Agência Estado
postado em 24/07/2017 13:05
O Tesouro Nacional passou a utilizar dados de seu sistema interno para apurar o estoque da Dívida Pública Federal (DPF). Até maio, o estoque era calculado com o preço unitário calculado pelo Banco Central.
A partir do relatório com dados de junho, divulgado nesta segunda-feira (24/7), as estatísticas passaram a levar em consideração um maior número de informações, como, por exemplo, a diferença de valores das carteiras de títulos do mercado, do Banco Central e do Tesouro Direto.
De acordo com o coordenador de Controle da Dívida, Andre Proite, o impacto no estoque é pequeno, mas a mudança dá um refinamento maior aos dados. "Nós conseguimos enxergar isso por termos maiores informações, sobretudo em relação à carteira do Tesouro Direto, que vem crescendo rapidamente", disse.
Estrangeiros
Os investidores estrangeiros reduziram a participação na dívida pública interna brasileira em R$ 10 bilhões no primeiro semestre A fatia dos não-residentes caiu de 14,33% em dezembro de 2016 para 12,9% no mês passado, de acordo com dados do Tesouro Nacional. Segundo o coordenador-geral de Operações da Dívida Pública, Leandro Secunho, isso se deve a uma maior realização de lucros com a queda nos juros e melhora no câmbio.
Ele pondera que, apesar da redução na participação total, houve um alongamento na carteira dos estrangeiros, que venderam títulos que venceram em 2017 e compraram papéis de vencimento mais longo.
O montante dos não-residentes de títulos prefixados com vencimentos em 2025 e 2027 passou de R$ 58 bilhões em janeiro para R$ 77 bilhões em junho. "Apesar de a carteira total ter se reduzido, a carteira de longo prazo aumentou", ressaltou.
Secunho afirmou que a saída dos estrangeiros foi coordenada e houve demanda para a recompra dos títulos vencidos por eles. Em junho, por outro lado, houve um aumento de quase R$ 50 bilhões na carteira das instituições financeiras, concentrado em títulos de curtíssimo prazo.
Prazos
No mês passado, o porcentual da dívida vencendo em 12 meses era de 14,96%, o menor da série histórica, que tem início em novembro de 2006, abaixo do porcentual mínimo previsto no Plano Anual de Financiamento (PAF), de 16%. O prazo médio, no entanto, está em 4,41 anos, ligeiramente acima do teto do PAF, de 4,40 anos. De acordo com Secunho, a expectativa, no entanto, é que os dois indicadores encerrem o ano dentro dos intervalos do plano.
O apetite dos investidores e o custo médio das emissões da dívida pública federal seguem mostrando sinais de normalidade em julho, afirmou Leandro Secunho.
Embora o Tesouro Nacional tenha alterado os prazos dos papéis na virada do mês, de acordo com o que já estava programado, o órgão continua observando grande demanda do mercado, mesmo com a colocação de títulos de menor liquidez.
Com isso, a estratégia adotada em junho de retomar os leilões oferecendo menos risco ao mercado, por meio de emissão maior de LFTs (títulos pós-fixados atrelados à Selic), não se mostra mais necessária neste momento, destacou o coordenador-geral.
"Quanto à estratégia de colocar mais títulos atrelados à Selic, não vemos necessidade. É um instrumento que temos, mas o PAF dá bastante flexibilidade em relação a isso. Se precisarmos emitir mais títulos atrelados à Selic e menos prefixados, em função de qualquer fator que venha a ser observado no segundo semestre, temos essa flexibilidade. No mês de julho, não precisamos, temos conseguido colocar volume significativo dos títulos prefixados e atrelados à Selic", afirmou Secunho.
De acordo com o Tesouro Nacional, a demanda por títulos públicos em julho supera inclusive o observado na primeira quinzena de junho. A procura tem sido crescente. No início do mês passado, o órgão começou ofertando 2 milhões de Letras do Tesouro Nacional (LTNs), prefixados. Esse volume passou a 5 milhões no fim de junho.
"Se pegamos os dados dos leilões dos meses de julho nas últimas duas semanas, emitimos 5 milhões do título mais longo e 4 milhões do segundo mais longo", observou Secunho. "Nos leilões de 13/7 e 20/7, foram volumes bastante significativos, embora tenhamos alterados prazos desses títulos. A expectativa era de que houvesse demanda um pouco menor do que em junho, mas na realidade tem acontecido o contrário. Temos tido demanda e temos tido condição de emitir esses títulos sem gerar volatilidade no mercado", acrescentou.
Recompra menor
Após o resgate antecipado de R$ 1,062 bilhão em títulos da dívida externa em maio e junho por maio do programa de recompra ("buy back"), o Tesouro Nacional vê menor necessidade de atuação nesse sentido no mercado de dívida externa, afirmou Secunho. "Temos tido menos necessidade de atuarmos, até porque o nível de taxa de juros desses títulos da dívida externa também já voltou à normalidade", disse.
Nos últimos dois meses, o Tesouro usou o programa de recompra para oferecer uma "porta de saída" a detentores da dívida externa em meio à volatilidade registrada no mercado diante do estouro da crise política. Com isso, o órgão recomprou aproximadamente US$ 200 milhões em maio e US$ 100 milhões em junho.
No mês de julho, o volume do resgate antecipado está bem menor, ao redor de US$ 30 milhões, afirmou o coordenador-geral.
"O vencimento 2026 hoje é negociado a 4,50%, e, quando emitimos, foi a 5%. O título está 50 basics points abaixo do que quando foi emitido em março. Dado que essas taxas já entraram na normalidade, as oportunidades de recompra escasseiam, então a tendência é reduzir recompra em títulos externos", disse Secunho