Para reconquistar participação no mercado e atrair investidores para os ativos que colocou à venda, a Petrobras anunciou ontem a adoção de uma política de preços mais transparente e alinhada com a cotação mundial do petróleo. A medida começa a valer hoje, com a primeira redução no valor dos combustíveis desde 2009. A estatal baixou o preço do óleo diesel em 2,7% e o da gasolina em 3,2% nas refinarias. Se o ajuste for integralmente repassado aos consumidores, o diesel pode cair 1,8% e a gasolina, 1,4% nos postos de abastecimento. Nos dois casos, a queda seria de R$ 0,05 por litro.
A nova política terá como base dois fatores: a paridade com o mercado internacional, que inclui custos como frete de navios, transporte interno e taxas portuárias, e uma margem para remunerar riscos, como a volatilidade da taxa de câmbio e dos preços, além de tributos. A diretoria da estatal decidiu que, a partir de agora, serão feitas avaliações pelo menos uma vez por mês para revisões de preços. Isso também abre a porta para futuras elevações. ;Como o valor dos combustíveis acompanhará a tendência mundial, poderá haver manutenção, redução ou aumento nos preços;, informou a companhia.
O presidente da empresa, Pedro Parente, destacou que uma política mais clara de reajustes é importante ;neste momento em que a companhia busca atrair parceiros para a área de refino e distribuição;. A estatal está em processo de venda de fatia relevante da BR Distribuidora. ;A adoção de mecanismo de reuniões mensais dará uma transparência maior, que vai ser vista muito bem pelo mercado e consumidores, que terão mais previsibilidade;, disse.
Defasagem
A revisão levou em conta o crescente volume de importações. No caso do diesel, a entrada do produto importado já responde por 14% da demanda do país. Na gasolina, as importações cresceram 28% ao mês entre março e setembro. Isso vinha reduzindo a participação da Petrobras diante da concorrência. Além de reconquistar mercado, a tacada de ;virar o jogo;, como chamou Parente, pretende acabar de vez com a defasagem entre os preços internos e os do mercado internacional, o que provocou prejuízos de US$ 40 bilhões à estatal quando o barril de petróleo chegou a US$ 100.
Com a queda na cotação do barril a U$S 40, a empresa passou a levar vantagem, que chegou a 49% na gasolina e a mais de 60% no diesel, no início deste ano. Em outubro, no entanto, os prêmios caíram para 15,2% e 28,3%, respectivamente, conforme o Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie), por conta da recuperação do petróleo e da valorização cambial.
Nem mesmo a redução dessa vantagem, com a queda nos preços anunciada ontem, abalou o mercado. Pelo contrário, como Parente estimou, as ações preferenciais avançaram 3,17% e as ordinárias subiram 2,29%, colaborando para a valorização de 1,06% do Ibovespa, principal índice de rentabilidade da Bolsa de Valores de São Paulo; o indicador chegou aos 61.767 pontos, maior patamar desde 3 de setembro de 2014.
Na avaliação do economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, o mercado gostou do ;sinal de maior transparência e previsibilidade; e não se preocupou tanto com a redução das margens da companhia. Para Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset, as ações da estatal subiram porque ;finalmente a Petrobras está agindo como uma empresa, com governança;.
Credibilidade
No entender de Adriano Pires, diretor do Cbie, a empresa terá maior flexibilidade na gestão comercial de derivados para estimular as vendas. ;Ela poderá conceder descontos pontuais em mercados específicos. Isso porque o alto prêmio também provocou perda de market share, que a companhia agora quer recuperar;, avaliou.
O especialista criticou, no entanto, a redução nos preços. ;Isso não precisava. O prêmio já vem caindo, por conta do preço do barril. Outra coisa estranha é ter reduzido mais a gasolina do que o diesel, que está com uma vantagem maior;, explicou. Do ponto de vista do consumidor, Pires considerou a redução de R$ 0,05 irrelevante. ;As margens dos postos de revenda estão ruins por causa do baixo consumo. Eles podem absorver e nem repassar a queda na bomba;, estimou.
Para Álvaro Bandeira, economista-chefe da Modalmais, a companhia pode perder em preço, com a redução nas refinarias, mas vai ganhar em volume de combustíveis vendidos. ;A empresa ganha em credibilidade. Além disso, será positivo para o país pois vai acirrar a concorrência;, disse.
A redução nos preços também vai dar um alívio na inflação e pode acelerar a redução de juros pelo Banco Central. A política de mais transparência ainda será fundamental para a companhia encontrar parceiros para as subsidiárias que quer vender. Ontem à noite, a Petrobras comunicou o mercado que ;está em negociações avançadas com a Ultrapar Participações S.A. relativas ao processo de venda da Liquigás Distribuidora S.A;.
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