O custo de vida continua desacelerando em ritmo forte. Em julho, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,24%. Apesar de o resultado ter sido superior ao observado em junho, quando foi registrada uma deflação, ou seja, queda de preços, a alta do indicador nos últimos 12 meses recuou para 2,71%, informou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É a menor taxa nesse intervalo desde fevereiro de 1999.
[SAIBAMAIS]A queda da carestia reforça as expectativas de analistas do mercado financeiro de que o IPCA registrará neste ano a menor elevação desde 2006, quando o índice teve alta acumulada de 3,14%. É o caso da Rosenberg Associados, que projeta um avanço de 3,3%, e da Tendências Consultoria, que espera inflação de 3,8%. As previsões reforçam ainda a confiança do mercado de que o Banco Central (BC) continuará reduzindo a taxa básica de juros, a Selic.
Se forem concretizadas as previsões dos analistas, o custo de vida em 2017 ficará abaixo do centro da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 4,5%. O resultado acumulado em 12 meses até julho, por sinal, colocou a inflação abaixo do piso da meta, de 3%. É a primeira vez que isso acontece desde março de 2007.
Preços livres
A desaceleração da carestia está intimamente ligada à variação dos preços livres, que são determinados pelo princípio da oferta e demanda. No acumulado em 12 meses encerrados em julho, esse grupo registrou alta de 2,1%. É a menor variação desde abril de 2007. Para o economista sênior da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Fábio Bentes, não é mera coincidência.
;Há muitos nichos de deflação, principalmente nos preços livres;, destacou. O maior reflexo disso, enfatiza Bentes, é o índice de difusão, que mede a disseminação do custo de vida no mercado de bens e serviços. Em julho, essa taxa foi de 41,8%, o que significa que, de cada 10 produtos, apenas quatro apresentam alta de preços. É a menor proporção desde o início do Plano Real, em julho de 1994.
O bom comportamento dos preços livres está ancorado, sobretudo, nos gastos com supermercado. Em julho, os custos com alimentação e bebidas caíram, em média, 0,47%. O resultado foi positivo para contrabalancear as pressões inflacionárias dos grupos de habitação e transportes, que registraram alta de 1,64% e 0,34%, respectivamente.
A mudança da bandeira tarifária nas contas de energia elétrica e o aumento na alíquota do PIS/Cofins sobre a gasolina foram, individualmente, os principais vilões do mês e os principais focos de pressão. Que o diga o nutricionista André Paulo, 22 anos. ;A energia ficou muito cara. Ainda bem que o frio ajudou a eliminar a necessidade de ar-condicionado e ventilador;, disse.
Por mais que o custo de vida apresente sinais de desaceleração, André se sente pouco beneficiado com isso. ;Tudo aumentou, principalmente produtos alimentícios;, criticou, reclamando também da gasolina. Para driblar a inflação e poupar mais dinheiro, ele mudou alguns hábitos. ;Passei a andar mais de ônibus para não gastar tanto com gasolina e estou fazendo compras mensais em atacarejos;, explicou.
A percepção do nutricionista não é diferente da avaliação do policial Álvaro Alves, 35, que não notou uma significativa redução de preços nos alimentos. Para economizar, ele faz compras mensais e repõe com consumo semanal produtos necessários à medida que são utilizados. ;E quando compro, é sempre em dias de promoção;, afirmou.
Embora o choque inflacionário provocado pelo aumento da carga tributária sobre a gasolina possa ter significado o fim do processo de desinflação no acumulado em 12 meses, o analista Leonardo Costa, da Rosenberg Associados, acredita que isso não alterará o cenário de corte da taxa básica de juros pelo BC. ;A política monetária tem que focar onde ela tem efeito, que são os preços livres. Eles continuam desacelerando em ritmo forte;, avaliou.