Rosana Hessel
postado em 21/11/2016 15:16
O presidente da República Michel Temer não poupou críticas ao governo anterior ao reunir pela primeira vez o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), mais conhecido como Conselhão, em sua gestão. Durante a abertura do encontro nesta segunda-feira (21/11), no Palácio do Planalto, ele reconheceu aos 96 membros do grupo composto por empresários, economistas, consultores, sindicalistas e personalidades que a crise pela qual o país atravessa é sem precedentes e fruto das tentativas de ;ludibriar a verdade;.
Temer disse que, quando assumiu o governo encontrou o país em uma situação na qual, além do deficit fiscal, havia ;um certo deficit de verdade;. O presidente ressaltou que não economizará esforços para a abertura ao diálogo afirmou que ;não falta determinação para agir assim como não falta humildade para escutar;.
O Conselhão tinha mergulhado no ostracismo e os encontros não se resumiam na fala da então presidente Dilma Rousseff e não teve avanços concretos. A última reunião ocorreu em 28 de janeiro de 2016. Temer aumentou o número de mulheres entre os quase 60 novos integrantes e priorizou a fala delas entre os conselheiros. Entre elas, a empresária Luiza Trajano, do Magazine Luiza, que já integrava o CDES demonstrou otimismo com a volta do Conselho e avisou que não defende partido algum. ;Eu não tenho partido. É preciso ter prioridade e data certa para fazer acontecer. Mas o que é preciso é a simplificação porque tem um custo de até 10% que ninguém está ganhando, nem empresa nem governo;, destacou.
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, fez um alerta para a questão fiscal e destacou que Previdência e assistência social foram os principais responsáveis pelo aumento exponencial da despesa primária nos últimos anos, gerando o desequilíbrio nas contas públicas. Ele reforçou a necessidade da reforma previdenciária e adiantou que ela vai fixar uma idade mínima para aposentadoria porque hoje há casos de pessoas que passam mais tempo aposentadas do que trabalhando. Aos críticos, ele costuma fazer a seguinte pergunta: Você prefere se aposentar mais cedo ou ter certeza de que vai receber aposentadoria?;. Meirelles reiterou a importância da aprovação da proposta de emenda à Constituição (PEC) que fixa um teto para o crescimento dos gastos públicos para o reequilíbrio das contas públicas. Segundo ele, se essa regra estivesse em vigor em 2006, as despesas primárias (sem incluir os juros) seriam metade do que são hoje. ;Seria outro país;, avisou.
A economista Zeina Latif, da XP Investimentos, foi bastante realista nesse sentido. ;Não há dúvidas de que a crise fiscal é a mãe de todas as crises;, disse ela, aconselhando que o governo tenha mais transparência na hora de comunicar o tamanho do rombo fiscal e dos esqueletos que podem aparecer no futuro. ;Como economista, o que eu tenho a dizer é que o quadro é extremamente frágil. Não há margem de erro muito grande (para as medidas de ajuste fiscal) e se todos forem defender interesses particulares não vai resolver, mesmo com o mais bem intencionado dos governos;, alertou.
Ao ser chamado para falar durante o encontro, o publicitário e sócio e co-fundador do Grupo ABC de Comunicação, Nizan Guanaes, destacou a importância de um trabalho contundente de comunicação do governo sobre a necessidade das reformas para que o país em 2014 não vir um Rio de Janeiro. Ele aproveitou para dar um conselho a Temer aproveitar a baixa popularidade para tomar as medidas que são necessárias. ;Já que o governo não tem índice de popularidade aproveite. Ninguém faz coisas contundentes com alto índice de popularidade. Aproveite a impopularidade e tome medidas amargas porque esse é o desafio das democracias;, disse ele e foi aplaudido pelos presentes.
O banqueiro Roberto Setúbal, do Itaú Unibanco, destacou que primeiro é necessário ;colocar a casa em ordem; para voltar ao equilíbrio fiscal, com o mínimo de interferência do estado, e medidas adicionais para a retomada do crescimento acima do PIB potencial, de 2%, ;para o país não ficar condenado a crescimentos medíocres;. Nesse sentido, ele destacou a importância das reformas trabalhista, tributária e política para serem complementares à da Previdência e a PEC do teto de gasto que estão em curso para que essa retomada ocorra.
Na saída do encontro, o presidente do banco Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, destacou que a PEC do teto é um complemento da Lei de Responsabilidade Fiscal, que estava ;imobilizada;. ;É um processo de evolução. A crise é profunda e requer remédios amargos e todos tem que pagar uma certa parte para transformar aquilo que é esperança em confiança para investir;, destacou. Ele reconheceu que vai demorar para que isso ocorra devido à deterioração da economia. ;Se o PIB caiu 10% nos últimos anos, a renda média do cidadão talvez caiu 14%. E isso faz com que o mercado de consumo seja um mercado fraco hoje. O desemprego contribui também para que a renda nacional voltada para o consumo seja menor;, explicou.
Para ele, o pior já ficou para trás, mas a retomada ocorrerá apenas no fim de 2017. ;Chegamos ao fundo do poço, seguramente. É hora de retomada. E a retomada depende de transformar esse índice de esperança que é forte no Brasil em confiança e investir. E isso começa em 2017 mas só vai ver o investimento crescer a partir do segundo semestre de 2017;, disse.
A secretária-executiva do Conselho, Patricia Audi, ao abrir a reunião apresentou a data do próximo encontro: 7 de março de 2017 e avisou que o grupo trabalhará o dia todo para definir as quatro prioridades para o governo no ano que vem. Os conselheiros retomarão as atividades à tarde após almoço com Temer no Palácio da Alvorada.
O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, elogiou a retomada do Conselhão e o novo formato e ressaltou que o importante é que o governo dê continuidade às reformas. ;O único consenso que se tem é que não há alternativa, tem que se promover as reformas estruturais que se debate. As reformas são necessárias para o bem do país, para a retomada do crescimento. Para que as prefeituras arrecadem mais do que gastam;, afirmou. ;Mas não adianta fazer todas de uma vez. No momento, priorizou-se o teto de gastos. Em seguida, reforma da previdência. Porque se não, quem vai se prejudicar são os aposentados. Em seguida, já se debate a necessidade de uma reforma trabalhista. Há necessidade de uma reforma política e uma tributária que deverá ocorrer no próximo ano. No primeiro semestre do ano que vem, priorizar-se a reforma da previdência, me parece ser o correto. Depois, se discute as outras reformas;, emendou. (Colaborou Julia Chaib)