Economia

Desemprego e ociosidade da indústria barram crescimento, diz economista

André Perfeito é voz dissonante no remédio para a crise: mais investimentos públicos em infraestrutura, mesmo que isso signifique um deficit primário ainda maior que o esperado

Paulo Silva Pinto - Enviado Especial
postado em 13/12/2016 07:25
São Paulo ; A crise econômica não vai dar trégua aos brasileiros em 2017, avisa o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito. Faltam sinais, na avaliação dele, de aumento da demanda interna , em meio a uma taxa crescente de desemprego, e da externa, por conta da eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, com tendência de fortalecimento do protecionismo. A isso acrescenta-se a crise política no Brasil , que, ele nota, dificultará ainda mais a aprovação da reforma da Previdência.

Perfeito conta com crescimento de apenas 0,2% do Produto Interno Bruto (PIB ) no próximo ano. Está, por enquanto, entre os mais pessimistas. Também é voz dissonante no remédio para a crise: mais investimentos públicos em infraestrutura, mesmo que isso signifique um deficit primário ainda maior que o esperado. O economista participa amanhã do Correio Debate ; Desafios para 2017, no auditório do jornal. Também estarão no evento o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, o secretário executivo do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), Wellington Moreira Franco, os ex-diretores do Banco Central Tony Volpon e Carlos Eduardo Freitas e o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas Gomes.
[SAIBAMAIS]
Como o senhor vê a dificuldade que o país enfrenta para retomar o crescimento econômico?
Estou surpreso, mas não supreendido. O que eu quero dizer com isso é que imaginava que o país não tivesse um crescimento vigoroso neste segundo semestre do ano. Mas a situação está pior do que imaginava. Houve uma melhora na confiança, mas ela encontrou barreiras para se materializar de fato.

Por que isso ocorre?
O desemprego está muito forte e não permite às pessoas consumir mais. E as empresas não vão investir porque a ociosidade da capacidade instalada está muito alta, no maior patamar desde 2008. No setor externo, temos superavit comercial, o que é bom, mas isso só acontece porque estamos importando menos. A redução das compras externas é ainda maior do que a das exportações, que também diminuíram. Todos os componentes da demanda de curto prazo estão em queda. A produção de bens de capital caiu 3,1% no terceiro trimestre, o que é muito forte. Espero crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) de apenas 0,2% no próximo ano, abaixo do que pensa a maior parte de meus colegas economistas.

A que se deve essa expectativa de contituidade do baixo crescimento em 2017?
A PEC (proposta de emenda à Constituição) dos gastos não cria expectativa de demanda a curto prazo. O governo diz que, com a PEC, o juro vai cair e o investimento virá. Só que o juro a longo prazo depende de uma dinâmica que vem do exterior. Lá fora, a expectativa é de o juro subir, não diminuir. Na próxima quarta-feira, o Fomc (comitê de política monetária do Fed, o banco central norte-americano) se reúne e deve subir a taxa de juros. Isso impede que se possa contar com isso. Todos os elementos para o próximo ano mostram a continuidade da desaceleração econômica.

A sua avaliação de ligeira alta do PIB de 2017 indica, ao menos, que atingiremos o fundo do poço?
Não se pode dizer isso com segurança, infelizmente. O PIB só não cai mais porque alguns de seus componentes já estão muito baixos. Outra preocupação é que a crise econômica retroalimenta a crise política. O desemprego continuará em alta. Para a PEC do teto funcionar, precisa conseguir a aprovação da reforma da Previdência. Se ela não for feita, daqui a 20 anos o Brasil será a República Previdenciária. Só terá dinheiro para pagar aposentadorias e juros, mais nada. Mas a questão é: será que o governo vai ter a força necessária para aprovar a reforma da Previdência?

Qual a sua avaliação? O governo conseguirá aprovar a reforma?
A PEC do teto foi aprovada na Câmara porque o governo tinha muita força. Mas já se vê um desconfoto muito grande com a reforma da Previdência. As pessoas estão se incomodando muito com esse negócio de ter de trabalhar 49 anos. Apenas por conta disso, a situação política vai ficar cada vez mais difícil, ainda que não de forma imediata. E há uma série de possíveis desdobramentos da Lava-Jato que podem ser muito tensos. A dinâmica política fica mais dificil por conta dinâmica econômica, com demanda para baixo.
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