Rosana Hessel
postado em 01/03/2017 07:36
A Via Varejo, empresa do Grupo Pão de Açúcar e dona das marcas como Ponto Frio, Casas Bahia e Extra.com, está à venda desde novembro de 2016, quando os controladores enviaram um fato relevante ao mercado. Tudo indica que o negócio está próximo de ser fechado, tanto que, nos últimos dias, houve um movimento atípico na Bolsa de Valores de São Paulo (BMF). Apenas em fevereiro, as ações ordinárias (com direito a voto) acumularam alta de 24,31%, após queda de 13,4% em janeiro. O papel da Via encerrou a sexta-feira a R$ 4,04, com alta de 2,02% sobre véspera, na contramão da Bovespa, que caiu 1,18%.
;É preciso filtrar os boatos para saber por que as ações subiram tanto em tão pouco tempo. Há rumores sobre a proximidade de fechamento do negócio. Se essa operação acontece, dado o tamanho estratégico, a empresa precisa comunicar primeiro à CVM (Comissão de Valores Mobiliários);, explicou o gestor de fundos de ações da Daycoval Investimentos, Juan Morales. Procurados, a Via Varejo e o Grupo Pão de Açúcar se negaram a comentar o assunto.
[SAIBAMAIS]A expectativa é de que a venda da Via Varejo ocorra até abril. Fontes do mercado citam a rede varejista brasileira Lojas Americanas e os fundos de investimento norte-americanos Advent e Carlyle entre os interessados. Procurada, a Lojas Americanas não comentou o assunto. O sócio da área de fusões e aquisições da PricewaterhouseCoopers (PwC), Marcio Vieira, aposta que os fundos de private equity são os candidatos mais fortes para o negócio, pois possuem grande volume de capital para investir no país. ;Os ativos brasileiros ainda estão muito baratos, mesmo após as altas da BM desde o ano passado. O momento é bom para esse tipo de investidor porque ele consegue aguardar a recuperação da economia, que ainda será lenta;, explicou o sócio da PwC.
Aliás, o mercado no qual a Via Varejo está inserida não iniciou uma retomada, de acordo com o superintendente de Estatísticas Públicas do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), Aloisio Campelo. O consumo das famílias tem um peso forte na atividade econômica e não vai conseguir puxar o Produto Interno Bruto (PIB) neste ano, segundo ele, pois o desemprego ainda é elevado e os brasileiros estão muito endividados. ;Estamos saindo de uma onda de certo artificialismo na compra de bens não essenciais;, afirmou.
O estímulo do governo fez com que houvesse uma expansão no crédito não observada antes. ;Muita gente que estava fora desse mercado acabou entrando e consumiu mais do que precisava;, asseverou. ;As famílias estão num processo grande de desalavancagem, e não estão conseguindo comprar nem mesmo vestuário. As coisas já adquiridas estão sendo gastas. E, como a massa salarial ainda está em queda, o ajuste no mercado ainda será lento, porque a tendência atual é de aumento da informalidade do emprego;, alertou Campelo.