A falta de saneamento é um dos principais vilões da crise hídrica. As 100 maiores cidades brasileiras cobraram da sociedade, nos últimos cinco anos, R$ 123 bilhões pelo serviço. No entanto, o valor investido na universalização e implantação de rede de esgoto foi de apenas 23% do total arrecadado. O baixo investimento no tratamento de água, o aumento populacional e o consumo cada vez maior dos recursos hídricos provocaram a crise de abastecimento pela qual passam vários estados do país, inclusive o Distrito Federal.
Desde janeiro, os brasilienses estão convivendo com o racionamento de água. O rodízio de abastecimento começou em 16 de janeiro em quase 20 regiões administrativas e, segundo a Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do DF (Adasa), não tem data para acabar. Os reservatórios atingiram níveis críticos e a situação pode piorar com a chegada do período seco, que se estende de abril a setembro.
Nos dois últimos anos, a quantidade de chuva foi 35% menor do que a média dos anos anteriores. Para os especialistas, no entanto, não só a falta de chuvas explica a situação. Edson Carlos, presidente do Instituto Trata Brasil, afirmou que o fato de 100 milhões de brasileiros não terem seus esgotos coletados agrava a crise hídrica.
Brasília está em 31; lugar no ranking nacional de saneamento. ;Praticamente todos os corpos d;água localizados em áreas urbanas encontram-se poluídos. A infraestrutura no Brasil é atrasada. Nós avançamos na universalização do acesso à água. Mas a coleta e o tratamento de esgoto contemplam somente 42% da população, quando os números ideais seriam de 80% a 100%;, disse Carlos.
Segundo o Instituto, o custo para universalizar o acesso à água potável e ao tratamento de esgoto no país é de R$ 303 bilhões em 20 anos. Sem isso, os mananciais serão comprometidos. ;A cidade de São Paulo é abastecida por reservatórios. Existe uma represa do tamanho da Cantareira, na qual a água está muito poluída. Ela foi criada para gerar energia elétrica, mas o esgoto da região do ABC entra na represa. Como não houve preocupação em tratar a água, São Paulo teve crise de abastecimento;, explicou.
Para Oscar Cordeiro, professor da Universidade de Brasília (UnB), o grande ganho do investimento em água é a melhoria da saúde da população e eficiência em atividades econômicas. A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera que cada R$ 1 investido em saneamento corresponde a R$ 4 de economia na área de saúde. Cordeiro argumentou que é preciso olhar a questão da água de forma ampla, pois há impacto econômico com o uso nas indústrias e no agronegócio.
Consumo
Com o crescimento populacional e o consumo elevado de água na agricultura e nas indústrias, os problemas de abastecimento vão continuar ocorrendo no país, projetou o especialista em recursos hídricos Sergio Koide. ;A população de Brasília tem aumentado cerca de 60 mil pessoas por ano na última década. Além da falta de chuvas, da ausência de planejamento e investimento em infraestrutura, a expansão desordenada do território causa dano ambiental e reduz a capacidade de retenção de água do solo;, explicou.Koide afirmou que a Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) sabia, desde 2000, que, a partir de 2005, a demanda de água se aproximaria da oferta. ;As pessoas que trabalham com o planejamento conseguem antever quando vai começar a zona de risco, mas, como os investimentos são altos, nem sempre eles são cumpridos;, lamentou.