postado em 16/12/2016 07:03
O setor de construção civil, um dos que mais têm sofrido com a crise econômica, deve terminar 2016 com retração de 5,5%, prevê a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC). A queda é ainda mais acentuada que a do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, previsto para fechar o ano com baixa de 3,48%. Responsável por mais da metade do investimento no país, o setor busca alternativas que levem à retomada da atividade em 2017.
Uma das sugestões do presidente da CBIC, José Carlos Martins, é que o governo invista em parcerias público-privadas (PPPs) e concessões com foco em municípios, que trariam resultados mais rápidos. Em entrevista ao Correio, Martins, falou sobre o balanço negativo do setor, compartilhou a visão sobre o momento econômico e comentou medidas anunciadas ontem pelo governo.
Por que a construção civil tem mostrado resultados piores que o nacional?
Mesmo em época de crise, as pessoas não podem deixar de ir ao supermercado, de colocar as crianças na escola e de cuidar da saúde. Mas podem protelar a compra de um apartamento novo, por exemplo. Isso vale para famílias, indústria e governo. O investimento pode ser deixado para depois.
[SAIBAMAIS]
A CBIC tem defendido o estímulo às parcerias público-privadas (PPPs) de municípios. De que forma isso ajudaria o setor?
Fala-se muito em concessão e PPP, mas esses projetos não teriam efeito antes de 2018. O que sugerimos são opções que poderíamos começar de imediato, como parcerias com municípios. Seriam empreendimentos muito menores, com recursos já disponíveis, do FGTS, e que têm demanda enorme. Serviços relativos a saneamento, iluminação pública, rodoviárias e parques, por exemplo. Inúmeras oportunidades. Ajudaria a puxar o crescimento de baixo para cima.
Por que esse tipo de medida ainda não foi colocado em prática?
Não existe, hoje, essa cultura de PPP em municípios. Por isso, as prefeituras ainda não têm estrutura nem capacidade técnica para poder tocar esses projetos. Primeiro, o governo teria que dar um apoio técnico.
Qual a sua opinião sobre a ideia do governo de permitir que o trabalhador use o FGTS para quitar dívidas?
Acho um absurdo. O que aconteceria na prática é que, inicialmente, daria um alívio, mas, pouco depois, viria um problema enorme: faltaria dinheiro para investimentos em infraestrutura.
O governo anunciou que pretende destinar metade do lucro obtido pelo FGTS para os cotistas. Essa é uma boa ideia?
Sim. Sempre dissemos que essa era a melhor opção para incrementar a remuneração do trabalhador, que é baixa. O FGTS tem os ativos dele, de financiamentos concedidos, patrimônio líquido que aplica no mercado, entre outras remunerações, que montam a R$ 20 bilhões por ano. E gasta R$ 9 bilhões com subsídios. Certamente é possível pegar o que sobra do lucro e remunerar os cotistas.
Quais são as expectativas do setor de construção civil para o ano que vem?
Não há nada que diga que vai melhorar. Trabalhamos com PIB zerado em 2017. Só teremos resultado melhor que o PIB nacional se houver queda significativa de juros. Este ano foi marcado por perda de emprego, foram fechadas 392 mil vagas no setor nos últimos 12 meses, e ainda não há sinal de melhora.