Economia

Política industrial para montadoras vai beneficiar carros menos poluentes

Entre as propostas está um novo sistema de cobrança do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) dos automóveis

Agência Estado
postado em 19/04/2017 08:48
As montadoras já são obrigadas a etiquetar os carros com conceitos de A a E para a eficiência energética, informando quanto o carro percorre por litro de combustível, e também o volume de emissão de dióxido de carbonoCom taxa de ociosidade acima de 50% de seu parque produtivo e respondendo por 22% do Produto Interno Bruto (PIB) industrial, a indústria automobilística começou a discutir ontem com o governo uma nova política para o setor. Está em construção o sucessor do Inovar-Auto, que acaba em 31 de dezembro.

Entre as propostas está um novo sistema de cobrança do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) dos automóveis. Em vez das cilindradas, como é hoje, poderá ser adotada como critério a eficiência energética. Motores mais econômicos recolheriam menos imposto.

"Queremos desenhar um programa que vá além dos ciclos políticos", disse Igor Calvet, secretário de Desenvolvimento e Competitividade Industrial do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic). O programa, batizado de Rota 2030 e lançado ontem pelo ministro Marcos Pereira, vai fixar metas para as indústrias de automóveis e autopeças, com o objetivo de colocar o Brasil como um dos seis grandes centros produtores de veículos no mundo nesse horizonte de tempo.

Para isso, será necessário investir pesado em pesquisa e desenvolvimento. O Brasil não tem, por exemplo, produtores de conjuntos de eletrônica embarcada, que é uma tendência cada vez mais forte na indústria automobilística mundial.

O Rota 2030 terá um plano chamado Indústria Competitiva, que vai qualificar os fabricantes de autopeças. Em três eixos, vai atuar nos problemas existentes na cadeia de fornecedores já instalada, estimular a chegada de novos fornecedores para ocupar "gaps" identificados pelas montadoras e atuar junto com as montadoras na busca de novas soluções tecnológicas.

Estão também em discussão alterações na regulação do setor. Uma delas é federalizar a inspeção veicular, tarefa hoje desempenhada por Estados e municípios, para retirar de circulação veículos mais antigos. Estima-se que estejam circulando no País mais de 250 mil caminhões com mais de 30 anos

Além da tributação e de medidas na área regulatória, o Rota 2030 tem um conjunto de iniciativas na área de informação ao consumidor. Uma delas é que os veículos passem a ter "nota" conforme requisitos de segurança. As montadoras já são obrigadas a etiquetar os carros com conceitos de A a E para a eficiência energética, informando quanto o carro percorre por litro de combustível, e também o volume de emissão de dióxido de carbono. A ideia é ter um plano fechado até 30 de agosto.

Ainda não há solução proposta para os fabricantes de veículos de luxo que se instalaram no Brasil a partir do Inovar-Auto. O Estado mostrou em sua edição de domingo que eles têm muita capacidade ociosa e a ideia de desinvestimento está no radar. "Essa é uma pergunta de bilhões", admitiu Calvet. O governo considera importante manter essas fábricas, pelo alto nível de investimento tecnológico de seus produtos. Porém, não pode criar um regime especial. A tendência é que sejam contempladas com alguma regra transitória, até que o mercado brasileiro se recupere.

Crise. O Inovar-Auto foi lançado em outubro de 2012 e, de lá para cá, a produção de veículos caiu 42% e ocorreram 35,9 mil demissões só nas montadoras em razão da crise econômica.

As montadoras não comentaram o programa por considerá-lo ainda embrionário. A avaliação preliminar é que as discussões estão na direção correta, ao escolher a eficiência energética como eixo para a nova política. A etiquetagem para segurança também é vista como correta.

O presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças), Dan Iochpe, disse que o novo programa parece ser um regramento de mais longo prazo com enfoque em eficiência energética, emissões, segurança e conectividade. Ele criticou os resultados do Inovar-Auto. "Para as autopeças, o resultado foi o déficit na balança comercial."

Após frisar que não tem compromisso em defender a concepção do Inovar-Auto, uma criação do governo anterior, Calvet disse que o programa rendeu dividendos importantes. O principal foram os investimentos em pesquisa e desenvolvimento, que somaram R$ 13 bilhões no período. O Brasil também passou a contar com laboratórios de teste de primeira linha.

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