Economia

Ex-diretor do BC diz que Brasil precisa de "política monetária agressiva"

Tony Volpon participa de debate sobre rumos da economia, nesta quarta-feira, no Correio Braziliense

postado em 14/12/2016 16:25
Um debate no auditório do Correio Braziliense, nesta quarta-feira (14/12), discute os rumos da economia brasileira para o próximo ano. Estão em pauta assuntos importantes ao país, como a PEC 55, que limita os gastos públicos, além da reforma da Previdência. Um dos importantes discursos do debate foi o do ex-diretor do Banco Central, Tony Volpon. Ele acredita que o que Brasil precisa agora é de uma "política monetária bastante agressiva" para melhorar a situação. "Se é para não perder controle do processo de convergência inflacionário, temos de ter uma política fiscal mais apertada agora. E não ficar jogando a conta para o próximo governo, e para 2018, e 2019". Além disso, segundo Volpon, a autoridade monetária do Brasil deveria cortar até 0,75 ponto percentual na taxa básica de juros (Selic) o "mais rápido possível".

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Ao ser questionado sobre o que seria a ;política monetária agressiva;, Voplon explicou que se trata de um melhor controle da taxa de juros, colocando a inflação dentro da meta. ;Quando eu digo ;agressiva;, eu não estou advogando sobre colocar a inflação o mais rapidamente possível na meta. Mas, fazer isso para 2017 não é, por si só, errado. Quanto mais rápido a gente botar (sic), melhor. Mas, para ter um processo de recuperação mais célere, o que sobrou é política monetária: juros. Para cair de maneira mais agressiva, de 0,5 a um ponto por reunião, eu acredito que deveria ter um aperto na política fiscal em curto prazo, não o atual, que simplesmente joga a conta para o próximo governo. Mas se a gente não puder mudar o mix fiscal-monetário, o Banco Central vai ser induzido a reduzir o juros drasticamente;, explica.

Além disso, o ex-diretor do BC acredita que há uma maneira de sair do dilema da política econômica, mas demandaria que o país começasse a pagar a conta pela "bagunça fiscal" agora. "Não é daqui a dois anos, que é o que a PEC do teto dos gastos faz. Ela promete ser muito austera lá na frente e frouxa a curto prazo, não permitindo que haja queda agressiva da taxa de juros. Não pode é cortar a taxa de juros de maneira agressiva sem contra apoio fiscal o que vai acontecer.;
Tony Volpon participa de debate sobre rumos da economia, nesta quarta-feira, no Correio Braziliense

[SAIBAMAIS]Segundo Volpon, o Banco Central, sob o comando de Ilan Goldfein, está seguindo o que estava trabalhando com Tombini. ;Não dá para fazer uma política fiscal frouxa e a monetária apertada. Essa é a política errada que quer ajudar na reestruturação de consumidores e empresas. Já que, na medida que você não tem espaço para ajudar as empresas e consumidores de outra forma, você pode ajudar baixando os juros. Uma baixa bastante agressiva da taxa de juros é uma alternativa macroeconômica. Pela recente retórica do Banco Central, há previsão de um corte de juros em janeiro. Se isso não for feito, o nível de recuperação vai ser muito lento, e se for muito lento você pode frustrar o resultado fiscal de 2017. Você pode diminuir a popularidade do governo e o governo mais fraco em função da economia não terá capacidade de aprovar medida. Sem a reforma da Previdência, esse teto não se sustenta;, analisa.

Volpon acredita, no entanto, que somente a PEC que asseguraria autonomia ao BC não resolve o problema. "Se a gente elenca do ponto de vista de reformas que precisam ser feitas, essa certamente deveria ser uma delas. Precisamos, sim, de verdadeira autonomia à autoridade monetária, assim como existem em vários países do mundo. O Brasil é a exceção de países de como Chile, México, Peru, que tem BCs plenamente independentes. E aqui parece ser um tabu. Até um governo reformista como o de Temer não consegue chegar lá."

Para ele, Goldfajn não está sendo incoerente na política monetária. "O que está fazendo é tecnicamente correto. Se segue as projeções da autoridade monetária, não permite que corte juros agressivamente e entregue inflação na meta em 2017. O que critico ;entre aspas;, apesar da equipe fazer bom trabalho, é escolha simultânea de querer levar inflação para a meta em 2017, e ter política fiscal que ainda é expansionista."

Já Carlos Eduardo de Freitas, também ex-diretor do Banco Central, criticou a falta de informações mais claras sobre a reforma da Previdência. "[O governo] não consegue dizer quando vai zerar o deficit ou vai zerar. Diz que em 2030 nós vamos economizar. Mas isso não diz nada. Queria ver o fluxo de caixa, cenários, premissas. Quais os efeitos das medidas? Eu não sei." Questionado sobre a reforma da previdência, Freitas disse que o governo apresentou uma reforma para reduzir gastos e não para equilibrar contas. "A minha discussão não é se precisa 49 anos de contribuição, 35 ou da fórmula 85/95, a questão é o deficit", ponderou.

Economistas


Antes dos dois ex-diretores do Banco Central, o economista André Perfeito foi um dos primeiros a discursar no debate promovido pelo Correio Braziliense. Segundo ele, além da questão política, o Brasil não está tendo saldo positivo na balança comercial porque está exportando mais e importando menos. Para 2017, o economista crê que não haverá uma recuperação rápida da economia:o Produto Interno Bruto (PIB) registrará ligeiro crescimento de 0,20%.

Logo depois de Perfeito, foi a vez do professor e consultor econômico, Carlos Eduardo Freitas, expor suas ideias sobre Regime Geral da Previdência Social. "Minha visão do problema da Previdência é que temos um deficit. O governo fala que vai ter uma economia de ;não sei quantos bilhões; nos próximos anos. Para mim, isso não diz nada. Quero saber quais as premissas e como ficarão os deficits;, disse Freitas. Freitas completou dizendo que há um mito entre os economistas de esquerda de que não há deficit na Previdência. "Para eles, as receitas não seriam geradas somente pelas receitas dos contribuintes, mas por alguns impostos também. Eu entendo que a previdência é a ideal para quem tem contribuições que se acumulam em determinado período de tempo. Depois você tem direito de usufruí-la", explicou o economista.

Colaborou Rodolfo Costa e Fernando Caixeta.

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