Economia

Após vazamento da delação dos donos da JBS, bolsa deve abrir em queda

À noite, no mercado futuro, o Ibovespa caía quase 10% e dólar era negociado a R$ 3,32

Rosana Hessel
postado em 18/05/2017 06:00

A Bolsa de Valores de São Paulo (BM) deve abrir em queda hoje. E bem forte, segundo operadores do mercado. Eles estão preparados para o pior, depois do vazamento da delação dos donos do frigorífico JBS, Joesley Batista e Wesley Batista, com gravação comprometendo o presidente Michel Temer. Muitos, inclusive, acreditam que vai haver circuit breaker, mecanismo que suspende o pregão quando há uma queda de 10%.


Os mercados futuros já apontavam queda ontem à noite, antecipando o que virá nesta quinta-feira. O Ibovespa caía quase 10% e o dólar futuro era negociado a R$ 3,32. ;O movimento de venda de ações de investidores será inevitável. A bolsa vai ter seu pregão interrompido e o dólar vai disparar;, avisou o economista-chefe da Lopes Filho & Associados, Julio Hegedus. ;É uma situação muito triste para o país. Qualquer expectativa de retomada do investimento neste ano cai por terra. Se o Congresso tiver que convocar eleições indiretas (como prevê a Constituição), vai parar para isso, e não haverá mais chances de avanço das reformas, principalmente, a da Previdência;, completou.

Para o economista-chefe da A2A INVX, Eduardo Velho, o aprofundamento do desgaste político de Temer é o pior dos cenários para o governo, uma vez que a reforma da Previdência já contaminou a base aliada. Uma eventual saída do presidente colocaria tudo a perder, com mais um ano de recessão. ;É algo que não pode ser descartado. Com certeza, aumentaria as chances de termos mais um ano de retração econômica;, disse.

Uma fonte do mercado financeiro contou que os clientes estrangeiros estavam em polvorosa após o vazamento da delação e que recebeu mais de 200 mensagens. ;Com certeza vão vender as posições a partir de hoje;, disse, em tom de desolação.

Os investidores estrangeiros detêm mais da metade do capital da BM e é grande a possibilidade de quererem se desfazer dos papéis brasileiros para minimizarem as perdas que virão com a indefinição do futuro político do presidente ; seja por impeachment, por renúncia ou pela cassação da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer, no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ;, dizem os analistas.

Saia justa


Em meio a esse turbilhão, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, receberá em seu gabinete hoje de manhã uma equipe de técnicos do Fundo Monetário Internacional (FMI) que está em Brasília. Os representantes do FMI estão no país para conversar com autoridades a fim de fazerem projeções sobre o cenário macroeconômico do país, que é membro do organismo internacional. Segundo fontes do ministério, será uma tremenda saia justa para Meirelles explicar a possível troca de governo e também o seu envolvimento com a JBS. O ministro foi presidente do conselho da holding J, que controla a JBS. Procurada, a Fazenda não comentou o assunto.

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