Economia

Grupos aproveitam a crise para aplicar golpes em desempregados

Eles oferecem oportunidades falsas e, para ter direito a disputá-las, as pessoas são obrigadas a dar o número de cartão de crédito ou a pagar R$ 1,2 mil por certificados

Marlla Sabino - Especial para o Correio
postado em 04/07/2017 06:00
Com o desemprego assustando os trabalhadores, todo cuidado é pouco na hora de se candidatar a uma vaga. Mesmo com pressa e necessidade de retornar ao mercado de trabalho, é preciso tomar certa cautela, pois há uma onda de golpes na praça que podem custar caro aos mais afoitos. Promessas de uma vaga imediata e um salário dos sonhos vêm acompanhadas da exigência de número do cartão de crédito, de dados de contas bancárias ou da venda de algum certificado. Empresas sérias não recorrem a esses expedientes. O que querem são profissionais capacitados, que, quando contratados, desempenhem bem as funções.

Foi o desespero por um posto de trabalho que levou Guilherme Rodrigues, 25 anos, a se tornar presa fácil para os golpistas. Desempregado há quase um ano, ele acreditou em uma oferta para trabalhar como motorista em um aplicativo. Por mensagens, a pessoa disse que era necessário cadastrá-lo em um banco de dados, e, para isso, pediu seu currículo e a digitalização da Carteira Nacional de Habilitação (CNH). ;Quis saber mais informações sobre a vaga, mas só me falavam que precisavam do cadastro e que forneceriam o veículo. Tentei ligar depois, mas nunca mais me atenderam;, contou.

De acordo com a pessoa que entrou em contato com Guilherme, após a aprovação do cadastro, ele poderia concorrer a mais de uma vaga, desde que pagasse uma taxa de R$ 20 pelo processo seletivo. ;A vontade de ter um emprego é tanta que faz a gente acreditar em tudo. Dessa forma, os mal-intencionados acabam se aproveitando da situação. Estou preocupado com o que podem fazer com meus dados;, desabafou.

Cuidados

Professora do Departamento de Administração da Universidade de Brasília (UnB), Débora Barem, especialista em mercado de trabalho, disse que é necessário ter cuidado ao fornecer informações por telefone ou por e-mail, já que não é possível saber qual a intenção de quem está do outro lado da linha telefônica ou do computador. ;O primeiro contato do candidato com a empresa é o currículo. Nenhuma informação pessoal é questionada por telefone. Perguntas de cunho muito pessoal ou sexual não fazem parte de um processo sério;, explicou.

O advogado Ronaldo Tolentino, especialista em direito do trabalho, apontou que o Tribunal Superior do Trabalho (TST) proíbe que as empresas exijam nada-consta de serviços de proteção ao crédito do consumidor, como Serasa e SPC, e só é permitido solicitar certidão de antecedentes criminais para algumas profissões. Dados financeiros jamais devem ser repassados para desconhecidos. O trabalhador também deve ficar atento nos casos em que há cobrança para a participação do processo seletivo ou por alguma capacitação que seja requisito para ingresso na vaga. ;Isso não existe;, alertou.

Débora recomendou cuidado ao marcar uma entrevista presencial caso haja algum tipo de suspeita. ;Hoje, é possível pesquisar o endereço com antecedência. Mesmo que seja uma empresa terceirizada para fazer a seleção, não é normal que seja em um local isolado. Lamentavelmente, é necessário ter receio;, aconselhou. Não à toa, o técnico em informática Vinícius Cardoso Lopes, 32, fica atento a todas as informações requisitadas em um entrevista de emprego. Como está há seis meses sem trabalhar, vem tentando todas as oportunidades que aparecem, mas sempre com muito cuidado. ;Muitas vezes, a gente liga em um anúncio e a pessoa oferece muitos benefícios, diz que é de empresa grande e, logo em seguida, pede números de documentos, dados financeiros;, contou.

No mês passado, Vinícius se candidatou a uma vaga de porteiro e o recrutador disse que era necessário um certificado para começar a trabalhar. ;Eles me passaram um site no qual havia as informações para eu fazer um depósito de R$ 1,2 mil pelo documento que pediam. Não existia um curso, apenas esse certificado;, lembrou. ;Minha sogra disse que pediria um empréstimo para pagar. Mas, por sorte, não caí no golpe.

Há seis meses em Brasília, Vinícius costuma pesquisar sobre a empresa que oferece a vaga. ;Também olho se tem reclamação de salários atrasados;, afirmou.

Porta de entrada

O currículo funciona como o cartão de visita do candidato, pois é a primeira oportunidade que o recrutador tem de conhecer as habilidades e os conhecimentos da pessoa. Mas é necessário estar pronto para uma entrevista pessoalmente e ter segurança sobre o que pode oferecer para a empresa. Professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), João Brandão explicou que a entrevista é uma via de mão dupla e que a pessoa deve se mostrar interessada na oportunidade. ;Não tenha opiniões genéricas, saiba o que pode oferecer e destaque isso. Demonstre que conhece a empresa e que buscou informações, mostre disponibilidade;, ensinou. Brandão recomendou que o candidato não enrole e que tenha respostas objetivas e simples.

;A vontade de ter um emprego é tanta que faz a gente acreditar em tudo. Dessa forma, os malintencionados acabam se aproveitando da situação;
Guilherme Rodrigues, desempregado

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