Azelma Rodrigues - Especial para o Correio
postado em 21/11/2016 06:01
Os meios de pagamento eletrônicos cresceram tanto, nas últimas duas décadas, que, pelos cálculos do Banco Central (BC), cada brasileiro detém, em média, dois cartões na carteira. O que, no entanto, desponta como um avanço, daqui a alguns anos, já será passado. Não por acaso, as empresas têm investido cada vez mais em tecnologia para tornar a vida dos consumidores mais fácil. Os avanços passam pela conversão de celulares, relógios, pulseiras e até anéis em dispositivos que terão as mesmas funções do dinheiro de plástico. O mundo tem visto essas alterações afetarem tendências de consumo e de comportamentos. O que exigia presença física, agora pode ser adquirido no e-commerce, enquanto os pagamentos em espécie (dinheiro vivo) são substituídos pelos cartões.
Exemplos de adeptos dessa praticidade, os servidores públicos Hamilton Farina, 36, e sua esposa, Daniella, 27, não economizam elogios. Ela acha perigoso andar com dinheiro na bolsa nos dias atuais e adotou o cartão de débito. Suas contas mensais já são pagas por meio de um aplicativo no celular. Hamilton diz que é fã da tecnologia como meio de pagamento de contas cotidianas ou extras. ;Uso aplicativos do celular para pagar da lavagem do carro a passagens aéreas;, afirma.
Até o fim do 2015, o Brasil registrava 317,3 milhões de cartões de débito emitidos, além de 165,2 milhões dos de crédito, para uma população estimada em 203 milhões. Esse mundo de cartões movimentou mais de R$ 1 trilhão, dos quais R$ 678 bilhões no crédito e R$ 309 bilhões, no débito. A conta incluiu ainda os cartões de vale-alimentação e de vale-refeição. Na média, o crescimento do setor foi de 11%, apesar da profunda recessão que massacrou a economia brasileira.
Distorções
Com números que só crescem, para o consumidor o interesse é usar com mais facilidade, agilidade e menor custo. Do lado do lojista ou prestador de serviços, a questão também é reduzir o preço das transações, para vender mais barato à clientela. Se financiar sua compra com cartão de crédito, o usuário pagará os juros mais elevados da América Latina: 436% ao ano, em média, 10 vezes mais que o segundo colocado, o Peru, com taxa média de 43,7% anuais.
Já o lojista reclama que também paga no Brasil uma tarifa administrativa bem salgada, às vezes superior à média nacional de 5% sobre o valor da compra no caso do cartão. Essa taxa é mais que o dobro do que empresários de outros países costumam desembolsar. Mas, nesse caso, ela não deriva dos juros altos da rede bancária. O encarecimento das transações com cartões para os lojistas brasileiros é resultado de um ambiente de altos custos operacionais, conjugado com pouca concorrência nesse mercado.
Os empresários querem mudanças, das quais os maiores beneficiários serão os consumidores. ;Os setores de comércio e serviços não estão buscando proteção ou subsídios do governo. Queremos é que as regras do mercado, as boas práticas da concorrência internacional, possam ocorrer também no Brasil, a favor do consumidor;, afirma Paulo Solmucci Júnior, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) e dirigente da União Nacional de Entidades do Comércio e Serviços (Unecs).