Com o corte gradativo das taxas de juros promovido pelo Banco Central (BC), o momento é propício para reavaliar quais as modalidades de investimentos podem fazer o dinheiro render mais. De acordo com especialistas, o cenário de juros mais baixos possibilita às pessoas expandir o leque de aplicações financeiras e montar uma carteira mais diversificada.
Os juros funcionam como termômetro de atratividade para indicar qual é o melhor destino para aplicar e serve de referência para quase todas as demais taxas da economia. Hoje, a taxa básica de juros, a Selic, está em 11,25% ao ano, mas o BC sinalizou que ela continuará caindo nos próximos meses. A mediana das expectativas do mercado é de que, até o fim deste ano, a Selic caia para 8,5%.
De acordo com Evandro Buccini, economista da Rio Bravo Investimentos, a mudança de governo e a estabilização da inflação possibilitaram o corte nos juros em uma velocidade maior do que era esperado. ;Nossa visão é de que a Selic chegue a 8,75% até o fim do ano. ;Só que, agora, a decisão de investimento ficou um pouco mais complexa;, afirma.
Nos últimos dois anos, com a taxa de juros alta e a falta de perspectiva de crescimento da economia, muitos investidores optaram por manter o dinheiro em modalidades com menor risco entre as aplicações de renda fixa, explica Lenon Borges, analista da Ativa Investimentos. ;Os incentivos para essas modalidades eram muito mais fortes do que arriscar em ações ou fundos de renda variável;, analisa.
Dessa forma, muitos aplicaram as economias em fundos DI, que seguem a taxa de juros e têm ampla liquidez. Com os juros em queda, no entanto, é necessário ficar atento para evitar que a taxa de administração cobrada pelos bancos coma todo o rendimento. Com a Selic no patamar atual de 11,25%, os fundos que cobram taxas de administração acima de 2,5% ao ano rendem menos do que a caderneta de poupança, a aplicação mais conservadora e segura do mercado, mas também uma das menos rentáveis (veja arte).
Transição
No atual cenário, Lenon Borges recomenda aos clientes que abram mais o portfólio de investimentos. ;Muitos optaram por colocar até 90% dos recursos em renda fixa, mas, agora, têm uma motivação para direcionar 10 a 20% para aplicações de renda variável, como ações, na expectativa de obter renda maior que a taxa Selic e ter um portfólio mais balanceado;, afirma. Ele adverte, contudo, que o momento é de transição, portanto, toda movimentação deve ser feita com cautela.
O especialista destaca, ainda, que muitas modalidades de renda fixa continuam com boa rentabilidade. Ele avalia que os títulos públicos com rendimentos prefixados, aquele que o investidor sabe exatamente a rentabilidade que irá receber se mantiver o título até a data de vencimentos, ainda são boas opções a longo prazo. A decisão de investir em títulos pós-fixados, aqueles em que a taxa será determinada no vencimento, pode ser cogitada. ;Alguns papéis com rentabilidade atrelada à inflação mais um prêmio de juros continuam sendo boas escolhas; aponta Borges.
Márcio Cardoso, sócio-diretor da Easynvest, ressalta que, para escolher a melhor aplicação de renda fixa, é necessário olhar para os juros reais, ou seja, quanto o investidor receberá acima da inflação estimada para o período do investimento. Isso determinará o verdadeiro ganho de poder aquisitivo a ser obtido. Para ele, taxas reais de 5 e 6% ao ano ainda oferecidos em algumas modalidades de renda fixa, como títulos públicos atrelados à inflação e Certificados de Depósito Bancário (CDBs), continuam sendo um bom negócio. ;Como o Brasil vive há muitos anos com taxas altas, muitos têm a visão de que juros reais no patamar de 4 a 5% são um rendimento baixo, mas isso não é verdade. Se a pessoa quiser uma taxa maior, tem que correr mais riscos;, alerta.
* Estagiária sob supervisão de Odail Figueiredo