Economia

Com muito a mostrar, Brasil não atrai visitantes de outros países do mundo

Especialistas consideram que os custos são altos no país, até mesmo para pessoas de nações ricas, principalmente pela baixa qualidade dos serviços; participação de viajantes internacionais é de apenas 0,3%

Simone Kafruni
postado em 09/10/2016 06:00

Casal de turistas do Sul, Rodrigo Stupp e Maellen Muniz, no Memorial JK

O Brasil tem atrações turísticas para todos os gostos, mas não consegue explorar o seu potencial a ponto de atrair um número significativo de estrangeiros. Mesmo com a realização da Copa do Mundo e das Olimpíadas, a receita internacional com turismo é de apenas 0,3% do Produto Interno Bruto (PIB), menor do que a do Iraque, devastado pela guerra, e de países emergentes, aponta levatntamento do banco de investimentos Renaissance Capital, com foco nos mercados de nações em desenvolvimento.

Índia e Rússia também têm problemas de desempenho, diz o estudo, e ainda assim geram mais receita que o Brasil: 1% e 0,6% do PIB, respectivamente. A distância dos principais centros emissores de turistas é uma justificativa para a pífia performance brasileira na área, porém não a única. Para os especialistas, o Brasil é caro demais, mesmo para estrangeiros de países ricos, sobretudo pelo baixo nível de serviços que oferece, basicamente focado em belezas naturais e sem grandes investimentos turísticos.

Além da contribuição para o PIB ser mínima, dados do Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC) mostram que haverá retração no setor em 2016. ;De acordo com a revisão semestral dos nossos números, a queda do setor de viagens e turismo no Brasil foi ampliada de 0,9% para 1,6%, apesar do efeito positivo dos Jogos Olímpicos, por conta da turbulência política e do fraco desempenho macroeconômico;, diz a instituição.

A Empresa Brasileira de Turismo (Embratur) admite o percentual de 0,3% do PIB com receita internacional, que deve alcançar US$ 7 bilhões em 2016. O presidente da entidade, Vinícius Lummertz, ressalta, no entanto, que, ao englobar a movimentação interna, a participação do setor passa para 3,7%, com geração de mais de 3 milhões de empregos. ;Se considerarmos o setor expandido, que agrega segmentos indiretos, a contribuição é de 9% com geração de 8 milhões de postos de trabalho;, diz.

A Embratur estima que o ano feche com a visita de 6,6 milhões de turistas estrangeiros, 4,7% acima dos 6,3 milhões que estiveram no país em 2015. Para se ter uma ideia, Cancún recebe 8 milhões de visitantes por ano. ;A participação do turismo é relevante se considerarmos a movimentação interna. No internacional, de fato é baixo. Nossa contribuição é de apenas 0,5% no PIB do turismo mundial. Mas o volume internacional cresceu 60% de 2003 a 2014. Antes o Brasil era um país muito fechado;, afirma Lummertz.

Baixo investimento

Para o presidente da estatal, os números são resultado do baixo investimento no setor. No ano passado, o Brasil gastou US$ 17 milhões em promoção no exterior, enquanto o México investiu US$ 400 milhões e a Colômbia, US$ 100 milhões. A Embratur participava de 65 feiras por ano; neste ano, foram 15. ;O Ministério do Turismo tem o segundo orçamento mais baixo da Esplanada;, acrescenta.

Também há o entrave dos vistos. O Brasil retirou a obrigatoriedade para canadenses, australianos e americanos durante as Olimpíadas, porque são países que não oferecem riscos migratórios. ;Mas a exigência voltou em 19 de setembro, apesar de termos pedido a extensão por mais um ano;, lamenta.

Em matéria de vistos, o WTTC propõe que os governos tomem decisões políticas que conciliem a segurança de seus cidadãos com a facilitação de entrada de estrangeiros para fins comerciais e de lazer. De acordo com a Organização Mundial do Turismo (OMT), 61% dos 1,2 mil milhão de viajantes internacionais registrados em 2015 precisaram solicitar vistos tradicionais, envolvendo manual de preenchimento de formulários e filas nos consulados. Mais um obstáculo que impede o setor de crescer.

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