Economia

Corte no orçamento prejudica fiscalizações e processos internos da Anatel

Conselho da agência só delibera sobre metade das matérias pautadas

Simone Kafruni
postado em 18/08/2017 06:00
Relatório vê desalinhamento entre a cúpula e a área técnica do órgão encarregado de regular as telecomunicações

A eficiência da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) despencou. E a falta de verba ; o orçamento equivale a 20% do executado em 1998, em valores atualizados ; é um dos principais motivos. Relatório da Ouvidoria da Anatel, assinado por Amélia Regina Alves, revelou que a taxa de deliberação de matérias em pauta nas reuniões do conselho diretor do órgão regulador, que já foi de 82,6% em 2013 e atingiu 76% em 2015, caiu para 55,4% no ano passado. Apenas 508 decisões foram tomadas, relativas a pouco mais da metade das 917 matérias pautadas.


A Ouvidoria explicou que uma matéria pode ser pautada mais de uma vez no mesmo ano e que a evolução tecnológica torna o processo de regulação cada vez mais complexo. No entanto, a mesma ouvidoria admitiu que ;falta alinhamento entre a alta cúpula da agência e a área técnica;, o que pode ser uma das muitas causas que resultaram na queda de eficiência da agência.

;O número chama a atenção pela impressão que a eficiência da resolução seja menor, mas não pode ser interpretado assim porque o processo decisório é complexo. O que pode estar ocorrendo é a falta de interação e entrosamento. Quando os relatórios sobem para o conselho, muitas vezes, voltam à área técnica e há retrabalho;, justificou a ouvidoria.

Os ouvidores reconheceram, contudo, que a redução na verba orçamentária da Anatel teve grande impacto no desempenho da agência. ;O contingenciamento deixou a situação caótica. A fiscalização ficou comprometida. O funcionamento da agência está seriamente prejudicado pela falta de recursos, que impacta todos os processos internos;, afirmaram. ;Os R$ 92,5 milhões gastos em 2016 representam apenas 20% do valor de 1998 atualizado;, revelou o relatório.

Além do mais, falta pessoal e requalificação dos quadros. Para a ouvidoria, os pilares do relatório levam em conta o relacionamento com os consumidores, o desempenho das empresas de telecomunicações e os processos internos da agência. O corte de recursos da Anatel, no entanto, afetou os processos porque o órgão não tem capacidade de investir em treinamento de pessoal ou em equipamentos de ponta para fiscalizar o setor. ;Dessa forma, um dos pilares deixou de cumprir seu papel. É necessário repensar todo o modelo;, ressaltou.


Capacidade

Os dados do relatório são alarmantes. Nas justificativas para o atraso no cumprimento das ações de fiscalização do ano passado, 407 foram por falta de recursos humanos, 240 por falha no dimensionamento de horas previstas, 230 por pendências na administração local e 196 por indisponibilidade de diárias e passagens. ;Apesar de a Lei Geral de Telecomunicações prever que a arrecadação deveria voltar para a própria agência, isso não ocorre;, lamentou a ouvidoria.

Os ouvidores ressaltaram ainda que, para os investidores terem interesse no setor de telecomunicações, é preciso uma agência reguladora eficiente, o que só será possível com recursos. Para a ouvidoria, a capacidade de atuação da agência está ligada diretamente ao orçamento, portanto ;o fortalecimento da Anatel passa pela alocação de recursos necessários para seu funcionamento;.

20%
Quanto representou o valor disponível para a agência, no ano passado, em relação ao orçamento de 1998, em valores atualizados

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