Rosana Hessel
postado em 20/05/2017 08:00
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, tem sido o maior alicerce do presidente Michel Temer no poder. A presença dele na Esplanada, na avaliação de especialistas, ajudou a recuperar a confiança dos agentes econômicos e, graças à atuação da pasta de Meirelles, o país começa a receber boas notícias: queda da inflação e início de retomada da atividade. Para economistas, o chefe da equipe econômica é peça fundamental para credibilidade do governo. Meirelles tem dito aos seus interlocutores que não tem intenção de deixar o governo no meio dessa turbulência. Além disso, avisou que permanece, mesmo se Temer sair.
A atuação de Meirelles de forma coordenada com o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, para acalmar os mercados na quinta-feira, em meio à hecatombe da Bolsa de Valores de São Paulo (BM) e da alta histórica do dólar, foi bastante elogiada por analistas. ;Os dois ministros transmitiram tranquilidade e deram sinais de que estavam mesmo atuando de foram segura para evitar um quadro pior nos mercados e isso foi fundamental para que a bolsa não tivesse uma segunda interrupção do pregão;, avaliou o economista Alexandre Espírito Santo, da Órama. Para ele, ambos são respeitados e transmitem confiança para o mercado.
Nesses últimos dias, o titular da Fazenda mudou a rotina, de acordo com fontes do governo. No meio da crise de quinta-feira, ele saiu do gabinete para conversar, pessoalmente, com funcionários do Tesouro Nacional que trabalham na mesa de operação dos títulos da dívida pública para orientá-los sobre como atuar no mercado. O governo intensificou as travas nas negociações e suspendeu operações quando percebeu que havia muita volatilidade.
O Tesouro Direto, por exemplo, só funcionou a partir das 16h e encerrou as operações com o mercado. Ontem, abriu no horário normal, às 9h30, mas, devido à oscilação das taxas de juros dos papéis, foi suspenso às 10h42 e retornou por volta das 15h30. O BC atuou no mercado de câmbio fazendo leilões de contratos de swap para conter a alta do dólar. Vendeu US$ 2 bilhões ontem e US$ 4 bilhões na véspera.
O estrategista-chefe da BullMark, Renan Silva, destacou que o mercado já começa a trabalhar com uma possível substituição de Temer e um dos nomes cogitados para o cargo seria o de Meirelles, pois o afastamento do chefe do Executivo é visto como inevitável. ;A probabilidade de renúncia ainda é alta e o discurso de que ele não renuncia foi para ganhar tempo para uma transição mais branda. E, nesse sentido, as apostas recaem sobre Meirelles, porque há um consenso de que ele trabalharia fortemente em favor das reformas;, destacou Silva. ;O governo acabou, mas o mercado ainda não precificou isso, portanto, haverá mais volatilidade até a sucessão;, emendou.
Sucessão
No caso de afastamento de Temer, o primeiro na linha de sucessão é o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), pois o cargo de vice-presidente está vago. Fontes próximas ao governo garantem que, nesse caso, Meirelles continuaria à frente da pasta. Assim que assumisse o governo, Maia teria 30 dias para convocar eleições indiretas e, os nomes para a disputa podem surgir do Congresso Nacional ou mesmo de fora, conforme o que está previsto na Constituição.