Jornal Correio Braziliense

Economia

Serraglio chama de 'grande chefe', líder de fraude na venda de carnes

A investigação aponta Daniel Gonçalves como o "líder da organização criminosa". Na gravação, Serraglio, que assumiu o Ministério da Justiça no início do mês, se refere a ele como "o grande chefe"

Aúdios gravados pela Polícia Federal na Operação Carne Fraca capturaram uma conversa do atual ministro da Justiça, Osmar Serraglio (PMDB-PR), com o fiscal agropecuário Daniel Gonçalves Filho, superintendente do Ministério da Agricultura no Paraná entre 2007 e 2016. Daniel Gonçalves é um dos alvos da investigação de venda irregular de carne no país. O ministro não é investigado na ação.

[SAIBAMAIS]A investigação aponta Daniel Gonçalves como o "líder da organização criminosa". Na gravação, Serraglio, que assumiu o Ministério da Justiça no início do mês, se refere a ele como "o grande chefe". Na conversa, Daniel é informado sobre problemas que um Frigorífico de Iporã estaria tendo com a fiscalização do MAPA. "Logo após encerrar a ligação, Daniel ligou para Maria do Rocio, contando-lhe que o fiscal de Iporã quer fechar o Frigorífico Larissa daquela localidade", diz o documento. "Ele pede a ela que averigue o que está acontecendo e lhe ponha a par. ela então obedece à ordem e em seguida o informa de que não tem nada de errado lá, está tudo normal, informação esta depois repassada a Osmar Serraglio."

O relatório que cita o ministro peemedebista foi encaminhado à Justiça, com sugestão para envio à Procuradoria-Geral da República. Como deputado federal pelo PMDB do Paraná, o atual ministro da Justiça detém prerrogativa de foro perante o Supremo Tribunal Federal (STF). Ele não é, no entanto, alvo da investigação. "Conforme bem destacado na manifestação ministerial, dos diálogos não se extraem elementos suficientes no sentido de que o parlamentar (Deputado Federal) que é interlocutor em um dos diálogos, que detém foro por prerrogativa de função, esteja envolvido nos ilícitos objeto de investigação no inquérito policial relacionado a este feito ou em qualquer outro que requeira neste momento o envio de peças ao Tribunal competente para eventual apuração de ilícito penal", diz a decisão do juiz Marcos Josegrei da Silva, da 14; Vara Federal.

Entenda

Alguns dos principais frigoríficos do país estão na mira da Operação Carne Fraca, que cumpre hoje 309 mandados judiciais em seis estados e no Distrito Federal. A ação da Polícia Federal, em conjunto com a Receita Federal e o Ministério Público Federal (MPF), investiga o envolvimento de fiscais do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa), a partir de superintendências federais da Agricultura em vários estados, em um esquema criminoso que liberava licenças e fiscalização de frigoríficos de modo irregular.
Há indícios de que as empresas investigadas, que têm mais de 60% do mercado de carnes no país, tenham vendido até carne com prazo de validade vencido, maquiadas com ácido ascórbico para disfarçar o mau cheiro e embaladas com novo prazo de validade, de acordo com o delegado federal Maurício Moscardi Grillo. Outros produtos, como lotes de frango, eram moídos com papelão e há relatos de que até água era injetada na carne para que o peso aumentasse, além de ser verificada a falta de proteína nas peças. As vendas desses itens ocorriam tanto no Brasil quanto no exterior. A Justiça Federal do Paraná determinou o bloqueio de R$ 1 bilhão das investigadas.

O Ministério da Justiça afirmou em nota que o ministro soube hoje, "como um cidadão igual a todos", que teve seu nome citado em uma investigação. "A conclusão tanto pelo Ministério Público Federal quanto pelo Juiz Federal é a de que não há qualquer indício de ilegalidade nessa conversa degravada", diz a nota.
Com informações da Agência Estado