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Em todo o Distrito Federal são produzidos morangos, mas é na área rural de Brazlândia que está concentrada a maior produção. O ano atípico, com crise hídrica e racionamento de água, está dificultando a vida dos produtores. Para passar por essa fase difícil sem prejuízos, os agricultores locais fizeram o possível para garantir morango de qualidade, mas a área plantada foi reduzida e a produção da fruta foi 30% menor. Em compensação, os produtores implementaram técnicas para o uso racional da água e aprimoraram o manejo para evitar perdas. Brazlândia se mantém no topo da produção de morango da região Centro-Oeste e deve chegar a 3.675 toneladas em 2017, segundo estimativas da Empresa Brasileira de Assistência Rural (Emater-DF).
"Mesmo com o problema da água, ainda está valendo a pena plantar morango". A constatação é do agricultor Francisco Marques Andrade, 32 anos, proprietário de cinco hectares de terra no assentamento Betinho, na zona rural de Brazlândia. Em outubro do ano passado, o produtor refez cálculos e fez um novo planejamento para enfrentar a crise hídrica e assegurar lucro com a plantação de morangos. Francisco teve que diminuir a plantação para 35 mil pés, menos da metade do que plantou em 2016. E não foi somente por causa da falta de água. Houve majoração de preços em vários itens da cadeia produtiva do morango, como o do pé da fruta, que subiu R$ 0,20, passando de R$ 0,50 para R$ 0,70.
Os morangos de Francisco já têm destino certo. A maior parte da colheita vai diretamente para a Feira do Produtor na Ceasa. A bandeja, contendo quatro caixas com 300 gramas do fruto, é vendida por R$ 10 no atacado. Com 5% da produção, composta pelos morangos menores, é feita a polpa, vendida, geralmente, para lanchonetes, bares e restaurantes por R$ 3,50 o quilo. "Compensa plantar morangos, porque a gente consegue um preço muito melhor do que qualquer hortaliça. A venda também é mais fácil. O problema é que os atravessadores triplicam o preço cobrado ao consumidor", analisa.
Adaptação
Como a realidade da produção é adversa em função da crise hídrica, o foco do trabalho da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater-DF) tem sido proporcionar informações ao agricultor para garantir a adaptação ao cenário de racionamento de água. No início do ano, a empresa realizou o Censo dos Irrigantes, um levantamento para identificar quantos produtores usam sistema de irrigação, periodicidade de uso e até mesmo se têm autorização dos órgãos competentes para utilizar o sistema.
"O estudo serviu de base para o Plano de Adequação de Irrigação e para a implementação de várias ações, entre elas o ensino de técnicas para o manejo do solo e de adequações para sistemas mais eficientes", explica o engenheiro agrônomo, Rodrigo Teixeira Alves, extensionista rural e gerente da Emater Brazlândia.
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Desde o ano passado, a Emater vem realizando encontros com os produtores de Brazlândia, o que Rodrigo Teixeira Alves define como "ação negociada", uma iniciativa para conscientizar os agricultores sobre o uso racional da água, incentivar a utilização do reservatório e treiná-los em práticas mais sustentáveis e econômicas. A ação envolve também outros órgãos do Distrito Federal, como a Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Agência Reguladora de Águas e Saneamento (Adasa) e Companhia de Saneamento Ambiental (Caesb).
Em junho passado, a empresa realizou mais uma oficina de manejo da irrigação, desta vez no núcleo rural Alexandre de Gusmão, em Brazlândia. No encontro, foram abordados temas para ajudar os agricultores rurais a adotarem práticas mais econômicas. Os produtores aprenderam sobre uniformidade de irrigação por meio da eliminação de vazamentos, troca de bicos de aspersores e de motobombas, e tiveram treinamento para a construção e instalação do Irrigas Caseiro, um equipamento que indica quando o agricultor deve irrigar a lavoura e quanta água usar, permitindo, assim, a redução do desperdício e o aumento da produtividade. "Nas oficinas, detalhamos as formas de racionalizar o uso da água. É um trabalho de formiguinha", diz Rodrigo Alves.
Além de provocar a adequação da produção do morango em Brazlândia e no Distrito Federal, a restrição no uso da água reduziu a área plantada. No entanto, a seca não influencia na qualidade da colheita. "Quem plantou está conseguindo administrar os problemas, que são diversos, mas pontuais", conclui Rodrigo.
Lado cruel
O lado mais cruel da desaceleração na produção de mercado de morangos do DF é a diminuição do número de trabalhadores envolvidos direta e indiretamente com a atividade, além da queda na renda das famílias. O declínio do emprego e dos rendimentos foi real no maior polo produtor do DF este ano. Em 2010, 194 agricultores produziram 5 mil toneladas em uma área total de 150 hectares, movimentando 1,5 mil empregos indiretos. Dois anos depois, em uma área que totalizou 193 hectares e com quase 100 produtores a mais, a produção local atingiu a expressiva cifra de 6,5 mil toneladas de morango e quase 2 mil trabalhadores indiretos.
A safra do ano passado chegou a 5.250 toneladas, produzida por 250 agricultores. Em 2017, com a expectativa de produção 30% menor, diminuíram também as contratações de mão de obra, principalmente para o trabalho intenso de colheita, realizada em agosto e setembro. "Eu tinha seis pessoas me ajudando, mas fiquei só com duas. Quando a produção diminui, tudo cai junto", resume o agricultor Francisco Marques Andrade.
Racionamento
A restrição no abastecimento de água provocou a redução da área plantada em cerca de 30%, de 150 hectares em 2016 para 105 hectares este ano. A produção de 2017 também caiu 30%. No ano passado, atingiu 5.250 toneladas. A expectativa é de que chegue a 3.675 toneladas este ano. A consequência é a redução média de R$ 8 milhões no Produto Interno Bruto (PIB) do morango.