Economia

Redes inteligentes economizam energia e garantem consumo consciente

Sistemas automatizados permitem uso mais eficiente de eletricidade, identificação remota de falhas e regulagem da iluminação nas ruas e em ambientes profissionais e domésticos. De uso mais comum em países desenvolvidos, novidade começa a chegar ao Brasil

Simone Kafruni
postado em 16/01/2017 06:00

As novas tecnologias que vão moldar o futuro, como o uso de robôs, carros autônomos e a internet das coisas prometem revolucionar a vida diária. No entanto, por mais fascinantes que sejam, elas de nada adiantarão se faltar energia. A preocupação com a geração e a distribuição de eletricidade é fundamental para manter o novo mundo digital em funcionamento. As redes inteligentes de energia ; smart grids, em inglês ; garantem uma arquitetura de distribuição elétrica mais segura, conectando todos os usuários da cadeia e proporcionando soluções mais eficientes, como geração sustentável e consumo consciente.

O conceito de rede inteligente parte do princípio de que o fluxo de energia elétrica e de informações se dá de forma bidirecional. Assim, a energia tradicionalmente gerada e distribuída a partir de instalações das concessionárias poderá, também, ser produzida e integrada às redes elétricas a partir de unidades consumidoras, como fábricas, lojas e residências. A tecnologia permite desligamentos e religamentos remotos e a detecção de falhas na rede. Com ela, as concessionárias podem oferecer tarifas diferenciadas e flexíveis, dispensar os leituristas e eliminar ligações clandestinas.

Para Raul Colcher, especialista do Instituto de Engenheiros Elétricos e Eletrônicos (IEEE), a implementação de smart grids está em fase inicial no Brasil, mas já existem investimentos privados no desenvolvimento de medidores, que são dispositivos essenciais à viabilização de redes inteligentes de distribuição. ;Ainda há necessidade de regulamentar as tarifas, que sinalizam os custos de capacidade das redes. Elas são a base de mudança do comportamento das pessoas para que haja consumo consciente de energia;, afirma.

Na opinião de Gadner Vieira, gerente-geral da Silver Spring Networks no Brasil, o país passa por um momento de transformação. ;Os avanços começaram pela energia porque ela é cada vez mais escassa e importante;, diz. ;Começou nos medidores, depois passou para transmissão, permitindo aplicações em veículos elétricos, painéis solares. E vem migrando para outras aplicações. As cidades estão se tornando inteligentes, com novos conceitos de iluminação pública, equipamentos led e dimerização (diminuição da intensidade conforme a necessidade para economizar energia);, explica.

Vieira destaca que foi a partir das redes inteligentes que a internet das coisas (IoT, sigla em inglês para Internet of Things) se materializou, utilizando a mesma tecnologia em eletrodomésticos, sensores que cuidam de irrigação de jardins, latas de lixo que avisam quando estão cheias, câmeras que mandam alarmes e outras inovações. ;A smart grid foi a primeira aplicação em cima da filosofia da internet das coisas, porque os medidores falam com outros equipamentos e tomam decisões.;

O uso se intensificou na véspera da Copa do Mundo no Brasil, com o desafio de garantir que não faltasse luz nas cidades-sede. ;Foram feitos testes, com a colocação de 700 pontos. Depois dos benefícios, a rede foi ampliada para mais de 3,7 mil pontos;, ressalta Vieira. No Brasil, a Silver Spring Networks trabalhou em conjunto com a CPFL, por três anos, para automatizar chaves e sensores de distribuição de energia.

Como a infraestrutura de distribuição é antiga no país, quando consumidores passam a gerar energia a partir de painéis solares, a medição se torna um problema para as concessionárias. ;É preciso identificar quando ele está injetando e quando está consumindo energia. Além disso, é necessário haver controle para que a injeção não cause distúrbio para os vizinhos, afetando tensão e a corrente;, assinala. Só com uma rede inteligente, como as que já existem em Paris, Estocolmo, Copenhagen, Glasgow e Miami, é possível gerenciar tudo isso e ainda agregar o controle da iluminação pública e dos semáforos.

Custos em queda

O diretor da empresa de projetos luminotécnicos AMX Brasília, Márcio Simas, explica que as redes inteligentes permitem a automação da iluminação dos ambientes ou escritórios, fábricas, aeroportos, trazendo benefícios ao meio ambiente e contribuindo diretamente com a eficiência energética. ;Com o aumento da utilização dessa tecnologia em escala mundial e a expansão da oferta por mais fornecedores, os custos dos equipamentos estão caindo;, diz Simas. A aplicação em indústrias, grandes empreendimentos e até em residências é cada vez mais viável, estimulando a procura das pessoas por sistemas mais ecológicos.

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