Simone Kafruni
postado em 12/07/2017 06:00
Somente quase 7 horas após o início da sessão, o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), conseguiu retomar a votação da reforma trabalhista no plenário. Os trabalhos foram interrompidos por volta do meio-dia, quando quatro senadoras da oposição ocuparam as principais cadeiras da mesa diretora da Casa para protestar contra o projeto do governo. Gleisi Hoffman (PT-PR), Lídice da Mata (PSB-BA), Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), Fátima Bezerra (PT-RN) e Regina Sousa (PT-PI) impediram que Eunício comandasse os trabalhos. O presidente do Senado decidiu suspender a sessão.
Cinco minutos depois, as luzes do plenário foram apagadas. A assessoria de Eunício não informou de quem partiu a ordem, mas, segundo a oposição, ele teria ordenado que as senadoras fossem deixadas no escuro para forçá-las a desistir do protesto. As parlamentares chegaram a almoçar na mesa diretora, enquanto o presidente do Senado recebia a base aliada em seu gabinete para buscar um acordo.
Apenas às 18h10, Eunício retornou ao plenário, mas ainda sem poder ocupar a cadeira de presidente. Com um microfone improvisado, ele avisou que daria 20 minutos às senadoras para que se retirassem da mesa, ou retomaria a sessão de qualquer forma. ;É a primeira vez que vejo isso na minha vida. Podíamos ter votado esta matéria na terça-feira passada e eu, num gesto democrático, aceitei um adiamento, para permitir que a oposição fizesse o que quisesse. Mas o entendimento foi quebrado hoje;, disse. ;Estou profundamente chocado com o que estou vendo aqui hoje. Não é esta matéria que é importante para mim. Não é o conteúdo, nem o mérito. É o procedimento. É a desmoralização do Senado da República.;
Situação ridícula
A fala provocou reação e gritos no plenário, encabeçados pelo senador Lindbergh Farias (PT/RJ). ;Vou reiniciar a sessão e vou fazer o encaminhamento de líderes. A discussão já foi encerrada;, afirmou Eunício. As senadoras ainda resistiram mais alguns minutos e protagonizaram cenas que beiraram o ridículo, com os integrantes da mesa se jogando nas cadeiras a qualquer descuido das ocupantes ilegítimas.
Ainda fora da cadeira de presidente, Eunício Oliveira reiniciou a sessão por volta das 18h30. Porém, não conseguia liberar os microfones para os pronunciamentos dos líderes dos partidos. ;Não posso liberar porque não estou no meu lugar;, afirmou, enquanto Gleisi Hoffman ainda ocupava a cadeira da presidência. Em certo momento, Gleisi precisou justificar a posição do partido contra a reforma trabalhista e teve que deixar a cadeira da presidência para ocupar a tribuna. Foi quando as demais senadoras se retiraram, permitindo, finalmente, que Eunício e os demais integrantes da mesa pudessem tomar seus lugares.
Mais cedo, Gleisi havia justificado a atitude dela e das colegas. Ela afirmou que a intenção era ficar na mesa até ;decidir a situação; dos destaques do texto. ;Ou temos a mudança e a matéria volta para a Câmara e fazemos uma discussão decente ou não vamos deixar votar;, declarou. Segundo ela, a ideia era que, pela manhã, as senadoras falassem contra pontos da reforma, em especial, no que dizia respeito às grávidas e às lactantes. ;Abrimos a sessão e começamos a falar. Quando o Eunício chegou, quis interromper. Várias senadoras estavam inscritas. Ele não deixou. Por isso, resistimos na mesa;, explicou Gleisi.