Rodolfo Costa
postado em 08/03/2017 06:00
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A recessão fez diversas vítimas. E os consumidores foram, talvez, os que mais sentiram a retração econômica. Com o aumento do desemprego somado a um quadro de elevado endividamento e inflação ; que pressionou o orçamento dos brasileiros até o início do segundo semestre do ano passado ;, a renda desabou e os gastos despencaram. Isso fez com que o consumo das famílias, indicador que representa cerca de 60% do Produto Interno Bruto (PIB) pelo lado da demanda, recuasse 4,2% em 2016, segundo divulgou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O gasto das famílias não apenas registrou recuo superior ao registrado em 2015, quando caiu 3,9%, como também foi o mais intenso em toda a história do indicador. Inclusive, foi a primeira vez que o índice caiu durante dois anos seguidos. Diferentemente dos investimentos, o consumo nos lares brasileiros não apresentou melhora expressiva ao fim do ano. No quarto trimestre, as despesas caíram 0,9% em relação ao terceiro trimestre.
A inflação e o recuo na renda gerou uma crise sem precedentes para o servidor José Evanilson de Moraes, 44 anos. Encostado pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) desde 2014, passou a viver dos bicos com transporte fretado de passageiros em um ônibus que comprou no mesmo ano. Na época, conseguia um lucro de R$ 2 mil por viagem. Hoje, consegue uma receita livre de R$ 800. ;Os preços subiram, apertaram o bolso dos meus clientes, e não consigo mais viver disso;, lamentou. Moraes, agora, consome apenas alimentos básicos e colocou o ônibus à venda. ;Não tem outro jeito. Preciso do dinheiro para não ficar em situação financeira tão apertada.;
A explicação principal para o aprofundamento da queda no consumo das famílias é o desemprego. Na contramão da inflação, que desacelerou nos três últimos meses de 2016, a taxa de desocupação cravou em 12% no mesmo período. Sem postos suficientes no mercado formal para absorver a massa de 12,3 milhões de desempregados, somado a um efeito de desaceleração da renda de informais devido ao aumento da concorrência de trabalhadores por conta própria, o efeito conjunto disso intensificou a queda do consumo.
Divergência
As opiniões para a tendência deste ano se dividem. Alguns analistas cravam uma ligeira alta no consumo, próxima de 0,5%, mas outros ainda esperam por nova retração. É o caso da Tendências Consultoria, que prevê um recuo de 0,3% no indicador. ;Como há um cenário de elevado endividamento das famílias, a reação de fundamentos econômicos, como a inflação, não necessariamente vão se reverter em consumo;, avaliou o analista Rafael Bacciotti.