Agência Estado
postado em 26/01/2017 14:31
A produção brasileira de têxteis e peças de vestuário pode voltar a crescer em 2017, após uma retração no ano passado. A Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) prevê crescimento de 1% no volume de produção tanto de materiais têxteis como de vestuário.
Em 2016, houve uma queda de 6,7% na quantidade de peças de vestuário produzidas. O volume terminou o ano em 5,41 bilhões de peças. Já a fabricação fios e tecidos caiu 5,3% no ano passado, chegando a 1,7 milhões de toneladas.
A perspectiva mais positiva para 2017 é justificada por uma expectativa melhor do cenário da economia brasileira. A tendência de queda das taxas de juros e de que a inflação fique mais próxima do centro da meta são citadas pela Abit como elementos favoráveis ao setor, embora haja incertezas no horizonte do mercado doméstico e externo.
O recuo na produção em 2016 ocorreu em meio à retração do mercado doméstico e também das exportações. O volume de exportação recuou 3,7% no ano passado, chegando a 199 mil toneladas de produtos têxteis e de vestuário.
A retração do varejo também fez com que as importações fossem menores. Elas recuaram 2,3% em volume, chegando a 1,1 milhão de toneladas.
A Abit projeta ainda uma melhora nos investimentos do setor depois de uma forte queda no ano que passou, muito embora não se espere que os investimentos voltem ao patamar pré-crise. Em 2016, as indústrias têxteis e de confecção investiram cerca de R$ 1,67 bilhão em máquinas e equipamentos, uma retração de 25,5% na comparação com o ano anterior. Este ano, a Abit espera investimentos de R$ 1,75 bilhão, um crescimento de 4,8% ante 2016, mas ainda abaixo do patamar de mais de R$ 2 bilhões de anos anteriores.
Efeito Trump
A postura mais hostil do novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, nas relações comerciais com a China pode atingir a América Latina e é uma preocupação para um setor que convive em peso com as importações chinesas: a indústria têxtil. O presidente da Abit, Fernando Pimentel, avalia que eventuais barreiras dos EUA para entrada de produtos chineses no país pode elevar a disponibilidade deles no Brasil.
"Ninguém sabe muito bem qual será o desdobramento desse possível embate entre China e Estados Unidos, mas se Trump enfrentar a China, sobretaxar produtos, isso cria oportunidades e ameaças", considerou Pimentel. "Qualquer 10% de produto chinês que os norte-americanos não comprarem e que venha para o mundo, tem um impacto grande", concluiu.
Pimentel considerou ainda que a retirada dos norte-americanos de fóruns mundiais e de pactos de comércio internacional tende a fazer com que a China busque ocupar o espaço deixado pelos Estados Unidos, o que pode aumentar a relevância dos chineses na América Latina. Do ponto de vista da indústria têxtil, disse, essa intensificação da influência chinesa poderia dificultar pautas relacionadas à defesa comercial.
"Com o recuo dos americanos de fóruns internacionais, o chinês vai avançar e tentar ocupar espaços dos EUA na América Latina, o que vai dificultar discussões sobre defesa comercial legal", ponderou.
Tendência das importações
O setor têxtil e de vestuário acredita em uma tendência de elevação das importações de peças no Brasil este ano depois de o câmbio ter impulsionado a substituição por produtos nacionais ao longo do ano passado. A previsão é do presidente da Abit.
Para 2017, a entidade projeta que o déficit da balança comercial do setor deva chegar a US$ 3,7 bilhões ante R$ 3,2 bilhões de 2016. A expectativa é que as importações cresçam até 10% para 1,21 milhão de toneladas ao mesmo tempo em que as exportações tendem a crescer em ritmo menor, de 5%, para 209 mil toneladas.
Para o superintendente de Políticas Industriais da entidade, Renato Jardim, o ano de 2016 foi marcado por uma substituição de fornecedores no grande varejo. As redes de grande porte, ponderou, passaram a se abastecer mais de produtos nacionais, derrubando as importações, diante da alta volatilidade cambial do último ano e de incertezas.
A Abit avalia, porém, que o patamar historicamente baixo das importações atingido no último ano, sobretudo em roupas prontas, deve voltar a subir diante da atual faixa de câmbio.
Quando varejistas começaram a buscar alternativas domésticas a produtos importados, o dólar havia atingido um pico de R$ 4. Agora, com a moeda norte-americana oscilando mais próxima da faixa dos R$ 3,20, a Abit considera que algumas categorias de produtos importados voltam a ser mais competitivas.
Para Pimentel, o principal impacto se dá nas peças de inverno, que não são especialidade da indústria nacional. "Já temos informações de grandes redes de varejo que voltam a se posicionar no exterior de forma mais forte, mas acreditamos que a melhor relação conquistada em 2016 entre varejo e indústria nacional não deve ser desfeita", concluiu.