Economia

Expectativa do mercado perde rumo em ano de "choques"

Para alguns, no entanto, houve excessos no meio do caminho, em especial no que se refere as expectativas de recuperação do Produto Interno Bruto (PIB)

postado em 27/12/2016 08:33
O Banco Central divulgou o último Focus do ano, mostrando que a tarefa de prever cenários para indicadores, que nunca é fácil, foi mais complicada do que o usual em 2016O crescimento que era ruim ficou muito pior. A inflação deu inesperado repique, mas despencou. O dólar que era para explodir, no fim, cedeu. A Selic, a taxa básica de juros não caiu o esperado. Em outras palavras, nas expectativas de analistas de mercado, apuradas semanalmente pelo Boletim Focus, do Banco Central (BC), indicadores importantes iniciaram o ano de um jeito e terminaram do outro, alguns oscilando no meio do caminho como exame cardíaco de quem corre na esteira.

Nesta segunda-feira (26/12), o BC divulgou o último Focus do ano, mostrando que a tarefa de prever cenários para indicadores, que nunca é fácil, foi mais complicada do que o usual em 2016. Consultores e economistas dão um desconto para as várias mudanças de rotas que aparecem no Focus ao longo do ano.

"Quando 2016 começou, a incerteza era brutal e ninguém contemplava a mudança de governo: Joaquim Levy tinha acabado de deixar o Ministério da Fazenda, era impossível saber para onde iria a política econômica e Dilma perdia força política", diz Silvio Campos, analista de macroeconomia e de política da Tendências Consultoria Integrada.

Segundo Campos, isso explica porque, lá no começo de 2016, o previsto era que o dólar terminasse o ano em R$ 4,35 - praticamente R$ 1 ou 30% acima da cotação de R$ 3,37, que consta do último relatório do ano - mesmo com a eleição de Donald Trump, para a presidência dos Estados Unidos, que coloca pressão sobre a moeda americana.

Também não dava para prever, justifica ele, a seca severa, que fez de 2016 o ano da inflação do feijão e do leite. Assim, lhe parece razoável que, por volta de setembro, o mercado tenha previsto que a inflação encerraria o ano em 7,3% - bem longe dos 6,4% que constam no último relatório do ano e coloca a inflação abaixo do teto da meta, 6,5%.

"Temos de considerar que 2016 foi o ano dos choques: choque da política, o choque de preços por causa da seca e choque recessivo", diz Campos.

Excesso

Para alguns, no entanto, houve excessos no meio do caminho, em especial no que se refere as expectativas de recuperação do Produto Interno Bruto (PIB).

O pior, avaliam, é que esse otimismo contribuiu, por tabela, para distorcer projeções de inflação e da Selic. "Após o impeachment, houve excesso de otimismo em relação à capacidade de recuperação da economia e esse otimismo afetou não apenas as expectativas de 2016, mas também as de 2017" diz Evandro Buccini, economista da gestora Rio Bravo Investimentos.

Alguns chegaram a prever alta de 2% no PIB do ano que vem. Agora, já há analistas estimando zero ou mesmo nova retração do PIB em 2017. No último Focus do ano, a estimativa é queda de 3,49% nesta ano e de crescimento de 0,5% em 2017.

O economista Luiz Carlos Mendonça de Barros foi um dos maiores críticos desse "excesso de otimismo". Passou os últimos meses chamando a atenção para o conservadorismo do mercado e do Banco Central em relação à queda da taxa básica de juros, a Selic. No começo do ano, o mercado previa Selic de 15,25%. No meio do ano, chegou a prevê cerca de 12%. Mas o BC decidiu fazer cortes mais graduais e ela termina em 13,75%.

"Todas as projeções do mercado e até as do BC não levaram em conta, adequadamente, a gravidade da recessão e seu impacto sobre a inflação, por isso, de setembro para cá, vemos uma queda acentuada e inexplicável na expectativa de inflação. Erraram feio e a economia não conseguiu o alívio que precisava", diz Mendonça.
Por Agência Estado

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