Marlene Gomes - Especial para o Correio
postado em 14/08/2017 06:00
A produção brasileira de vinhos está concentrada na Região Sul, com boas experiências no Nortdeste, mas as fronteiras estão se expandindo. Na região do entorno do Distrito Federal, no município de Cocalzinho de Goiás, produz-se vinho de qualidade. O pioneirismo na vinicultura local é obra do sommelier Marcelo de Souza, que lançou os vinhos das marcas Bandeiras e Intrépido, reconhecidos como de alta qualidade por publicações especializadas, além do Terroir Pireneus, um vinho rosé produzido duas vezes por ano, na safrinha. Em 2014, foi produzido também o vinho Marcelo de Souza, um mimo para colecionadores para marcar a safra de excelente qualidade, com preço fixado em R$ 520.
O Bandeiras é um vinho especial produzido com uvas barbera, da Itália. O nome faz referência aos bandeirantes, desbravadores da região onde as uvas são cultivadas. O produto é vendido por R$ 140, a garrafa. Já o Intrépido, que custa R$ 170, é fabricado com uvas francesas syrah. O nome remete ao pioneirismo do vinicultor ao produzir vinho na região de cerrado.
Marcelo de Souza, que também é médico, fez pesquisas para encontrar o melhor local para iniciar o projeto de vitivinicultura na década de 1990. Até que encontrou uma propriedade de 3,3 hectares, em Cocalzinho de Goiás, que reunia as condições propícias para a produção de vinho. O terroir foi denominado Vinícola Pireneus e, em 2005, foi feito o primeiro plantio. ;Meu objetivo era produzir uvas viníferas com alto grau de maturidade e utilizá-las integralmente na produção de vinhos mais maduros;, explicou.
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Na primeira safra, em 2012, foram produzidos 4.500 litros da bebida. No ano passado, a produção atingiu 8 mil litros e, por enquanto, a capacidade é de 12 mil garrafas. A primeira área da fazenda tem 2.500 plantas por hectare, cada uma a uma distância de um metro e meio da outra.
Um projeto de expansão prevê a otimização da área, com o plantio de 5.000 mudas por hectare. O número de trabalhadores na fazenda chega a 20, contratados por temporada, de acordo com a atividade a ser realizada. Na época de colheita, em agosto e setembro, o total de empregados chega ao máximo. ;Produzir vinho é uma atividade muito especializada;, sentencia Souza.
Prêmios
Os vinhos brasileiros são considerados de qualidade. Os números das exportações para o mercado externo refletem a cada vez maior aceitação internacional da produção nacional, mesmo em mercados considerados bastante competitivos, como Estados Unidos, Europa e Ásia. Em 2016, as exportações cresceram 45% em relação ao ano anterior, totalizando US$ 5,9 milhões, segundo o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços. Também houve alta de 43% no volume comercializado, com 2,2 milhões de litros, e no preço médio do litro exportado, que passou de US$ 2,57 para US$ 2,61.
Na última década, os vinhos e espumantes brasileiros receberam cerca de 2,5 mil premiações em concursos internacionais, de acordo com a Associação Brasileira de Enologia (ABE). Mesmo assim, ainda não é o momento de muita comemoração, de acordo com o presidente do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), Dirceu Scottá. ;Por mais que as exportações de vinhos nacionais tenham crescido, o volume de vendas para o mercado externo ainda é pequeno;, analisou.
O Ibravin realiza diversas ações para impulsionar as vendas do produto brasileiro no mercado internacional. A entidade trabalha, sobretudo, em cima de um diferencial, ao promover o vinho nacional, em feiras e festivais, como um produto jovem, descomplicado, fácil e versátil, características geralmente associadas ao Brasil. Uma estratégia que vem dando certo é a indicação de vinhos brasileiros como alternativa para a harmonização com os pratos servidos em restaurantes e churrascarias de redes nacionais abertos fora do Brasil, principalmente nos Estados Unidos, o maior consumidor mundial de vinhos e segundo maior importador de vinhos brasileiros.
No mercado interno, em 2016 houve recuo de 18% nas vendas de vinhos e espumantes em relação a 2015. A quebra de safra, de 57%, a maior da história desde a década de 1960, foi um dos principais motivos do resultado negativo. O setor lista também como fatores para a retração interna o agravamento da crise econômica, o aumento de impostos e o desemprego, além da queda do poder aquisitivo das pessoas.
O cenário interno tem ainda mais um complicador: o consumo per capita anual de vinhos pelos brasileiros é de cerca de dois litros, quantidade estável há mais de uma década e bem inferior ao de países europeus. Nesse montante, está incluído o consumo de produtos nacionais e importados. Em Portugal, o consumo por pessoa é de 54 litros por ano. ;Nosso grande desafio é fazer o brasileiro consumir mais vinho. Não temos a cultura do vinho, como argentinos, chilenos e uruguaios;, diz o presidente do Ibravin.