Jornal Correio Braziliense

Economia

Analistas avaliam que dívida cairá R$ 140 bi se a Selic chegar a 8,75%

Economia com cada ponto percentual de queda dos juros, segundo Itaú Unibanco, pode chegar a R$ 35 bilhões; mercado aposta em taxa básica de um dígito neste ano



De acordo com dados do BC, cada ponto percentual a menos na taxa básica implica redução de R$ 22 bilhões na dívida líquida. Pelas estimativas do Itaú Unibanco, considerando os vencimentos e componentes da dívida deste ano, a diminuição será de cerca de R$ 25 bilhões para cada ponto de queda, podendo atingir R$ 35 bilhões caso a queda da Selic se propague, passado os efeitos dos vencimentos, para outros indexadores da dívida.

Pelas contas do economista Carlos Eduardo de Freitas, ex-diretor do BC, a economia com juros poderá chegar a R$ 120 bilhões neste ano, ou seja, algo como 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB). ;O impacto fiscal é expressivo, mas não implicará redução do deficit primário e, sim, do deficit nominal do governo, que ficou em 9% do PIB em 2016. Ajudará a reduzir o ritmo de crescimento da dívida pública;, afirma. Em fevereiro, a conta de juros de todo o setor público somou, no acumulado em 12 meses, R$ 388,2 bilhões, o equivalente a 6,16% do PIB.

Para o economista e professor da Universidade de Brasília (UnB) José Luis Oreiro, o governo não tem outra saída, a não ser acelerar a redução da Selic para estimular a economia. ;A inflação está sob controle e as estimativas de crescimento da economia neste ano só pioram. As pessoas têm que se conscientizar de que não dá para continuar na recessão com os juros no patamar atual;, afirma.

O consultor Roberto Luis Troster, ex-economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), critica a atuação da equipe econômica. Para ele, houve um erro de diagnóstico na tentativa de estimular a economia. ;O problema está no crédito. Fazer o ajuste fiscal, melhorar as garantias, alterar as regras do rotativo é mais do mesmo, não vai mudar nada. Quem faz o PIB é o emprego, e o governo parece que não entendeu o que está acontecendo;, afirma.

Na opinião dele, o problema são as contas privadas. ;A inadimplência está aumentando e vai continuar crescendo;, alerta. ;O governo conseguiu quase tudo o que queria. A inflação está caindo, o dólar está estável e os juros básicos estão em queda, mas o país não cresce porque não há crédito. Os bancos não têm confiança e estão em um círculo vicioso com o aumento da taxa de inadimplência. Se não mudarem essa dinâmica, a economia não vai crescer;, afirma Trosten.

O professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) Istvan Kasznar também avalia que a equipe econômica não ataca o problema da falta de crescimento devidamente. Para ele, passou da hora de o BC baixar os juros de forma mais intensa. ;A inflação deve ficar abaixo de 4,3% neste ano e agora é o momento para uma queda significativa nos juros, acima de 1,5 ponto percentual na próxima reunião do Copom. É preciso que o BC, inequivocadamente, mostre a taxa de juros despencando;, avalia.

Oreiro, da UnB, avalia que o governo caiu em uma armadilha que ele mesmo criou. ;Há duas regras fiscais em vigor. A PEC do Teto dos gastos e a meta fiscal. Se houvesse lógica, teria abandonado a segunda, mesmo que para isso fosse obrigado a mudar a lei. Agora, a despeito do contingenciamento de R$ 42,1 bilhões, não conseguirá cumprir a meta atual;, aposta. A Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2017 prevê deficit primário de até R$ 139 bilhões nas contas do governo central (Tesouro Nacional, Banco Central e Previdência Social).



"A inflação está caindo, o dólar está estável e os juros básicos estão em queda, mas o país não cresce porque não há crédito;
Roberto Luis Troster, economista


No mundo


Na comparação com outros países, a taxa básica de juros no Brasil é a maior entre os Brics e, na América do Sul, só perde para a Argentina

País - Juros (% ao ano)
Argentina - 24,75
Ghana - 23,50
Moçambique - 23,25
Gâmbia - 23,00
Malawi - 22,00
Angola - 16,00
Azerbaijão - 15,00
Belarus - 15,00
Nigéria - 14,00
Rep. Dem. Congo - 14,00
Zâmbia - 14,00
Brasil - 12,25
Kazaquistão - 11,00
Quênia - 10,00
Rússia - 9,75
África do Sul - 7,00
Colômbia - 7,00
México - 6,50
Índia - 6,25
Paraguai - 5,50
Peru - 4,25
Chile - 3,00
China - 4,35
Estados Unidos - 1,00
Reino Unido - 0,25
Zona do Euro - 0,00
Japão - -0,10
Dinamarca - -0,65
Suécia - -0.50

Fontes: Banco Central e Central Bank News