alguns problemas, inclusive clonagem do cartão de crédito. Depois de toda essa confusão, há cerca de um ano, decidimos passar a comprar tudo no débito;, revelou.

Dividir as compras em prazo muito longo também não está nos planos da aposentada Cristiane Fernandes,71, que comprou uma máquina de lavar em três parcelas no cartão de crédito. Nos cálculos dela, com os juros altíssimos, ampliar o número de prestações é uma estratégia errada. O comprador, disse Cristiane, vai pagar duas vezes o valor do produto. ;Estou economizando há cerca de seis meses. Deixei de usar o cartão de crédito para não ter susto. A máquina custou R$ 1,5 mil.

Passei 70% no cartão e dei o resto em dinheiro. Apesar da demora, estou aliviada e livre de juros abusivos;, concluiu.
Ivaneide Santos, 32 anos, que trabalha como vendedora há seis, é mais uma que foge dos artifícios das lojas para lucrar com as vendas mais estendidas. Ela segurou os gastos para comprar um guarda-roupas no valor de R$ 1,7 mil. ;Para quem não tem cartão de crédito como eu, o ideal é juntar o dinheiro necessário. Comprar em crédito próprio da loja, só em último caso;, disse. Luís Pereira, 21 anos, trabalha como atendente para ajudar na graduação em fotografia. Precisa de uma câmera para os trabalhos acadêmicos, mas ainda analisa a melhor estratégia para gastar menos. ;Estou juntando dinheiro. Se precisar comprar a prazo, vou dar uma entrada robusta;, explicou.

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