[SAIBAMAIS]Segundo Daniel Leichsenring, economista-chefe da Verde, o prognóstico não mira limitações de curto prazo, como vendas do varejo ou produção industrial. Considera fatores de longo prazo e deficiências estruturais. Foram avaliados três itens considerados vitais para o crescimento: o volume de investimentos, principalmente em novos equipamentos e tecnologias de ponta; a produtividade dos trabalhadores e das empresas - ou seja, a capacidade de o País produzir mais e melhor com menos; e, por fim, a oferta de mão de obra jovem. Os três itens têm sérias limitações.
A taxa de investimento médio despencou. Está em 16,6%, baixíssima sob qualquer aspecto. No mundo, a média é 24%. No Brasil, de 1980 a 2016, foi de 19,6% ao ano, na média. Parte da retração ocorre por uma deficiência que se mostra estrutural: desde os anos 2000, as empresas têm queda de rentabilidade. Como boa parte do investimento vem de lucros retidos, não é de se espantar que o investimento mergulhe.
A estrutura de concessão de crédito não ajuda. Um estudo recente do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), destrinchou a falta de opções de financiamentos de longo prazo no País e seus efeitos sobre a capacidade de as empresas avançarem.
No que se refere a produtividade, a situação é penosa, segundo estudo comparativo do economista Fernando Veloso, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio (Ibre/FGV). De 1980 a 2015, a produtividade americana cresceu 1,5% ao ano; a do Chile, 1,8%; a do Brasil, 0,1% - ou seja, não saiu do lugar.
Reformas
Na avaliação de Leichsenring e de outros economistas que acompanham o tema, para reverter essa tendência, o País precisa encarar, na esfera pública, uma "agressiva" agenda de reformas institucionais, e no setor privado, a modernização na forma de pensar e fazer os negócios. "O atual governo divulgou medidas, pacotes, que vão direção correta e propôs a reforma da Previdência, mas é preciso ter em mente que a produtividade do Brasil entrou em colapso, algo que só se resolve com reformas agressivas e continuas", diz Veloso.
A lista de deficiências que puxam a economia para baixo é extensa, diz Naercio Menezes Filho, coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper. Burocracia. Carga tributária elevada e complexa, que distorce a produção e a competição. Protecionismo, com barreiras tarifária e não tarifárias, inclusive sobre a importação de insumos de maior qualidade, fundamentais para alavancar o crescimento. Baixo investimentos em pesquisa e desenvolvimento.
"Olhemos no entorno. Temos recessão, Lava Jato, gente sendo morta dentro de prisões. Não chegamos até aqui por acaso. Foi preciso muito coisa errada e, para sair da atual situação e fazer o País avançar, não podemos admitir lobbies para preservar protecionismo, dar privilégios para alguns, promovendo a cultura de baixa eficiência nos negócios e no governo. Basicamente, temos repensar o Brasil olhando o que outros países fizeram de certo", diz Menezes.
Há outra razão para priorizar as reformas. Leichsenring avisa que não há como recuperar aquele foi o principal motor de crescimento do Brasil até agora, a demografia.
Historicamente, um número maior de pessoas ingressando no mercado de trabalho impulsionou o crescimento. De 1980 para cá, a população ativa avançou 2,1% ao ano, na média, e a economia cresceu 2,5% ao ano. "É um efeito mecânico: cada pessoa a mais produzindo, maior a capacidade de crescimento", diz Leichsenring Olhando para frente, será diferente: nos próximos 10 anos, a população ativa vai crescer 0,7% ao ano - um terço do que se viu nos últimos 30 anos. Entre 2026 a 2036, o avanço estanca. Será zero. "A partir daí, a população em idade de trabalho começa a cair e não será daí que virá crescimento", diz.
Vários estudos já sustentam que o País perde força para crescer. No jargão econômico, perde Produto Interno Bruto Potencial. O fato de a projeção vir do Verde preocupa. O Verde faz a gestão do Fundo Verde, no Brasil o mais conhecido dos head fund - investimento que mistura moedas, títulos, entre outros ativos. Ele é o mais rentável da história desse segmento no País, justamente pela habilidade de seus gestores para prever - e acertar - tendências econômicas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.