Economia

Taxa média de condomínios em Brasília e em SP é três vezes a de Lisboa

Síndicos queixam-se de impostos e encargos. Terceirização pode reduzir custos

Mirelle Bernardino*
postado em 07/05/2017 08:32
Desenho de calculadora e caneta. Vários símbolos de cifrão aparecem voandoNão há quem não se queixe do que paga de condomínio todo mês. No topo da pirâmide, o valor é tão alto que chega a empatar com o aluguel de um imóvel um pouco menor em bairro menos valorizado.
A comparação internacional não deixa dúvidas: a taxa que os brasileiros pagam é muito elevada. Segundo a Athena Advisers, empresa especializada na venda de imóveis na Europa para estrangeiros, o valor médio em Brasília e São Paulo é três vezes a de Lisboa. O condomínio nessas cidades brasileiras custa, em média, R$ 10 por m;. Em Belo Horizonte, R$ 8. Já na capital portuguesa, paga-se R$ 3,30.

Aldo Júnior, especialista em assessoria condominial, afirma que os preços elevados decorrem do ;custo Brasil;. Segundo ele, a carga tributária encarece o serviço e os produtos necessários para a manutenção. ;O imposto direto e indireto pode chegar a 70% do total. É uma barbaridade;, declara o especialista.

Segundo Júnior, como a renda per capita em Brasília é elevada, é preciso pagar salários mais altos, o que influencia os valores dos condomínios. Os preços no Distrito Federal, diz, são 30% a 40% maiores do que em Goiânia. A Associação Brasileira de Síndicos e Síndicos Profissionais (Abrassp) calcula que o preço médio do condomínio na capital é de R$ 430. Isso é R$ 80 a mais que a média nacional.

Moradores reclamam que, além de serem altas, as taxas continuam subindo muito. De março de 2016 a fevereiro de 2017, a Associação das Administradoras de Bens Imóveis e Condomínios de São Paulo (Aabic) verificou que os preços subiram 6,62%, acima do Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M), de 5,38% no período.

Reajuste

No DF, há aumentos bem acima disso. O funcionário público Edmilson Magalhães comprou um apartamento no Guará há três anos. Desde então, o condomínio dobrou. Hoje, ele paga cerca de R$ 750. ;O último reajuste foi de 13%. Hoje eu pago R$ 15 por metro quadrado;, critica. Segundo Tchezary Medeiros, advogado tributarista e imobiliário, em vez de uma taxa fixa, deveria haver rateio de gastos. ;Os valores podem dobrar com essa prática;, afirma o especialista. Graças ao valor preestabelecido, acabam surgindo despesas supérfluas.

Outra grande discussão é o valor fixo para a conta de água. Moradores reclamam que os síndicos não adotam hidrômetros individuais, aparelhos que medem o consumo de água em cada unidade. Segundo a aposentada Maria das Graças, 65 anos, isso prejudica alguns moradores. ;O certo seria cada um pagar a sua parte. Tem apartamento em que só mora uma pessoa e se paga o mesmo valor que uma família grande;, avalia Maria.

Paulo Melo, presidente da Abrassp, discorda de que o valor médio dos condomínios seja alto, mas reconhece que há vários exemplos de preços abusivos. ;Um bloco na Asa Sul com 18 unidades que cobre R$ 800, mesmo sem ter piscina, salão de festa, área de lazer ou academia, só o zelador, está com valor superior ao que deveria;, declara. O servidor público Altair Araújo, 52 anos, morador da Asa Sul, paga R$ 1.300 em um prédio de 24 unidades na Asa Sul. ;O custo de manutenção é altíssimo porque o prédio é cheio de tubos velhos. O gasto com água é gigantesco, em plena crise hídrica;, critica.

Diferentemente do que se acredita, não são a área de lazer, piscina ou churrasqueira que mais encarecem o condomínio. O principal gasto do prédio é com os funcionários. Em São Paulo, o custo com pessoal representa entre 50% e 55% do total do orçamento, segundo a Lello, empresa de administração condominial.

A terceirização de funcionários poderia aliviar o orçamento dos imóveis. ;Contratar uma empresa terceirizada é, sem dúvida, boa opção para o síndico reduzir os gastos do condomínio. Antes tinha uma briga muito grande com o sindicato dos funcionários porque isso era atividade-fim. Mas, com a nova lei da terceirização, tudo muda;, afirma Melo, da Abrassp.

Nem todos os prédios, porém, podem ser beneficiados. Segundo ele, isso depende do número de unidades no edifício. ;Um imóvel com 18 unidades vai pagar caro para a empresa prestar o serviço. Já um condomínio-clube consegue diminuir os custos dos funcionários com a terceirização;, diz. A aposentada Rosemary Cintra, 59 anos, mora no Sudoeste e paga R$ 1.200 na taxa mensal. No prédio, há seis funcionários, dos quais não gostaria de abrir mão. ;Se contratar uma empresa, não há confiança nas pessoas;, comenta.

Júnior afirma, porém, que os serviços terceirizados podem ser até melhores. ;Se um funcionário não estiver fazendo o que precisa, basta o síndico pedir para que seja substituído. No caso do contratado, se um trabalhador fizer corpo mole, será preciso demitir e pagar todos os encargos trabalhistas;, explica.

*Estagiários sob supervisão de Paulo Silva Pinto

Número de unidades

Especialistas destacam que é preciso avaliar o número de unidades antes de comparar preços de condomínios. Quanto menos apartamentos, maior será o valor, porque o rateio das despesas terá menor divisor. O de um imóvel no Plano Piloto em um prédio com 24 unidades vai custar mais que o de uma residência em edifício em Águas Claras com 60, ainda que tenham a mesma área interna.

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