Investigadores da Lava-Jato estão animados com a possibilidade de que alguns bancos se antecipem à assinatura de uma eventual delação premiada do ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil Antonio Palocci e celebrem acordos de leniência para revelar as promíscuas relações que mantêm com políticos. Tanto a Polícia Federal (PF) quanto o Ministério Público Federal (MPF) suspeitam que o pagamento de propina para agentes públicos em troca da aprovação de projetos de lei e de medidas provisórias que beneficiaram instituições financeiras tenha ocorrido durante os governos petistas.
A pressa das instituições se justificaria para evitar corridas bancárias que poderiam afetar a liquidez do sistema financeiro. Além disso, os bancos temem desvalorizações significativas de suas ações. Com a atitude proativa, destacou um executivo próximo a diversos banqueiros, as empresas do setor financeiro teriam condições de negociar as penas e condições para o pagamento de eventuais multas.
Como revelou o Correio, a proposta de delação de Palocci já possui 12 anexos e inclui bancos, empresas dos setores automotivo e sucroalcooleiro e relações suspeitas de empresários com a Receita Federal. Da proposta constam documentos, comprovações de reuniões e nomes de pessoas com as quais ele se relacionou no período em que foi ministro. O documento traz, ainda, relatos de conversas destinadas a arrecadar recursos para as eleições de Lula, em 2006, e de Dilma, em 2010, quando Palocci foi o coordenador-geral da campanha, auxiliado pelo então presidente do PT, José Eduardo Dutra, e pelo então futuro ministro da Justiça José Eduardo Cardozo. O trio, à época, foi apelidado de ;os três porquinhos;.
Os investigadores suspeitam que o mesmo expediente usado por diversas construtoras, que fizeram pagamentos para campanhas via caixa dois e distribuíram propina quando era solicitada, foi empregado pelas instituições financeiras. Emissários de alguns bancos têm sondado procuradores da força-tarefa da Operação Lava-Jato em Brasília e em Curitiba.
Diante da polêmica sobre a edição de medida provisória que autoriza o Banco Central e a Comissão de Valores Mobiliários a celebrar acordos de leniência no âmbito administrativo, alguns banqueiros avaliam que procurar o MP seria o melhor caminho para evitar surpresas no processo de negociação.
Entre os procuradores, também há a suspeita de que o doleiro Lúcio Funaro, apontado como principal operador financeiro do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), teria informações que poderiam comprometer instituições financeiras. Conforme relatos dos procuradores, Funaro negocia uma colaboração com a Lava-Jato e, para isso, contratou o advogado Antônio Figueiredo Basto, especialista em delações premiadas. As eventuais revelações do operador também ajudariam outras investigações realizadas pela PF e pelo MPF. Ele é alvo das operações Sépsis, Cui Bono e Greenfield.
Funaro entrou no radar dos investigadores após apreensões realizadas durante a Operação Catilinária. Mensagens identificadas do celular de Fábio Cleto, ex-vice-presidente da Caixa Econômica Federal, indicado por Cunha, mostram que ele e Funaro operavam em conjunto com o ex-ministro da Secretaria de Governo Geddel Vieira Lima para liberar financiamentos da Caixa para diversas empresas, entre ela a JBS, do grupo J.
Geddel, Cunha, Fábio Cleto e Marcos Roberto Vasconcelos, ex-vice-presidente de Gestão de Ativos de Terceiros da Caixa, são suspeitos de oferecer vantagens a diversas empresas para liberação de financiamentos do banco público em troca de propina. Os investigadores identificaram o pagamento de mais de R$ 1 milhão da Eldorado, empresa do grupo J, para Funaro.
- Trabuco inocentado
O presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi, foi inocentado pelo Tribunal Regional Federal (TRF) na Operação Zelotes, que apura esquema de corrupção junto ao Conselho de Administração de Recursos Fiscais (Carf). A decisão foi tomada por unanimidade pela Quarta Turma, que determinou o trancamento da ação por falta de justa causa. Com isso, o processo foi arquivado. Trabuco era acusado de, juntamente com outros executivos do Bradesco, corromper integrantes do Carf para tentar anular um débito do banco junto à Receita Federal. O processo em questão foi julgado em desfavor do Bradesco, por unanimidade, em 2014.