O Fundo Monetário Internacional (FMI) manteve a projeção para o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil e vê o país encolhendo 3,3% este ano e crescendo 0,5% no próximo, mesmas estimativas do relatório anterior da instituição, divulgado em julho. A avaliação dos economistas do FMI, que começa nesta terça-feira (4/10) reunião anual em Washington, é que o país está perto de sair do fundo do poço e pode voltar a crescer no final do ano.
Desde abril, quando o Fundo fez em Washington sua última reunião com ministros das finanças e presidentes de bancos centrais, a avaliação é que o Brasil segue com desafios importantes, mas o cenário melhorou e o país está próximo de sair da recessão. "A economia brasileira permanece em recessão, mas a atividade parece estar perto de sair do fundo do poço, na medida em que os efeitos de choques passados - declínio dos preços das commodities, ajuste dos preços administrados e incerteza política - se dissipam", afirma, no relatório "Panorama Econômico Mundial".
A inflação no Brasil segue acima da meta do Banco Central, mesmo movimento visto em outros emergentes como Turquia e Rússia, ressalta o FMI. Mas a previsão é que os índices de preços na economia brasileira reduzam gradualmente o ritmo de alta, na medida em que o efeito da desvalorização do real no passado fica menor. A previsão do FMI é que o IPCA termine o ano em 7,2% e no final de 2017 recue para 5%.
A piora da confiança de investidores, empresários e consumidores no Brasil parece ter parado e dá sinais de recuperação, mas o relatório do FMI fala que há uma forte necessidade de estimular uma melhora maior da confiança, por meio de um reforço do "arcabouço de políticas". "A credibilidade da política econômica foi severamente prejudicada por acontecimentos que antecederam a transição de regime", afirma o órgão no relatório.
[SAIBAMAIS]Nesse cenário, a adoção do teto que limita a expansão dos gastos públicos e ferramentas "coerentes" que garantam a consolidação fiscal no médio prazo enviariam aos agentes "fortes sinais" de comprometimento político, de acordo com o FMI. Outras medidas sugeridas pelo Fundo para melhorar o ambiente de negócios no Brasil e elevar investimentos incluem a redução de barreiras ao comércio, simplificação dos tributos e resolução de gargalos em infraestrutura.
Desemprego
O Fundo espera piora adicional no mercado de emprego do Brasil. A taxa de desemprego deve subir de 8,5% em 2015 para 11,2% em 2016 e 11,5% em 2017. Já o déficit da conta corrente, depois de forte queda de -3,3% do PIB de 2015 para -0,8% este ano, deve subir para -1,1% em 2017.
Emergentes
Enquanto os países desenvolvidos perdem ritmo, o crescimento dos países emergentes deve se acelerar em 2016 pela primeira vez em seis anos, ganhando novo fôlego em 2017, afirma o FMI no relatório "Panorama Econômico Mundial".
Em 2015, os emergentes registraram expansão de 4%, que deve subir para 4,2% este ano e 4,6% em 2017. Apesar do grupo estar ganhando fôlego, o FMI destaca que o cenário difere entre as várias economias. A Índia deve se manter na liderança como o país que mais cresce no mundo, considerando as principais economias. A previsão é que o PIB indiano avance 7,6% este ano e o mesmo montante no ano que vem. Nos dois casos, a estimativa foi melhorada em 0,1 ponto na comparação com os cálculos feitos em julho, quando o Fundo divulgou seu último relatório de previsões.
Enquanto a Índia deve acelerar o crescimento, a China perde fôlego, por conta da transição do modelo de expansão da atividade que vem sendo conduzida pelo governo, que ter tornar o país mais dependente do consumo e serviços. O FMI prevê que a China cresça 6,6% este ano, mesma número previsto no relatório de julho. Em 2017, a previsão também foi mantida, em 6,2%. Nos dois casos, o patamar é menor que o de 2015, que ficou em 6,9%.
Na América Latina, a região deve encolher 0,6% este ano, por conta das recessões no Brasil e em outros países, como a Venezuela. A aposta do FMI é que a recuperação ocorra em 2017, com avanço de 1,6%. A Venezuela deve encolher 10% em 2016 e mais 4,5% no ano que vem. Para 2017, a estimativa é de avanço de 1,6% para a América Latina.
Brasil e Rússia
A volta do crescimento previsto para o Brasil e a Rússia em 2017 deve ajudar a acelerar a expansão da economia mundial, de acordo com previsões divulgadas nesta terça-feira pelo FMI no relatório "Panorama Econômico Mundial". Pela primeira vez em vários meses a instituição não cortou as estimativas para o PIB do planeta, mas vê os países avançados perdendo fôlego, enquanto os emergentes voltam a ganhar ritmo.
A previsão divulgada nesta terça pelo FMI é que o PIB mundial deve crescer 3,1% este ano e 3,4% em 2017, mesma estimativa feita em julho. Os países avançados, porém, tiveram corte de estimativa, de avanço de 1,8% previsto no relatório anterior para 1,6%. A redução foi puxada principalmente pela piora do desempenho dos Estados Unidos e do Reino Unido.
Os EUA devem crescer 1,6% este ano, um corte de 0,6 ponto da projeção feita em julho (%2b2,2%), refletindo a fraca primeira metade do ano na maior economia do mundo. Para 2017, a estimativa foi cortada de expansão de 2,5% para 2,2%.
O Reino Unido também deve apresentar desaceleração, afetado pela decisão de deixar a União Europeia em junho. Depois de crescer 2,2% em 2015, a expansão deve se desacelerar para 1,8% este ano e 1,1% no ano que vem. Ainda nos países desenvolvidos, o FMI alerta que o Japão deve continuar crescendo pouco (0,5% este ano e 0,6% em 2017), o mesmo valendo para a zona do euro, onde a instituição vê necessidade de reforço no programa de compra de ativos pelo Banco Central Europeu (BCE).
No caso de Rússia e Brasil, duas das maiores economias mundiais em recessão, a aposta é da volta ao crescimento em 2017. No Brasil, o PIB deve encolher 3,3% este ano e se expandir 0,5% no ano que vem. Já para a economia russa, a estimativa é de queda de 0,8% este ano e avanço de 1,1% em 2017, nos dois casos, números melhores que o estimado em julho.
Oito anos após a crise financeira mundial de 2008, a recuperação dos países é vista como "precária" pelo FMI. O baixo crescimento, alerta o Fundo, pode aumentar o desejo dos governos por medidas protecionistas e anti-imigração, ressalta o relatório. O documento não cita nomes, mas esta tem sido a plataforma política do candidato à presidente dos EUA, Donald Trump.
"A economia mundial tem se movido de lado e o crescimento está fraco", afirmou o economista-chefe do FMI, Maurice Obstfeld, em comentários inicias preparados para uma entrevista à imprensa nesta terça. Para ele, a adoção de medidas protecionistas no comércio, ao contrário de melhorar o cenário, deve agravá-lo. "É de vital importância a defesa da crescente integração comercial", afirma ele, destacando que "dar as costas" para a agenda comercial só vai agravar e prolongar a fraca recuperação da economia mundial.
O FMI volta a falar da necessidade de mais ação não apenas na política monetária, mas também na política fiscal e estrutural, com os governo buscando mais esforços para investir em infraestrutura. Os bancos centrais dos países desenvolvidos devem manter os programas de estímulos extraordinários, recomenda o Fundo. No caso do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), a recomendação é de a alta de juros seja "gradual" e dependente do comportamento dos salários e dos índices de preços.