Simone Kafruni
postado em 04/01/2017 06:00
Em 2016, o dólar teve a quarta maior desvalorização desde o Plano Real. Após cinco anos de alta diante da moeda brasileira, o desempenho do Brasil frente à divisa norte-americana foi o melhor entre as principais economias da América Latina. Os dados são da consultoria Economatica. Para os especialistas, no entanto, não há como prever se isso vai se repetir este ano.
Conforme Einar Rivero, gerente de Relacionamento Institucional da Economatica, o dólar teve queda de 16,54% em 2016. ;O maior patamar do ano foi em 21 de janeiro com R$ 4,16 e a menor cotação em 25 de outubro com R$ 3,12;, afirmou. A maior desvalorização anual desde 1995 foi em 2009, quando recuou 25,49%. A Economatica acompanha seis economias na América Latina e apontou maior desvalorização no Brasil, seguida pelo Chile com queda de 5,66% (veja quadro ao lado). Somente dois países registram valorização do dólar em 2016: a Argentina, com 21,47%, e o México, com 19,54%.
[SAIBAMAIS]Para o gerente de câmbio da Treviso, Reginaldo Galhardo, o comportamento pode ser explicado pela sobrevalorização do real desde 2011, quando a cotação do dólar chegou a R$ 1,50 e o Banco Central começou a fazer um programa de ração diária. ;Porém, com a perda de graus de investimento do Brasil, no auge das crises econômica e política, houve uma guinada e o câmbio disparou para R$ 4,50;, lembrou.
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Daí para frente, segundo Galhardo, as mudanças políticas, as entradas de dólares com repatriação e a inversão do programa do Banco Central seguraram a cotação. ;Hoje, a manutenção do dólar baixo continua uma surpresa. Acho que, como terá mais uma rodada de repatriação e o governo aposta em privatizações e concessões com investimento estrangeiro, ainda pode ser baixo no primeiro trimestre. Mas temos muitas incertezas daí em diante;, afirmou.
Galhardo explicou que a moeda norte-americana pode se valorizar diante das demais divisas globais com a política monetária do Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos). ;O Fed prometeu três aumentos nos juros este ano;, ressaltou. O especialista também destacou o temor diante da política de Donald Trump na presidência dos Estados Unidos. ;Ninguém sabe como ele vai atuar;, disse.
Na opinião de Chow Juei, gestor de Recursos da Spinelli Corretora, o real chegou a se desvalorizar 130% diante do dólar nos anos anteriores e o que ocorreu em 2016 foi apenas um ajuste. ;Uma hora ia recuar;, assinalou. Para 2017, o especialista é cauteloso. ;Este ano, se o Brasil fizer as reformas e tudo der certo, o real pode até continuar a se valorizar diante do dólar. Mas há incertezas no cenário internacional. O protecionismo de Donald Trump não deve ser bom para o país;, estimou.
Indicadores positivos nos Estados Unidos
A atividade da indústria nos Estados Unidos atingiu, no mês passado, a máxima dos últimos dois anos e meio. O Instituto de Gestão de Fornecimento informou ontem que o índice nacional subiu 1,5 ponto percentual no mês passado, para uma leitura de 54,7, a mais alta desde dezembro de 2014. Uma leitura acima de 50 indica expansão na indústria, que representa cerca de 12% da economia norte-americana. Em um relatório separado, o Departamento de Comércio informou que os gastos com construção aumentaram 0,9% em novembro, para US$ 1,18 trilhão, nível mais alto desde abril de 2006. Os gastos foram impulsionados pelos ganhos no investimento tanto no setor público como no privado.