O filho mais velho de Vicente Goetten não vai aprender a dirigir, adianta o pai, diretor executivo do laboratório de pesquisa e desenvolvimento da empresa de soluções de negócios Totvs, nos Estados Unidos. Não por falta de recursos ou de vontade, mas porque não será necessário. Quando ele tiver idade para tirar carteira de motorista, daqui a mais de uma década, pilotar o próprio carro será uma atividade antiquada. Máquinas, que hoje controlam ações como frear e ligar os faróis automaticamente já terão assumido os veículos por inteiro.
Essa é a expectativa de empresas como a Totvs, que acredita que os primeiros carros completamente autônomos serão apresentados aos consumidores finais até 2018. Dentro de uma década, esses veículos estarão massificados em países como Estados Unidos e China, aposta Goetten. ;No passado, tinha um intervalo muito grande entre a adoção de tecnologias nas nações mais desenvolvidas e nas emergentes, mas isso diminuiu muito. É provável que essa transição ocorra de forma muito rápida também no Brasil;, afirma.
Dentro do mesmo prazo de 10 anos, 60% dos formuladores de políticas públicas acreditam que haverá pelo menos uma cidade que terá banido o uso de carros tradicionais, mostra estudo da consultoria BCG. Em Oslo, na Noruega, por exemplo, já se cogita banir o tráfego de carros comuns no centro da cidade até 2020.
Vantagens
;A facilidade de não ter de se preocupar com vagas de estacionamento, ganhar tempo para ser multitarefa e usar o período da viagem para ser mais produtivo são os principais pontos apresentados pelos motoristas que desejam usar carros autônomos;, constatou a pesquisa da BCG. A estimativa da consultoria é que em cidades com veículos próprios e táxis autônomos haja uma queda de 60% no número de carros nas ruas, de 80% nas emissões de gás carbônico e de 90% nos acidentes de trânsito.
Menos tempo perdido no trânsito com engarrafamentos e menos acidentes estão entre as vantagens desse tipo de inovação. ;O ser humano poderá aproveitar o tempo para fazer outras coisas, já que terá a máquina dirigindo no lugar dele. O trajeto deixará de ser uma preocupação e, assim, se economizará muito tempo. As pessoas ficarão mais produtivas;, observa David Reck, CEO da empresa de tecnologia Reamp.
Além disso, é consenso: robôs com sensores têm menos chances de errar que o ser humano, o que indica que a adoção de carros autônomos reduzirá também problemas de saúde e mortes decorrentes de acidentes automobilísticos, que não são poucos. Por ano, cerca de 1,3 milhão de pessoas morrem em acidentes de trânsito no mundo, de acordo com estudo da Organização Mundial de Saúde (OMS). Isso significa que há um acidente para cada 100 mil quilômetros de rodovias. Com os veículos autônomos, a expectativa é que essa proporção caia para um em cada 10 milhões de quilômetros, o que resulta em cerca de um milhão de mortes a menos por ano. Ao investir em carros autônomos, a Volvo disse que o objetivo é acabar com as mortes no trânsito até 2020.
Avanço
Embora ainda não estejam à venda, 130 veículos autônomos estão autorizados a rodar em testes nos Estados Unidos, conduzidos por empresas como Alphabet, Tesla, Volkswagen, Mercedes-Benz, Nissan e as fabricantes de peças Bosch e Delphi. Com a promessa de iniciar até 2020 a produção de automóveis sem motorista, a Google, da Alphabet, tem desenvolvido veículos autônomos, desde 2009, e vem testando o protótipo em vias públicas dos Estados Unidos há pelo menos dois anos.
Os avanços têm sido consideráveis nos últimos meses. Em outubro, a Tesla anunciou que os carros da empresa já sairão de fábrica equipados com sistema completamente autônomo, com câmeras de visão de 360 graus, sensores ultrassônicos capazes de detectar objetos e radares que detectam outros veículos, além de chuva, neblina e poeira. Para testar o equipamento, a empresa planeja realizar uma viagem, ainda este ano, de Los Angeles até Nova York usando a tecnologia.
;Dirigir um carro vai ser a mesma coisa que andar a cavalo. A pessoa vai fazer isso longe da cidade, para poder correr riscos. Aprender a dirigir vai ser inútil para a maioria das pessoas;, resume Vicente Goetten, da Totvs Labs. Pesquisa feita pela empresa de marketing digital Prophet comprova o que ele diz e mostra que os jovens britânicos, hoje em dia, preferem ganhar um smartphone a um carro zero. ;O cliente quer sempre uma experiência melhor, que o serviço esteja disponível o tempo todo e em qualquer lugar;, explica Gabriel Hahmann, diretor de vendas da Irdeto, empresa voltada para tecnologia de segurança de softwares.
A matéria completa está disponível aqui, para assinantes. Para assinar, clique aqui