Economia

Órgãos públicos são os maiores compradores de produtos falsificados

O alerta foi feito durante o Fórum Antipirataria da HP realizado nesta terça-feira (8/8) em Brasília.

Simone Kafruni
postado em 08/08/2017 13:49
Os órgãos públicos são os maiores compradores de produtos falsificados. O alerta foi feito nesta terça-feira (8/8) durante o Fórum Antipirataria da HP, realizado em Brasília, para alertar sobre a compra de tinta e toner piratas, e o roubo de cargas, que, atualmente, atinge 50 caminhões por dia no sudeste brasileiro, 7,6% de produtos de tecnologia. As medidas da empresa para coibir a pirataria resultaram, apenas neste ano, em recuperação de US$ 2,1 milhões em produtos confiscados, seis prisões, 11 investigações e US$ 4,3 milhões em contas protegidas.
O diretor de Investigações da HP, Paulo Lino, que trabalhou na Polícia Federal no combate ao crime organizado, afirmou que 7% do comércio mundial hoje é de produtos piratas. ;Não estamos apenas falando de tinta ou toner falsos. Pirataria envolve corrupção;, disse. Segundo ele, o Brasil tem um cenário singular: 90% das apreensões de produtos falsificados da HP são feitas no país.
;Todos os insumos de impressão para fazer produto falsificado são brasileiros, desde o cartucho até a caixa, passando pela gráfica clandestina. O selo é uma das poucas coisas que, às vezes, vem da China. Por isso, quase não se têm apreensões na alfândega;, destacou. Lino revelou que os maiores compradores são órgãos públicos, porque os produtos são mais baratos e o critério é comprar pelo menor preço.
Um cartucho de toner vendido pelo preço de custo de um original dá 95% de lucro para o falsificador. Ao monitorar as licitações, se percebe que 90% dos fornecedores são falsificadores. E as empresas voltam a licitar mesmo depois de punidas porque os órgãos públicos não fazem a fiscalização;, alertou Lino.
De acordo com o especialista, a HP descobriu que o Ministério Público de um estado estava adquirindo produtos falsos de uma empresa punida até 2021 em três órgãos federais. ;Emiti 18 laudos de que a empresa entregou produtos falsos em 18 órgãos. Foi punida apenas em três;, ressaltou.
O investigador assinalou que a fraude ocorre no momento em que o fornecedor entrega o produto falso. Os criminosos tiram vantagem da burocracia da aprovação do segundo colocado ou da relicitação para continuar vendendo. ;Quando são pegos têm a cara de pau de dizer que são produtos importados, por isso são mais baratos. Tem que mostrar a autorização da importação? Senão é contrabando;, afirmou.
Pregoeiros presentes ao evento reconheceram a dificuldade de coibir as fraudes. Quando eles anunciam que a originalidade será verificada, metade dos fornecedores sai da licitação. ;Mas tem gente que não sai e que leva a amostra original e só fornece o produto falsificado, depois, na entrega de grandes volumes;, destacou Lino.
Lino alertou para utilização de CNPJs de fachada. ;Hoje em dia eles fazem até sites bonitinhos para dar visibilidade, mas se for conferir o endereço, pelo Google Earth mesmo, dá para ver que são endereços inexistentes;, disse o investigador. Há falsificadores que criam, inclusive, institutos de metrologia próprios. ;Eles emitem laudos como diferencial para ganhar concorrência;, alertou.
Uma grande dificuldade para os pregoeiros são os produtos remanufaturados, aqueles cartuchos reutilizados, porque são lícitos no Brasil. Até mesmo o clonado, que vende uma cópia fiel aos originais, é lícito.

Cargas roubadas

Outro grave problema do setor são as cargas roubadas de caminhões, conforme Fabio Barbosa, diretor de Prevenção de Perdas da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) e diretor de Segurança para América Latina da HP. ;O Brasil é o oitavo país no mundo mais perigoso para transportar carga, atrás de países em conflito armado, como Afeganistão, Iraque, Somália, Sudão, Síria, e 90% dos roubos se concentram na região Sudeste;, disse.
Fabio Barbosa, diretor de Supply Chain
As principais cargas roubadas são alimentos (40%), mas 7,6% são produtos de tecnologia, como celulares, impressoras, computadores e suprimentos, seguidos de tabaco (7,3%) e fármacos (6%). A perda anual estimada pela Abinee é de R$ 500 milhões por ano diretamente. ;Só que a perda indireta é três vezes maior, porque o fabricante vai ter que refazer o produto e enviar de novo para o comprador depois de ter sua carga roubada durante o primeiro transporte;, explicou.
Rio de Janeiro e São Paulo juntos somam 50 roubos de carga por dia, segundo Barbosa. ;Não à toa, a NTC Logística (entidade que congrega as transportadoras rodoviárias do país) anunciou que haverá um boicote em 21 de agosto para não transportar cargas no Rio;, disse. Para mitigar o roubo, a HP adota medidas como escolta, gerenciamento de risco e recursos tecnológicos. ;O problema é que a legislação para punir a receptação para roubo de carga é muito branda. No máximo quatro anos, e responde em liberdade;, lamentou.
Enquanto isso, os bandidos são cada vez mais eficientes. Em três minutos, revelou Barbosa, eles são capazes de abordar um caminhão e retirar 20 palets carregados. ;O índice de recuperação de cargada HP é de 85%, enquanto, segundo a Abinee, a média brasileira não chega a 15%;, destacou.

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