Economia

Produção industrial avança 0,6% em abril e surpreende o mercado

Alta surpreendeu o mercado, que esperava evolução de apenas 0,1%. Segmentos de produtos farmacêuticos, veículos e derivados de petróleo impulsionaram o resultado. Tendência do setor, contudo, ainda é indefinida, dizem analistas

Antonio Temóteo
postado em 03/06/2017 08:00
Para José Márcio Camargo, recuperação sustentável depende da aprovação das reformas pelo Congresso

Após três meses consecutivos sem registrar crescimento, a produção industrial teve alta de 0,6% em abril, conforme dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O primeiro resultado positivo do ano para o setor foi impulsionado pelos segmentos farmacêutico, com expansão de 19,8%, de veículos, com elevação de 3,4%, e de produtos derivados de petróleo, que avançou 2%. Os dados surpreenderam o mercado, que estimava uma tímida alta de 0,1%.

Apesar da melhora, no acumulado do ano o resultado é negativo em 0,7%. Nos últimos 12 meses, encerrados em abril, a retração é de 3,6%. O gerente de Indústria do IBGE, André Macedo, explicou que, como o comportamento do setor tem sido ;errático;, ainda não está claro se ele voltará a crescer de maneira sustentável. ;O setor industrial permanece muito longe dos seus patamares históricos. E opera a 19,8% do pico, alcançado em junho de 2013. Há um distanciamento importante;, destacou.

Segundo Macedo, as empresas trabalham no mesmo patamar de janeiro de 2009, enfrentando ociosidade do parque industrial, retração da demanda e desemprego em alta. ;Não há uma trajetória definida para a indústria. Há um campo importante para recuperar;, afirmou.

O resultado de abril só não foi melhor porque o segmento extrativo mineral recuou 1,4% em relação ao mês anterior. A retração foi influenciada, explicou Macedo, por paradas programadas de plataformas de petróleo.

Na avaliação do economista-chefe da Opus Investimentos, José Márcio Camargo, a surpresa positiva não era esperada pelo mercado. Conforme ele, o pessimismo que toma conta do país pode não se materializar em dados tão negativos. ;Podemos ter tanto uma queda de até 0,2% do Produto Interno do Bruto (PIB) do 2; trimestre como uma alta na mesma intensidade;, afirmou.

Entretanto, ele ressaltou que uma recuperação sustentável do nível de atividade depende da aprovação das reformas no Congresso Nacional, para que o governo reequilibre as contas públicas e os agentes econômicos possam ter previsibilidade. ;O cenário ainda é muito incerto. Fazer previsão nesse momento é algo difícil;, alertou.

Antecedentes

Para maio, os primeiros indicadores de utilização da capacidade instalada, vendas de veículos, comércio exterior e consumo de energia sinalizam queda de 1% de acordo com o economista Artur Manoel Passos, do Itaú Unibanco. A instituição esperava variação nula. ;A surpresa positiva é ampliada pela revisão para cima de 0,24 ponto percentual do resultado bruto do mês anterior;, comentou.

O economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato Barbosa, ressaltou que o crescimento em abril se deu de forma espalhada, com contribuição positiva de 13 dos 24 setores pesquisados, enquanto duas das três categorias registraram aumento da produção. A instituição financeira esperava alta de 1%. Entretanto, ainda não está claro como será o desempenho do setor no próximo trimestre. ;Apesar desse resultado, esperamos alguma estabilização, conforme indicado pelos índices de confiança;, disse.

Cai número de falências

Os pedidos de falência no país caíram 8,4% de janeiro a maio deste ano na comparação com igual período de 2016. As falências decretadas tiveram retração de 7%, enquanto os pedidos de recuperação judicial diminuíram 21,7%. Os dados são da Boa Vista SCPC (Serviço Central de Proteção ao Crédito). O levantamento mostra que os indicadores de solvência mantiveram a trajetória de arrefecimento no acumulado em 12 meses. Considerando este cenário, o caixa das empresas deve apresentar recuperação mais forte nos próximos meses, ;uma vez superado o período de restrição ao crédito e redução do consumo, entre outros fatores;, disse a Boa Vista SCPC em nota.

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