Economia

Após passar pela CCJ, reforma trabalhista segue para o plenário do Senado

Se depender do presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), a votação será em regime de urgência, já na semana que vem. Cinco pontos ainda podem ser mudados por MP ou veto presidencial

Alessandra Azevedo
postado em 29/06/2017 06:44
O presidente da comissão, Edison Lobão, ladeado por Antonio Anastasia e Romero Jucá durante a discussão sobre as mudanças na CLT

Foram necessárias mais de 13 horas de reunião e várias promessas de concessões no texto, mas o governo conseguiu aprovar o parecer do relator Romero Jucá (PMDB-RR) na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado Federal, pouco depois das 23h de ontem. Com 16 votos favoráveis e nove contrários, além de uma abstenção, o governo passou em um dos testes de fogo após a denúncia do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra o presidente Michel Temer. Agora, a matéria está pronta para ser votada no plenário da Casa, última fase antes da sanção presidencial. Se depender do presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), a votação será em regime de urgência, já na semana que vem.

Apesar de ser da base governista, Lasier Martins (PSD-RS) se recusou a votar por falta de garantias de que o presidente fará mudanças por medida provisória e vetos depois que a matéria for aprovada no plenário, apesar de ele ter garantido que recuará em cerca de oito pontos ; entre eles, o trecho que prevê a exclusividade de trabalhadores autônomos e o que estabelece que as indenizações serão proporcionais ao salário do empregado. Também ficaria garantido que a comissão de representantes dos trabalhadores de empresas com mais de 200 funcionários não substituirá os sindicatos em questões judiciais ou administrativas.

[SAIBAMAIS]As concessões foram anunciadas na tarde de ontem, ao longo da discussão na CCJ, pelo líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), com o objetivo de tranquilizar os senadores e garantir a aprovação do texto pelo colegiado, depois de ele ter sido rejeitado pela Comissão de Assuntos Sociais (CAS). ;Acho que isso atende a 90% das sugestões dos senadores. Elas serão levadas em conta para dar melhores condições de empregabilidade ao trabalhador e mais segurança jurídica ao empregador;, disse o senador.

Jucá entregou à comissão uma carta enviada por Temer, reforçando que editará essas questões por veto e MP caso a reforma passe no Congresso Nacional. ;Quero aqui reafirmar o compromisso de que os pontos tratados como necessários para os ajustes e colocados ao líder do governo, senador Romero Jucá, e à equipe da Casa Civil serão assumidos pelo governo se esta for a decisão final do Senado da República;, diz o documento.

Para o senador Roberto Rocha (PSB-MA), a reforma vai gerar empregos. ;Ouço muito falar aqui em direitos que estamos arrancando das pessoas. Mas qual é a maior obra social que pode existir? É o emprego. E esse é o pano de fundo da proposta: reduzir o custo do trabalho e permitir que, pelo menos, 65% dos brasileiros possam trabalhar;, disse.

A presidente do PT, a senadora Gleisi Hoffmann (PR) ressaltou, ainda, que uma MP sobre os pontos polêmicos não teria os pressupostos de relevância e urgência necessários para que fosse editada e, portanto, feriria a Constituição. ;O presidente está se comprometendo a fazer algo inconstitucional. E a CCJ, que guarda a Constituição, está dando guarida a isso, para tentar consertar um projeto de lei que também é inconstitucional. Isso é um ultraje ao Congresso Nacional;, disse.

Gráfico com texto sobre pontos da reforma que podem ser mudados

Insatisfeitos

Apesar de ser da base aliada do governo, Lasier Martins foi um dos senadores que leram os votos em separado, que são alternativas ao parecer do relator, na primeira parte da sessão de ontem. Ele pediu que cinco emendas fossem aceitas, mudando pontos como a jornada intermitente e a prevalência do acordado sobre o legislado, e que a discussão se estendesse por mais alguns dias. ;Precisamos de um pouquinho mais de tempo;, disse. Eduardo Braga (PMDB-AM), também da base governista, criticou o fato de o Senado não ter mudado nada do texto enviado pela Câmara dos Deputados, apesar de os parlamentares terem manifestado descontentamento em relação a vários pontos. ;A matéria tem sido discutida de forma açodada;, reclamou. ;Se houvesse a boa prática parlamentar de acatamento das emendas, eu votaria a favor da reforma. Mas, desrespeitando o trabalhador, voto pela rejeição;, declarou o senador.

Além de não ter acatado as sugestões, Jucá não propôs vetos ao governo, como fez o relator na CAS e na CAE, Ricardo Ferraço (PSDB-ES). O tucano listou seis pontos de discordância com o texto que veio da Câmara dos Deputados, que devem ser mudados pelo presidente Michel Temer, por meio de veto ou edição de Medida Provisória (MP). O objetivo é não atrasar o andamento da reforma, já que, se alguma mudança for proposta pelos senadores, o texto precisa voltar para a Câmara.

Renan do contra

A saída de Renan Calheiros (PMDB-AL) da liderança do partido, anunciada por ele no fim da tarde de ontem, abalou os debates da reforma trabalhista. Após anunciar a saída no plenário, Renan fez questão de discursar na CCJ sobre os motivos, o que colaborou para o atraso da sessão. Mas, do ponto de vista mais amplo, o afastamento dele da liderança do partido é vista como positiva pelos defensores da reforma, já que o senador tem se posicionado reiteradamente contra a matéria. ;A matéria tem sido discutida de forma açodada;, reclamou. ;Se houvesse a boa prática parlamentar de acatamento das emendas, eu votaria a favor da reforma. Mas, desrespeitando o trabalhador, voto pela rejeição;, declarou o senador.

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