Jornal Correio Braziliense

Economia

Empresas driblam crise e comemoram resultados positivos após recessão

Com baixos níveis de endividamento, focadas em mercados dinâmicos e usando estratégias inovadoras, muitas companhias comemoram resultados positivos num setor que encolheu 17% nos últimos três anos


Não à toa, diz Igor Rocha, diretor de Planejamento e Economia da Associação Brasileira da Indústria de Base (Abdib), a participação do setor industrial no PIB, que já foi superior a 17%, hoje está em 10,9%. ;É um dado alarmante;, alerta. Entre 2014 e 2016, a produção encolheu 17%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em alguns ramos, a destruição da produção ultrapassou 50% no período, conforme estudo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento da Indústria (Iedi). O mesmo levantamento, no entanto, também identifica a ;indústria sem crise;.

;Os casos positivos são de segmentos com competitividade internacional;, avalia Rafael Cagnin, economista do instituto. ;Empresas com condições melhores de financiamento, com captação a taxas de juros internacionais, mais baixas, sofreram menos o impacto da recessão;, diz.

Estratégias empresariais diferenciadas também minimizam o efeito da crise, de acordo com Flávio Castelo Branco, gerente de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI). ;Companhias focadas em mercados mais dinâmicos, com presença no mercado internacional, levam vantagem, assim como segmentos ligados a produtos inovadores e bens de consumo sofisticados, voltados à parcela de consumidores que não sente a crise;, enumera.

Talvez o maior exemplo da indústria brasileira sem crise seja a Embraer, fabricante de aeronaves, com foco em tecnologia de ponta e 90% da produção voltada ao mercado externo. Um outro setor, no entanto, se destaca, com expansão de 19%, entre 2014 e 2016, e de 13,1% no último trimestre do ano passado: o da celulose. Quem fornece para essa cadeia está surfando boas ondas. É o caso da Kemira Chemicals Brasil, que produz clorato de sódio e dióxido de cloro, substâncias usadas no branqueamento da celulose.

A companhia está aumentando a produção e investiu ;algumas dezenas de milhões de dólares; em novas plantas no Paraná, conta Paulo Barbosa, diretor comercial. ;A nova unidade completou um ano nesta semana;, comemora. A previsão era chegar à capacidade máxima na segunda metade de 2017. ;Atingimos a meta no ano passado;, diz. ;A parte de papel sentiu a crise e o impacto da substituição tecnológica, com impressos sendo trocados pela digitalização. Mas a celulose compensou;, ressalta Barbosa.

Investir em plena recessão também foi a aposta de outra indústria química, a Chemours, que decidiu se preparar para atender melhor aos clientes quando a crise passar. Resultado da separação da divisão de especialidades químicas da DuPont, a empresa inaugurou, em março, uma unidade produtiva de fluidos para ar-condicionado em Manaus, com investimentos de R$ 3 milhões. Além de suprir o mercado brasileiro, pretende exportar para países da América do Sul. ;Com a unidade em funcionamento, a redução do prazo da entrega será de 90%;, explica Maurício Xavier, presidente da Chemours.

Serviços


Uma tendência que tem garantido a sobrevivência industrial é a prestação cada vez maior de serviços. A empresa deixa de ser apenas uma produtora de bens para agregar manutenção e atendimento pós-venda. Assim, em tempos de crise, fatura com consertos ou levando os produtos diretamente ao consumidor, como faz a Ecoville, que fabrica e comercializa produtos de limpeza.

Na contramão da retração acumulada de 7,5% da economia do país, a indústria de produtos de limpeza cresceu 7% desde 2014. Sediada em Joinville (SC), a Ecoville adotou um modelo de venda direta, ingressando no segmento de franquia. Hoje, a marca gera mil empregos diretos, nas lojas e nos dois parques fabris, um na cidade sede e outro em Belo Horizonte.

O presidente da Ecoville, Leonardo Castelo, conta que a meta é chegar a 5 mil unidades franqueadas em cinco anos. ;Hoje, temos 220 pontos de venda focados 100% no nosso produto;, diz. Com a demanda crescente, a Ecoville decidiu comprar três novos maquinários para envase de materiais. Um deles, adquirido no ano passado, custou R$ 1,5 milhão. ;Outros dois estão sendo negociados. Vamos investir mais R$ 2 milhões.;

Brincando na crise

Os consumidores sentiram o baque e precisaram economizar. Viagens, festas, jantares fora de casa foram cortados. Mas deixar de presentear as crianças não é uma opção para muitos pais. E a grande beneficiada disso é a indústria de brinquedos. Presidente da Abrinq, entidade que representa os fabricantes, Synésio Batista da Costa ressalta que o segmento cresceu 12% só em 2016. ;São 367 fábricas hoje no país. As empresas não demitem há seis anos e todos os balanços estão no azul;, revela. O setor desenvolveu um programa de integração com parceiros do Mercosul para enfrentar a concorrência chinesa. As importações caíram 33% no ano passado. ;Essa queda é transferência da China para o Brasil;, comemora.

Para ler o complemento da matéria, clique