Mariana Mainenti - Especial para o Correio
postado em 17/06/2017 08:00
Em um momento em que o governo precisa reativar a atividade econômica, mais de 1,6 milhão de contribuintes incluídos no primeiro lote de devolução do Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF) tiveram suas contas engordadas em um total de R$ 3 bilhões. Parte do dinheiro restituído ontem se somará aos recursos adicionais das contas inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), ajudando a dar algum alento à combalida economia brasileira. Este impacto, contudo, poderia ser bem maior se a estrutura tributária brasileira fosse mais equilibrada.
Contemplada no primeiro lote liberado pela Receita Federal, a servidora aposentada Silmar Batista Lacerda, 63 anos, decidiu que, desta vez, não gastará o valor restituído. ;Como estou com as contas organizadas, resolvi poupar. Em função da crise, creio que é importante termos uma reserva. Já fui mais consumista, mas temos de comprar somente o necessário nesses tempos de crise. Nunca sabemos como será o dia de amanhã. Com tantas mudanças na política do país, temos de pensar antes de fazer um gasto;, refletiu a mineira, que vive há 35 anos em Brasília.
No estudo Progressividade Tributária: a agenda negligenciada, os pesquisadores do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Rodrigo Orair e Sérgio Wulff Gobetti apontaram que 70% dos cerca de R$ 20 bilhões restituídos em 2016, referentes aos rendimentos de 2015, foram destinados a pessoas com rendimentos mensais superiores a cinco salários mínimos. Um terço do total das restituições ficou com quem recebe mais de 10 salários mínimos. ;Este é um segmento que já tem acesso, por exemplo, a bens de consumo duráveis e tende a poupar esperando um momento melhor para tomar a decisão de consumo mais relevante, como trocar de carro;, analisou Orair.
Varejo
Ainda assim, na opinião do economista da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) Fábio Bentes, uma parte do dinheiro restituído será destinado ao varejo. Estudo realizado pela CNC com base nos recursos do FGTS sacados em março aponta que eles resultaram em um impacto positivo de R$ 2,65 bilhões nas vendas do comércio varejista naquele mês. ;Quase a metade do que foi sacado em março foi destinada ao consumo. Estimamos que pelo menos 40% do que vem sendo retirado das contas inativas desde então sejam dirigidos às compras. Eu me arrisco a dizer que os mesmos 40% das restituições do IR devem chegar ao varejo;, afirmou Bentes.
Na opinião dele, esses recursos ajudam a impulsionar a recuperação do comércio. ;Estamos esperando uma virada positiva nas vendas no segundo semestre, com a inflação de alimentos em baixa, a queda nos juros e esses recursos adicionais, que nos ajudarão a virar o jogo;, previu.
O analista em contas públicas da Tendências Consultoria Fábio Klein também vê indícios positivos que podem ajudar na destinação dos recursos do IRPF ao varejo. ;Uma parte do dinheiro deve ir para o consumo, pois há movimentos favoráveis: a inadimplência está mostrando sinais de melhora, o endividamento das famílias está diminuindo e a inflação de alimentos e energia elétrica caiu bastante, aumentando ou devolvendo poder de compra ao brasileiro;, disse.