Simone Kafruni
postado em 06/10/2016 07:12
O mercado de curto prazo de energia corre o risco de entrar em colapso em 2017. Pouco mais de um quarto do valor que deveria ser liquidado em setembro na Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), referente às operações de julho, foi efetivamente pago. Dos R$ 2,4 bilhões, 48% (R$ 1,16 bilhão) estão protegidos por liminares e a inadimplência atingiu 23%. Ou seja, apenas 29%, ou cerca de R$ 700 milhões, foram liquidados no prazo. O impacto da judicialização e do calote no setor é direto no caixa das empresas, que são obrigadas a procurar alternativas para o excedente de energia.
O mercado de curto prazo é o ambiente onde são contabilizadas as diferenças entre a energia elétrica contratada pelos agentes e os montantes de geração e de consumo efetivamente verificados. Essas sobras são negociadas pelo Preço de Liquidação das Diferenças (PLD). Com a crise hídrica do ano passado, algumas hidrelétricas não tiveram água suficiente para gerar a energia vendida por meio dos contratos. Para honrar o compromisso, tiveram que buscá-la no mercado de curto prazo, pagando muito mais caro.
Isso abriu uma discussão sobre a garantia física que os geradores precisam ter e provocou a repactuação do risco hidrológico. Grandes geradores entraram na Justiça porque só aceitam 5% de risco, ganharam liminares e ficaram desobrigados de pagar o valor que ultrapassou esse percentual. Como o valor é rateado entre todos os agentes, outras 58 liminares foram concedidas àqueles que não concordaram com o rateio. A conta sobrou para pequenas empresas, que, sem liminares, teriam que pagar valores, muitas vezes, 10 vezes acima do próprio patrimônio do negócio. Pelo absurdo, também foram desobrigados da fatura extra. Há ainda 34 liminares contra o pagamento integral.
Nesse jogo de empurra e com 147 liminares vigentes, R$ 4,2 bilhões ficaram em aberto até janeiro deste ano, segundo a CCEE. Do total, R$ 2,8 bilhões foram liquidados até julho e R$ 300 milhões devem ser pagos até dezembro. Porém, há R$ 1,16 bilhão no limbo, e muitos agentes que venderam energia ainda não receberam. ;Daqui a pouco, o mercado trava;, afirmou o presidente da Thymos Energia, João Carlos Mello. Pela estimativa dele, se não for encontrada uma solução, isso ocorrerá já em 2017.
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